“Esse acompanhamento da presença do genoma viral pode fornecer informação sobre a prevalência da Covid-19 na população da área pesquisada, incluindo os assintomáticos e subnotificados pelo sistema de saúde, ou seja, seu foco é a coletividade”, explica a pesquisadora Lourdinha Florêncio, que é uma das coordenadoras do projeto vinculado ao Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFPE.
O monitoramento, que ocorreu de maio a agosto do ano passado, apontou a relação entre o volume de carga viral encontrado nos esgotos e os registros de pessoas contaminadas pela Covid-19. “A quantidade do vírus nos esgotos aumentava quando os casos da doença na cidade subiam, e diminuía quando decresciam os índices de pessoas infectadas”, explica.
Segundo a pesquisa, a detecção do micro-organismo nas redes de esgoto ocorre porque o vírus é expelido pelas fezes dos infectados (sintomáticos e assintomáticos), atingindo essas vias desde o início da infecção. O estudo destaca que ainda não foi encontrado o novo coronavírus viável nas amostras coletadas, provavelmente porque essas águas também contêm detergentes e outros produtos químicos que inativam o vírus.
“Isso é uma boa notícia, pois, pelo menos até agora, as pesquisas mostram que não é possível se contaminar com o coronavírus através dos esgotos sanitários; nós estamos medindo o esgoto bruto mesmo, na entrada, antes que siga para o tratamento, que é o pior cenário. Mesmo assim, o vírus já não estava mais vivo. Até agora, nenhum país encontrou o vírus vivo em sua rede de esgoto. Pode ser que isso mude com as novas cepas, mas isso precisa ser investigado para eventual confirmação”, ressalta a coordenadora do projeto.
O projeto “Covid-19 em resíduos: diagnóstico e medidas de proteção”, foi realizado no Laboratório de Saneamento Ambiental (LSA), e é mais uma ferramenta de controle de micro-organismos. “Em estudos no início de 2020 na Holanda e Espanha, foi encontrado traço genético (RNA) do novo coronavírus (Sars-CoV2) nos esgotos, mesmo antes da detecção de casos clínicos da Covid-19”, explica Lourdinha Florêncio.
Mais segurança
Dentro desse contexto e em resposta ao edital da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PROPESQI) nº 06/2020 da UFPE, com o objetivo de dar apoio institucional para ações de diagnóstico e prevenção da Covid-19, o Grupo de Saneamento Ambiental da Universidade monitorou a presença do genoma do Sars-CoV-2 não apenas nos esgotos sanitários, mas também das águas de drenagem urbana.
“Pois estão contaminadas pelos esgotos, uma vez que ainda é baixo o nível de atendimento de sistemas públicos de esgotamento e tratamento no Recife. As amostras foram coletadas semanalmente, em três estações de tratamento de esgotos, um hospital e oito canais de drenagem urbana”.
Os pesquisadores ressaltaram, entretanto, que a vigilância epidemiológica nos esgotos não se destina a substituir os testes realizados nos infectados pelo sistema de saúde. “Funciona como um alerta precoce, pois é possível acompanhar a evolução e o surgimento de novos focos nos bairros da cidade e em locais de grande circulação da população, como nas rodoviárias, aeroportos, mercados públicos, universidades, hospitais entre outros”.