Insatisfação com o desempenho morno nas eleições municipais; expectativas com os frutos que podem, ou não, colher das alianças firmadas; e atritos derivados da briga pela sucessão da presidência da sigla. Tal clima entre as lideranças nacionais e estaduais do PT, passado o pleito de 2024, pode ser a faísca inicial para uma mudança de chave dos petistas para 2026.
A legenda performou abaixo do ideal nas urnas este ano. Em números absolutos, o PT faturou 252 prefeituras, um crescimento se comparado a 2020. Mas o dado é uma melhora superficial que esconde um cenário delicado. Ao todo, venceram em somente uma capital - Fortaleza, no Ceará - e apenas em seis cidades com mais de 200 mil habitantes no país.
O resultado chegou a ser criticado publicamente pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que apontou a necessidade da legenda se reavaliar para sair do ‘Z4’, como são chamados os últimos colocados nos campeonatos de futebol.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PT), criticou o posicionamento, afirmando que o ministro deveria “focar nas articulações”.
Nos bastidores, o embate é tido como um novo capítulo da ‘dança das cadeiras’ pela sucessão da presidência do PT. Padilha e Hoffmann apoiam nomes distintos ao cargo, e o ministro tem colocado a liderança dela em xeque aos filiados. O desempenho no pleito e a falta de alianças com o centrão seriam exemplos.
O indicado de Hoffmann, o deputado cearense José Guimarães (PT), não é visto com muitas chances entre os filiados. Nomes como Padilha, Fernando Haddad e José Dirceu emplacam o prefeito de Araraquara e ex-ministro de Dilma, Edinho Silva (PT).
Sob uma possível liderança de Edinho e seu grupo político para 2026, o PT pode se distanciar dos partidos de esquerda em prol de articulações com o centrão e outras legendas fisiológicas, a exemplo do União Brasil, potência no parlamento, e o PSD, campeão de prefeituras.
O cientista político Hely Ferreira analisa que a cisão entre diferentes alas do partido não é novidade para os bastidores do PT, e se tornou parte natural da configuração estratégica da legenda.
“O PT sempre foi um partido de muita divisão, e as tendências muitas vezes atrapalham o melhor desempenho da legenda. O PT teve brigas internas constantes, e às vezes a é tão forte que eles sacrificam o sucesso eleitoral nas urnas em nome da predominância de determinada tendência”, afirmou Ferreira.
Mudança de horizontes
A efetividade desse pragmatismo em Pernambuco é incerta, mas é consenso entre lideranças petistas estaduais que o momento é de observar com cautela se as alianças firmadas durante a corrida eleitoral valerão a pena ser mantidas.
Tal ‘mudança de chave’ poderia ser representada no Estado com a debandada petista para a base da governadora Raquel Lyra (PSDB), que há meses busca aproximação com o Governo Lula. E os flertes entre a tucana e os parlamentares e ministros do PT vêm ficando cada vez mais frequentes desde que a sigla perdeu a vice do prefeito do Recife, João Campos (PSB).
E apesar da força do socialista na Região Metropolitana do Recife, os candidatos governistas dominaram as urnas interioranas, enquanto o PSB perdeu 22 prefeituras.
A muito especulada mudança de Lyra para o PSD poderia selar o acordo, mas a governadora já começou a abrir espaço para os petistas em sua gestão. Na última sexta-feira (8), nomeou Maurício de Josué (PT) como novo diretor do Prorural.
O ex-candidato a prefeito de Águas Belas é próximo do dirigente do PT em Pernambuco, o deputado estadual Doriel Barros, e do deputado federal Carlos Veras (PT).
Avaliações internas
Para o deputado estadual João Paulo (PT), o catalisador de uma mudança seria justamente a contemplação do PT na composição do secretariado do segundo mandato de João Campos, mas a independência também é uma opção.
“É importante pensar no futuro. Vai depender muito das acomodações partidárias se o PT vai se separar da Prefeitura do Recife, e se vai participar da ‘questão Raquel’, do movimento que ela vem fazendo em aproximação e reconhecimento do Governo Lula e das pautas sociais”, declarou o parlamentar.
Apesar disso, João Paulo prioriza o aumento da representatividade em Brasília. “É importante garantir a reeleição de Humberto (Costa, Senador) e aumentar nossa bancada”, completou.
O senador Humberto Costa (PT), por sua vez, enxerga pós-eleição para além dos números de municípios conquistados, e mantém confiança na atual direção do partido.
Apesar de ter vencido somente seis prefeituras e perdido em colégios eleitorais estratégicos, como Olinda e Jaboatão dos Guararapes, o PT garantiu palanques importantes para o projeto nacional de Lula em 2026 através das siglas aliadas.
“Lula deve ter um suporte político considerável em termos de prefeitos que elegemos ou apoiamos, e de movimentos sociais. Estamos bem situados em termos de força e apoio à candidatura de Lula em 2026”, garantiu o senador.
Humberto reconhece, no entanto, que o nome de Lula em Pernambuco tem um poder próprio independente do partido, por mais que os considere “indissociáveis”.
“Lula foi o criador do PT, é a nossa principal liderança, tem papel importante nas decisões que o partido toma. Pode se dizer que o lulismo hoje é maior que o PT, mas é contraditório. Lula e PT são a mesma coisa”, declarou.
O dirigente estadual Doriel Barros espera que as alianças dêem frutos, pois o partido deseja compor uma gestão para apresentar seus projetos para o Estado, mas a prerrogativa é dos gestores, restando aos petistas terem paciência ao mover suas peças.
“Vamos trabalhar para poder mostrar a força que o PT tem aqui no Estado, independente de estarmos ocupando espaço. Não é isso que vai diminuir a força e a mobilização da militância petista em um projeto que temos para o futuro. Queremos estar num governo para contribuir”, afirmou Barros.
“Vamos saber se valeu a pena se em 2026 esses aliados estiverem somando conosco no projeto do presidente Lula. Trabalhamos com essa perspectiva”, disparou
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