ENTREVISTA/ Danielle Marinho

Entenda o porquê do idoso precisar ser resguardado

Publicado em: 17/03/2020 08:32 | Atualizado em: 17/03/2020 12:55

 

 (Danielle Marinho/ Arquivo pessoal)
Danielle Marinho/ Arquivo pessoal

 

ENTREVISTA/ Dra. Danielle Marinho

Geriatra e professora de Clínica médica da UPE

 

Por que o idoso é mais vulnerável?

Porque a maioria dos idosos tem uma ou mais doenças crônicas. É raro um idoso sem doença crônica, como hipertensão, diabetes, doenças pulmonares, câncer. Aí, o que acontece? Qualquer infecção, seja viral ou bacteriana, descompensa doenças que o idoso já tem. Dessa forma, fica o sistema imune mais vulnerável não só para o coronavírus, mas para qualquer vírus, inclusive para uma gripe comum. No final das contas, pode ser que o idoso nem morra do coronavírus; morra de uma pneumonia, de uma descompensação do diabetes, de uma doença cardíaca. E existe um escalonamento do risco para o idoso? Sim. Quanto maior a idade, a imunidade é alterada e a vulnerabilidade também.

 

Como as famílias devem proteger o idoso neste momento?

É importante que a família se preocupe com a prevenção. Que evite levar o idoso para lugar de aglomeração, como shopping, cinemas, teatros, grandes supermercados ou missas. É prudente que se evite visitas de netos e familiares que estiverem com qualquer tipo de doença respiratória aguda, como gripe e resfriado. O recomendado é que se evite contato íntimo dos avós e netos porque crianças não têm entendimento para reduzir o contato, como abraço e colos. E abraços e beijos devem ser evitados. Claro, não se pode generalizar e padronizar; visita pontual de netos em final de semana, pode. É saudável. Ninguém sabe como vai terminar esse período, pode demorar meses, e os idosos não podem ficar totalmente isolados. Mas, com a suspensão das aulas, as famílias precisam buscar alternativas para casos em que idosos são cuidadores. Neste momento, esta é uma estrutura que não tem o menor sentido.

 

Então, a senhora recomenda o isolamento?

Sim, um isolamento domiciliar preventivo. Neste momento, o idoso deve ficar em casa por precaução. E medidas de segurança no contato, quais são indicadas? Evitar o contato mais íntimo com todos pelo risco dos portadores assintomáticos, mantendo sempre uma distância acima de um metro. Outra parte importante é quanto à higienização bem feita das mãos - na palma, dorso e unhas - e repetir sempre que tocar em objetos. É mais importante que o uso do álcool. Não esquecer da higienização do celular também.

 

E como lidar com cuidadores, sejam eles contratados ou da própria família?

Se o cuidador for cuidador familiar e estiver doente, aí nesse caso o idoso deve ser isolar, sim. Recomendamos uma distância de um metro e meio do doente. Se for um funcionário, orientamos que seja afastado da casa do idoso. A recomendação de afastamento para aqueles que entram em critérios de infecção respiratória seria de 14 dias para avaliar se há sintomas de coronavírus. Se for uma gripe simples, o afastamento deve durar até o fim dos sintomas, que, geralmente, é de uma semana.

 

E o idoso deve manter tratamentos ou terapias de saúde?

Não é recomendado parar tratamentos. Quanto mais parado, mais debilitado funcionalmente o idoso ficará. Aí a gente tem a reserva funcional nos processos de adoecimentos, então não é negligenciar tudo. Estamos falando de uma proteção à exposição em ambientes com risco maior.

 

Mas, se o idoso vai para uma aula de pilates ou outra terapia na rua, o risco não seria grande?

Aí vai depender do serviço de saúde. Depende do tamanho do consultório, do número de atendimentos. O ideal seria optar por atendimento domiciliar, se possível. Agora, o idoso deve evitar ir a um serviço de saúde maior. Por exemplo, se houver uma gripe, um sintoma menor, não é recomendável que se leve o idoso para uma grande emergência porque o risco será maior que o benefício. A não ser que tenha sinal de gravidade.

 

Pensando numa pandemia alastrada no Brasil, imagina-se que seja necessária uma estrutura de suporte muito maior para atender ao idoso. Isso lhe preocupa? Sim. Como temos uma quantidade limitada de UTI, isso realmente preocupa. Mas a gente aprendeu muito com a experiência de outros países. Estamos vendo uma vigilância do Ministério da Saúde e dos estados e estamos preparados com diagnóstico rápido, profissionais referenciados e as pessoas estão sendo bem assistidas. O temor é a disseminação, por isso o cuidado com a prevenção porque uma coisa é lidar com poucos casos; outra coisa é ter de dar assistência à grande quantidade. Claro, a gente fica sem saber se vai dar conta pela limitação que a gente sabe que nosso sistema de saúde tem.

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