ESCUTA COLETIVA
População em situação de rua lista reivindicações para a construção de políticas públicas
Por: Júlia Rodrigues
Publicado em: 01/07/2021 20:30 | Atualizado em: 01/07/2021 21:07
Foto: Arnaldo Sete/Esp.DP |
Um bairro histórico que convive diariamente com o abandono, de suas estruturas e das pessoas que nele habitam. A Rua do Imperador, localizada no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife, serve de reduto para parte da população em situação de rua da cidade. Nesta quarta-feira (01), centenas de pessoas que vivem nessas condições se reuniram em busca de um presente menos desastroso, na Praça Dezessete, local onde foi realizada uma ação de escuta coletiva que discutiu as reivindicações das pessoas em vulnerabilidade para a construção de políticas públicas na capital pernambucana.
A ação foi organizada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara do Recife e contou, de maneira integrada, com atividades impulsionadas pela Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas do Recife e pela organização Saravida, que desenvolve um trabalho social voltado à população em vulnerabilidade social. A escuta coletiva, iniciada por volta das 15h20, teve a participação de pessoas que ocupam a Praça Dezessete e de movimentos que lutam por condições dignas de vida para a população em situação de rua. As pessoas que se dispuseram, tiveram três minutos para expor as reivindicações e queixas.
De acordo com o integrante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, formado por pessoas que vivem ou já viveram em situação de rua, Jailson Santos, é necessário que o poder público se faça presente na vida da população de rua não somente com ações específicas, mas juntamente com a criação de políticas públicas efetivas para a atender as pessoas que sobrevivem em extrema vulnerabilidade social.
“A população de rua anda procurando uma perspectiva melhor. Ela vai onde existe a oferta, porque a política pública é falha, não consegue acomodar todas as pessoas da cidade. A população não tem locais onde possa lavar as roupas, só temos dois centros populares que ofertam serviços para a população de rua, inclusive de acolhimento, mas neste momento não está fazendo por conta da pandemia. A população de rua está desassistida, é preciso uma sistematização das políticas públicas, não sabemos nem por onde começar e os serviços que têm estão sucateados”, enfatizou Jailson, que viveu por 12 anos em situação de rua.
Foto: Arnaldo Sete/Esp.DP |
Josael José da Silva, 23, foi um dos que pediram melhorias para a população de rua. Natural de Caruaru, no Agreste do estado, ele desembarcou no Recife em busca de emprego e condições melhores de vida. Contudo, já vive na capital há cerca de cinco anos, e continua sendo um entre os tantos desempregados do país durante a pandemia do novo coronavírus. “Não gostaria que a Prefeitura do Recife me desse uma casa, auxílio, mas, sim, um trabalho digno, que eu pudesse ter uma casa digna com o meu suor. Além de melhorias no restaurante popular. O que peço é só dignidade”.
Além da implementação de programas de estímulo ao emprego, a população de rua listou várias outras demandas, como prioridade nos programas habitacionais, reajuste do aluguel social; manutenção do benefício do aluguel social até que exista garantia de habitação; a realização de um censo sobre a população de rua; intensificação da campanha de vacinação contra a Covid-19 pelos consultórios de rua; regularização dos títulos de posse prometidos pelo prefeito; reabertura do restaurante popular do 13 de maio e abertura de novas unidades; instalação de banheiros ecológicos; reforma dos banheiros públicos; ampliar as ações do Acolhe Vida Móvel; regularizar a limpeza de praças e logradouros públicos; encaminhar denúncia pela cobrança de dinheiro pelo uso de banheiros públicos e pelo fechamento de dois banheiros públicos nas proximidades da Praça Dezessete.
De acordo com a vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos Michele Collins (PP), a partir do que foi demandado pelos presentes, será elaborado um relatório, e, posteriormente, serão iniciadas as tratativas com as respectivas pastas para o atendimento das reivindicações. “A Comissão de Direitos Humanos fez entrevistas para ver as principais necessidades. Vamos compilar esses dados e apresentar um relatório. Depois, vamos sentar com as autoridades de cada área para estimular, fortalecer e trazer a real necessidade deles”.
Outras atividades
Além da escuta coletiva, a ação contou com atividades promovidas pela Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas do Recife, que deslocou uma unidade móvel do Programa Acolhe Vida Recife (trailer e ônibus) - serviço itinerante de abordagem social para usuários de álcool e outras drogas -. No serviço, as pessoas em situação de rua passaram, inicialmente, por uma triagem. Depois, foi oferecido o kit banho (shampoo, sabonete, creme dental e escova de dente) e posteriormente o banho. Por fim, também foi ofertado um kit lanche e houve distribuição de máscaras.
Essa ação teve início por volta das 13h e foi encerrada pela própria equipe antes do tempo previsto devido a aglomeração de pessoas que se formou no local. De acordo com a secretaria, foram feitos aproximadamente 200 atendimentos.
Já a Secretaria de Defesa Social (SDS) realizou o trabalho de coleta de dados da população para a retirada de documentos e a organização Saravida, atuante no acolhimento de pessoas que enfrentam dificuldade com o álcool e outras drogas, distribuiu um kit lanche para 150 pessoas.
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