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Empresário do Recife desaparece com investimento em bitcoin de mais de 20 pessoas
Médicos de Pernambuco e outros estados perderam dinheiro investido sob intermédio de empresário que seria viciado em jogos
O Diario conversou com dez pessoas que afirmam ser vítimas do empresário, sendo oito pernambucanos e dois paraibanos. Desses, sete eram médicos, dois administradores e um autônomo. Os valores investidos por eles variam entre R$ 50 mil e R$ 600 mil. “Durante a semana, ele deixou de atender o telefone e responder às mensagens. Só me dei conta de que era um golpe quando recebemos um comunicado”, disse o médico Luan (nome fictício), de 37 anos, que depositou R$ 120 mil na conta do empresário.
Além de ser filho de um médico conhecido pela maioria das vítimas, o empresário apresentava números e informações sobre o mercado que atuava. Um contrato era assinado entre ele e os clientes. No começo da semana, ele teria divulgado um comunicado aos investidores. “Bastante consternado, informo-lhes que, ante as variáveis do mercado financeiro, em especial ao risco das operações que as cercam, houve atrasos nos repasses dos saques, entre outros inconvenientes”, dizia a nota enviada.
Como conheciam o pai do consultor financeiro, muitos médicos o procuraram e tiveram outras respostas. “Fomos informados de que ele, que cuidava de parte do nosso dinheiro, era viciado em jogos e teria perdido toda a quantia investida pelos clientes. Ficamos sabendo que não está foragido, mas que estaria internado em uma clínica psiquiátrica. Queremos respostas concretas e nosso dinheiro de volta, por isso procuramos a polícia”, disse o autônomo João (nome fictício), 36.
A Polícia Civil informou que instaurou inquérito policial para “apurar a responsabilidade criminal de um jovem empresário, que seria corretor de ações e que fazia proposta de investimentos e gerenciamento de valores na moeda bitcoins. Ocorre que algumas pessoas que realizaram o investimento estão sentindo-se lesadas, por não conseguir mais contato com o agente financeiro”. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão ao Estelionato, que não divulgou o nome do suspeito. O delegado Romulo Aires está a frente das investigações. Segundo ele, “ainda é cedo para falar em golpe”. O número de denúncias deve aumentar nos próximos dias, de acordo com as vítimas, pois, segundo elas, mais de 20 pessoas foram lesadas e devem procurar a Polícia até a próxima semana.
Alternativa ao sistema financeiro
O bitcoin foi a primeira criptomoeda criada. Surgiu em 2009 e, desde então, outras tecnologias semelhantes foram desenvolvidas. De acordo com o co-fundador da Bitjá, uma startup de compra e venda de criptomoedas, Victor Cavalcanti, o código do bitcoin é aberto. “Com isso, outras foram sendo criadas e mudadas em alguns aspectos. Hoje, existem várias criptomoedas”, afirmou. “Imagine que no seu computador você tem um arquivo de Word. Ele é virtual, não existe no mundo físico, mas você pode copiar e passar para quantas pessoas quiser. A criptomoeda é como esse arquivo no sentido de existir no mundo virtual. No entanto, diferentemente do arquivo Word, é impossível de ser copiado.”
Assim, quando o bitcoin é enviado, quem o remeteu perde o controle sobre ele. “Outra característica é que o mercado determina o seu valor. É uma forma fora do sistema tradicional financeiro de transacionar valor. Uma das diferenças (em relação ao sistema tradicional) é que a taxa para mandar qualquer valor é igual. Não importa se R$ 10 ou um milhão. Se para o Recife ou para o Japão”, esclareceu. “Onde estou colocando o meu dinheiro é a primeira questão que uma pessoa deve responder quando quer investir. Se você não possui a senha, o bitcoin não é seu”, completou Cavalcanti.
O consultor do BitRecife Marcos Vinícius Moraes enfatiza que a primeira dica para quem quer investir com segurança nesse mercado é procurar empresas estabelecidas. “É preciso procurar empresas com credibilidade e não se aventurar com pessoas sem escritório, site e CNPJ ativos, por exemplo. Nas empresas sérias, a conta é no nome do cliente. É necessário ainda ter cuidado com promessas irreais de riqueza. Não invista seu dinheiro em empresas que prometem ganhos extraordinários e lembre-se que só você é o responsável pelo seu investimento, pelos seus criptoativos”, pontuou.
O bitcoin é uma criptomoeda, isto é, um ativo digital que não tem correspondência no mundo real
As criptomoedas são geradas por um algoritmo de computador
A criação do bitcoin, em 2009, foi feita em uma lista de criptografia por Satoshi Nakamoto
A gestão do estoque global da moeda é feita por meio da tecnologia de blockchain
A estrutura compartilhada na internet dos registros de transação torna a moeda não rastreável
Por não ter contrapartida real nem autoridade monetária para garantir seu valor, o Bitcoin vale o quanto as pessoas acham que vale
Em janeiro de 2017, a criptomoeda valia R$ 3 mil no mercado brasileiro
No fim de 2017, quando a euforia atraiu muitos investidores, a cotação se aproximou dos R$ 65 mil
Em todo o ano de 2018, o bitcoin acumulou perdas de 73% após autoridades norte-americanas passarem a investigar supostas fraudes e irregularidades do setor
Em janeiro deste ano, a criptomoeda estava sendo negociada a R$ 14,9 mil
Perder bitcoins é mantê-los perdidos para sempre, pois não há nenhuma maneira de alguém encontrar a chave privada que lhes permitiria serem gastos
Isso aconteceu no último dia 5, quando o dono de uma corretora de criptomoedas morreu e acabou bloqueando, com isso, centenas de milhões de dólares em moedas virtuais dos clientes
Ele era a única pessoa a ter acesso a cerca de R$ 700 milhões em criptomoedas, e a senha acabou se perdendo com a morte
O Recife é considerado a capital do Nordeste em transações de criptomoedas. No país, fica atrás apenas de São Paulo