ENTREVISTA

'Desonestidade Intelectual', responde Danilo Cabral à crítica de Bolsonaro a Paulo Câmara

Publicado em: 05/04/2021 19:07

 (Foto: YouTube/Reprodução)
Foto: YouTube/Reprodução
Em entrevista ao Manhã da Clube nesta segunda-feira (5), o líder do PSB na Câmara dos Deputados, o deputado federal Danilo Cabral, criticou o presidente Bolsonaro (sem partido) pelo compartilhamento de um vídeo que faz alusão ao governador Paulo Câmara (PSB) usando, segundo Danilo, notícias falsas para atacar o governador de Pernambuco. 

“Foi da parte do Governo Federal uma desonestidade intelectual o que foi dito”, afirmou o deputado. O vídeo compartilhado pelo presidente menciona o estado sobre a gestão de recursos na pandemia, dizendo que foram repassados para o governo de Pernambuco um quantitativo de R$ 40 bilhões, e que esse valor não estava sendo utilizado de maneira correta. “O que foi repassado, o que se fala, são recursos e transferências obrigatórias constitucionais, não depende da decisão do presidente passar”, rebateu Danilo.

O deputado aproveitou a ocasião para questionar o presidente Bolsonaro sobre o repasse de recursos. Segundo Danilo, os estados e municípios arrecadaram de impostos R$ 1,45 trilhão, mas o presidente repassou apenas R$ 840 bilhões. “Onde estão os outros R$ 642 bilhões que ele recebeu e não repassou de igual?”, questionou.

O parlamentar também lamentou que, neste momento de pandemia, notícias falsas circulem com facilidade pelo governo federal.“Não dá para a gente, em um momento de tanto sofrimento para a nossa gente, ainda ficar soltando informação que não corresponde à verdade”, comentou o deputado. Para Danilo, esse tipo de posicionamento por parte do presidente é a causa dos questionamentos internacionais sobre a gestão no Brasil. “O presidente, infelizmente, tem uma limitação de compreensão, inclusive o que representa a própria federação”, afirmou.

Paulo Câmara já havia respondido ao ataque do presidente, chamando a postagem de “fake news”. “Infelizmente, de alguém que trata a dor do outro como mimimi e o luto como fraqueza, não se pode esperar muito”, comentou. Além disso, o governador rebateu, dizendo que o Brasil iria superar a pandemia, apesar do negacionismo do Governo Federal. “Em lugar de disseminar fake news, por que não assumir suas verdadeiras atribuições e fazer parte do enfrentamento à pandemia?”, questionou o governador.

Cuidados na pandemia
Segundo Cabral, a partir do falecimento do senador Major Olímpio (PSL-SP), terceiro senador que faleceu de Covid-19, o sistema remoto ganhou mais força. “É a forma da gente contribuir para reduzir os danos da pandemia”, comentou o deputado. “A gente vem trabalhando daqui de Pernambuco, mas participando diariamente das atividades no Congresso Nacional”, explicou o parlamentar. 

Pedidos de Impeachment 
“Do ponto de vista jurídico, não há dúvidas do conjunto de crimes praticados pelo presidente desde 2019”, afirmou Danilo. Para o deputado, o principal crime do presidente foi a questão do enfrentamento da pandemia. “Atuar de forma pessoal contra a política de isolamento”, argumento. O parlamentar ponderou que alguns dos processos são de natureza política, mas a maioria tem fundamento jurídico. Ele aponta que o andamento do processo vai depender da pressão sobre o Congresso.

Crise no Brasil
O deputado declarou que a situação da população brasileira é bem difícil. “O Brasil vive hoje uma profunda crise, na verdade um conjunto de crises, mas a principal delas aprofundada pela pandemia. Temos hoje 10 milhões de brasileiros que estão na extrema pobreza, 40 milhões na pobreza… Que esperaram, inclusive, neste momento uma renovação ou um gesto de proteção social no processo do auxílio-emergencial”.

Relação do Centrão com o governo
Danilo Cabral argumenta que o Centrão sempre esteve presente nos governos brasileiros. “A posição que o Centrão vai adotar eu acho que vai ser muito calibrada em função da pressão externa. Claro que enquanto isso não chega esse bloco se movimenta, como se movimentou agora na arrumação do governo Bolsonaro. Quanto mais frágil a posição do governo, mais forte fica o Centrão”, analisa. 

Candidatura da esquerda à presidência 
O deputado alerta que ainda é preciso pensar em 2021 antes da eleição. “Acho que temos duas etapas no caminho até 2022. Nesse primeiro momento, neste ano, temos que procurar separar o ambiente eleitoral. Temos desafios muito grandes, de fazer o enfrentamento ao governo. A despeito de sermos partidos diferentes, nós temos pontos de convergência que precisamos trabalhar”.

Possibilidade de uma frente ampla
“É inegável que a volta do ex-presidente Lula ao jogo altera a estratégia de muitos partidos. O que vai acontecer com os outros partidos de esquerda? O que todo mundo sonhava e não pode ser descartado, é a construção de uma frente ampla. E para evitar uma nova vitória de Bolsonaro, é não repetir o que aconteceu em 2018.. Essa unidade política pode tentar construir um palanque mais amplo ou pode ser em palanques diferentes”.

PSB
“O PSB tem um planejamento que vem lá atrás, desde Eduardo Campos, de se apresentar como uma alternativa própria. Eduardo foi candidato até no sentido de romper a dicotomia entre PT e PSDB. Um partido que tem presença nacional nada mais natural do que se busque se apresentar. Eu defendo que o partido, neste momento, continue a fazer sua discussão interna e buscar uma pessoa que represente esse pensamento”.

Lula
“O ex-presidente Lula, tendo condições de elegibilidade, tende a zero ele não ser candidato. E acho sinceramente, que é importante que seja, porque é um momento de dar uma oportunidade para que ele também possa colocar a sua versão da leitura dos fatos.. Acho que nós precisamos ter diálogo sim. Como falar em uma frente ampla sem estabelecer um diálogo com o maior partido de esquerda do Brasil?”

Reforma eleitoral
“Tenho uma posição muito clara de preservação da proporcionalidade. O que está sendo discutido nesse Congresso, a tese do chamado ‘distritão’ é uma tese que se vende fácil, mas nem sempre corresponde à verdade. Na prática, isso significa você desmontar o sistema partidário. Não existe democracia sem partidos políticos. O erro que temos é flexibilizar demais as regras de constituição de partidos políticos”.
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