A ação existe para que as vítimas de trânsito não sejam esquecidas, para chamar atenção para a omissão do poder público a respeito da falta de estrutura para os ciclistas e lembrar que o excesso de velocidade mata - pesquisas apontam a velocidade como principal causa de mortes no trânsito em todo o mundo. No Recife, a Ameciclo atua para garantir que a gestão executiva cumpra o Plano Diretor Cicloviário (PDC), documento construído em 2014 que contempla toda a Região Metropolitana com estudos para a implantação de estruturas cicloviárias.
A Avenida Caxangá está inclusa no PDC e, para ela, é prevista ciclovia ao longo de toda sua extensão, ligando Camaragibe ao centro da capital. A via foi elencada como a quinta avenida mais violenta do Recife, com cerca de 300 colisões anuais, o que corresponde a 3% das colisões totais do Recife. Desde 2016, a Caxangá soma 49 colisões com ciclistas, registrando o maior número durante a pandemia. Em 2020, um em cada 10 ciclistas atropelados teve a Caxangá como cenário. Somente até julho deste ano, foram 51 colisões e atropelamentos na via, sendo cinco com ciclistas.
Pela soma das Contagens de Ciclistas realizadas pela Prefeitura do Recife e a associação, na via em questão passam entre três e cinco mil ciclistas por dia, que se arriscam entre os bordos da via e a faixa exclusiva para BRT, local por vezes preferido por ciclistas por diminuir a sensação de insegurança diante das condições da avenida hoje. Inclusive, o Manual do BRT informa que caso não tenham ciclovias, ciclistas podem usar a faixa. Dentre os depoimentos de quem a usa, nas redes sociais encontramos relatos como: “Todos os dias levo fino de carro e BRT”, “Com estrutura cicloviária na via eu perderia meu medo de morrer, a avenida permite velocidades altas demais”, “Motoristas parecem ter ódio de ciclistas, eles botam o carro para cima de mim e eu tenho que me jogar para a calçada”.
“Na campanha eleitoral de 2020, o atual prefeito do Recife se comprometeu em reduzir as velocidades das vias e priorizar o transporte sustentável, mas não é isso que vemos quando temos avenidas violentas, que passam vários ciclistas por dia, sendo ignoradas no planejamento urbano. O que protege quem anda de bicicleta são ciclovias e ciclofaixas, redução da velocidade e investimento para tornar o trânsito seguro para as pessoas escolherem como querem se locomover”, pontua Vanessa Santana, coordenadora da Ameciclo.
Mais uma vítima
Proposta para LOA e PPA
Na Ação ‘Promoção da Mobilidade e Acessibilidade’, a Ameciclo sugere a adição das seguintes subações: Elaborar estudos, planos e projetos de estrutura cicloviária; Elaborar estudos, planos e projetos para medidas de segurança no trânsito; Elaborar estudos, planos e projetos para garantir acessibilidade nas vias e espaços públicos.
Como justificativa, os autores da proposta - os associados Daniel Valença e Lígia Lima - discorrem que em anos anteriores, essa ação tinha como objetivos, dentre vários, “assegurar melhores condições operacionais dos sistemas viário e de passageiros, reduzindo os acidentes de trânsito e ampliando as vias locais de circulação”. Apesar de grandes dotações orçamentárias, a execução sempre foi insatisfatória daquilo previsto nas Leis Orçamentárias Anuais.
“Entre 2017 e 2020, ações que privilegiam os automóveis individuais consumiram 83% do orçamento da mobilidade no Recife. Para efeito de comparação, entre 2013 e 2019 - anos em que houve maior expansão cicloviária no Recife - foram investidos menos de R$ 8 milhões com estrutura cicloviária, sendo a maioria embutida no orçamento de sinalização. No entanto, obras e ações para o automóvel consumiram, no mesmo período, muito mais, a exemplo da Via Mangue (R$ 625 milhões), pavimentação de novas vias (R$ 68 milhões), recapeamento de vias (R$ 341 milhões) e orientadores de trânsito (R$ 71 milhões) - totalizando R$1,1 bilhão de reais”, alerta a LOAMOB.
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