Brasil Holandês
Entenda a história do boi voador, espetáculo que será encenado hoje no Marco Zero
Por: Anamaria Nascimento
Publicado em: 17/03/2019 10:17
Foi na Cidade Maurícia (Mauritsstad, em holandês) onde ele mandou construir a Ponte do Recife, atual Ponte Maurício de Nassau. De lá, a população viu o “boi voar”. Antes da inauguração da primeira ponte de grande porte do Brasil, o conde divulgou amplamente que um boi voaria no local. O objetivo era ter um público grande e arrecadar dinheiro com a cobrança de pedágios para amenizar o prejuízo no orçamento no projeto. No dia do evento, 28 de fevereiro de 1644, o administrador cumpriu com o que prometeu. A versão mais aceita pelos historiadores sobre o fato é a de que foram usadas cordas e roldanas para fazer um boi empalhado passar de um lado para o outro da ponte.
O historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) George Félix explicou que apesar de o período de domínio holandês ter durado apenas 24 anos, marcas e memórias profundas permanecem. “O Recife era um povoado acanhado quando Nassau a transformou em uma verdadeira cidade. Um dos feitos nesse processo de urbanização foi a construção de pontes, sobretudo a que ligaa o atual Bairro do Recife ao bairro de Santo Antônio. A obra foi muito cara. Para concluir, o nobre alemão tirou dinheiro do próprio orçamento. O convite à população para ver o boi voar foi uma forma de recuperar gastos por meio da cobrança de pedágio”, afirmou.
“Um belo país que não tem igual sob o céu.” Essa teria sido a primeira frase de Maurício de Nassau ao desembarcar em território brasileiro. Há 382 anos, quando o Recife tinha 100 anos, Nassau chegou ao Recife para governar o Brasil Holandês. Apesar de ter vindo como representante do governo holandês, era um alemão protestante. Ainda hoje, muitos pernambucanos mantêm uma paixão platônica pelos holandeses e acreditam que o estado viveria dias melhores se os neerlandeses não tivessem sido expulsos. O saudosismo encontra justificativa na lista de feitos do alemão.
História contada de geração em geração, o voo do boi virou até tema de uma das canções do musical Calabar - o elogio da traição, de Chico Buarque. “Quem foi, quem foi que falou do boi voador? Manda prender esse boi, seja esse boi o que for. O boi ainda dá bode. Qual é a do boi que revoa? Boi realmente não pode voar á toa. É fora, é fora, é fora, é fora da lei, é fora do ar. É fora, é fora, é fora, segura esse boi. Proibido voar”, diz a letra de Boi voador não pode.
Programação
O espetáculo teatral O boi voador será encenado a partir das 18h e encerra os festejos pelos 482 anos da cidade. Atores apresentarão momentos do Brasil Holandês na sacada de edifícios, como o prédio do antigo Centro Cultural Santander, no Boulevard Rio Branco, na Caixa Cultural e no Marco Zero.
Além do bovino alçando voo, vai ter boi desfilando pelas ruas do bairro histórico, que recebe as celebrações do Dia Municipal da Cultura dos Bois do Recife, com cortejo de seis bois, promovido pela Federação Cultural dos Bois e Similares de Pernambuco (Fecbois) e apoio da Prefeitura do Recife.
A partir das 16h, os bois Malabá, Mimoso, Faceiro, D’Loucos, de Mainha e de Tatata percorrerão o bairro acompanhados da Frevioca. A concentração dos bois será a partir das 14h, no Marco Zero, na esquina com a Avenida Marquês de Olinda. O cortejo seguirá em direção à Praça da Independência, pela Ponte Maurício de Nassau.
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