Vida Urbana

Por trás de cada paciente com doença rara, famílias ainda mais raras

Aliança das Mães e Famílias Raras (Amar) surgiu em agosto de 2013 para da voz e suporte aos raros de Pernambuco

Aliança atende, diretamente, 420 famílias. Contando com demais parentes e irmãos, são 1,6 mil beneficiados. Foto: Amar/Divulgação

Por trás da ausência de políticas públicas de incentivo à pesquisa e treinamento especializado para atendimento de pacientes raros, a realidade cai nos ombros de anônimos ainda mais raros sem pedir licença. São homens e mulheres que abdicam das próprias vidas em nome dos filhos. Para cuidar dessas famílias, em agosto de 2013 surgiu a Aliança das Mães e Famílias Raras, a Amar.

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"A Amar surgiu para dar voz aos raros em Pernambuco e cuidar de quem cuida, as mães e parentes. Não é fácil lidar com uma doença rara. Não há um preparo social para essas famílias, elas são abandonadas e esquecidas pelo poder público. O impacto das enfermidades vai muito além do que se vê", pontua a presidente da Amar, Pollyana Dias. Em 70% dos casos, os casamentos acabam e as mães cuidam dos filhos sozinhas, segundo a Amar.

"Se formos focar nos atendimentos, sabemos que não há. Estamos com grande esperança num pleito antigo da Amar, que é o Centro de Referência. Nem todo mundo tem condição de viajar para o Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul em busca de diagnóstico. É muito complicado para famílias de baixa renda. Além de cuidar dessas famílias, também pressionamos para a adoção de políticas públicas que nos tirem da invisibilidade", defendeu.

Luana Perrusi faz parte da Aliança. Sua doença rara é a hiperecplexia, que acarreta contrações involuntárias diante de estímulos sonoros. Foto: Amar/Divulgação

Pollyana Dias também é uma mãe rara. Seu filho tem a Síndrome Cri-Du-Chat, considerada de grau raríssimo. "Por conta da falta de assistência em diagnóstico, procurei ajuda em outras famílias para formar o coletivo", lembra. No espaço, instalado em Boa Viagem, são oferecidas diversas atividades, a principal delas é o fortalecimento da sensação de pertencimento social. "A mulher é a principal pessoa nesse cenário, ela é cuidadora 24h e vive num mundo solitário. Aqui, ela começa a exercer sua cidadania plena novamente", detalhou.

A Aliança, que hoje atende 420 famílias diretamente e 1,6 mil pessoas, considerando demais parentes, oferece atendimento jurídico, fisioterapia, psicólogos e atendimento odontológico para os pacientes através de parcerias com a Uninassau e Faculdade Guararapes, além de disponibilizar cursos de empreendedorismo dentro do Programa Mães Produtivas, que oferecem a possibilidade de reinserção no mercado de trabalho dentro das limitações causadas pelos cuidados com os filhos. No grupo, também são ofertadas bolsas de ensino nas universidades parceiras. "Nós vemos o resultado na transformação da vida dessas pessoas, mas nossa maior luta agora é transformar a Amar em uma Organização Social para que possamos firmar convênios e receber também uma contrapartida do governo para ajudar ainda mais essas famílias", adiantou Pollyana Dias.

PROGRAMAÇÃO

Gabriel tem a Síndrome de Rubinstein-Taybi, que é caracterizada pela deficiência mental, dedos das mãos e dos pés largos, baixa estatura e má-formações associadas. Tem prevalência de 1 em 250.000 nascidos vivos. Foto: Amar/Divulgação

Dentro das atividades do Dia Mundial das Doenças Raras, que, oficialmente, é celebrado no dia 29 de fevereiro, data rara por só acontecer em anos bissextos (a cada quatro anos), desde a semana passada, a Amar realizou uma série de atividades. A programação começou no dia 21 de fevereiro com as famílias assistidas pela associação em todo o estado e foi encerrada nesta quarta.

Um seminário para capacitar profissionais de saúde no atendimento de pessoas com doenças raras foi realizado no último dia 23. O evento foi aberto para médicos e demais profissionais da saúde do estado, município, associações e também de planos de saúde. Nesta quarta, pela manhã, houve uma ação de conscientização na Praça do Carmo, no Recife. À tarde, às 15h, as mulheres pintaram os rostos de rosa, verde e azul e fizeram um ato público na Praça do Derby. Acendendo velas e com balões, elas lembraram os pacientes que morreram por falta de diagnóstico.

Aliança das Mães e Famílias Raras - Amar
Rua Almirante Nelson Fernandes, Boa Viagem - Recife
Fone: (81) 3462-6444

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