TUBARÃO

Após novo caso, biólogo analisa ataques em Fernando de Noronha; relembre episódios

Publicado em: 22/04/2022 12:22 | Atualizado em: 22/04/2022 22:22

Num recorte dos últimos sete anos, essa é a décima vez em que uma pessoa é atingida por um tubarão em Fernando de Noronha (Foto: Zé Paulo Gasparotto)
Num recorte dos últimos sete anos, essa é a décima vez em que uma pessoa é atingida por um tubarão em Fernando de Noronha (Foto: Zé Paulo Gasparotto)
Ana Beatriz Venceslau
local@diariodepernambuco.com.br

Um novo episódio envolvendo um ataque de tubarão em Fernando de Noronha fez a beleza das praias ficar em segundo plano, ligando novamente o alerta por lá. Dessa vez, a vítima foi o fonoaudiólogo Luís Eduardo Barbosa, de 34 anos, que veio de Rondônia. Ele aproveitava o feriado de Tiradentes, quando foi mordido por um tubarão, na tarde de quinta-feira (21).
 
O episódio aconteceu na praia da Cacimba do Padre. Mordido no pé, o turista foi levado ao Hospital São Lucas, na Ilha. Fez exames de imagem, recebeu medicações e levou alguns pontos. Barbosa recebeu alta no mesmo dia. “Meu medo era morrer”, disse, em entrevista à TV Globo Nordeste. Ele não se conformava com explicações de que teria sido vítima de um incidente. “Eu estou correndo risco de perder os movimentos dos dedos. Isso foi um ataque, não vamos romantizar, foi um ataque de tubarão. Não desejo isso para ninguém”, desabafou. Em sete anos, é o décimo ataque em Noronha, a terceira na Cacimba. 
 
De acordo com dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), cujos relatórios começam em 2015, outras nove pessoas, além do turista de Rondônia, reforçam as estatísticas, seis homens e três mulheres. Entre as vítimas do gênero feminino, está uma criança de oito anos, ferida no fim do mês de janeiro deste ano, na Baía do Sudeste. Nicole teve a perna direita amputada, após ser gravemente atingida por um tubarão. Ele chegou a ficar por alguns dias em uma Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) no Recife, antes de retornar para seu estado, São Paulo. Após a episódio, o Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) interditou o local e também a Praia do Leão.
 
Os casos têm aumentado. O primeiro registro em Fernando de Noronha, através do Comitê, aconteceu em dezembro de 2015: um homem de 32 anos, que estava na Baía do Sudeste e fora mordido no braço direito. Um ano e nove dias depois, outro homem, com 49 anos na época, teve sua panturrilha esquerda atacada, no Leão. Em janeiro de 2018, um jovem de 20 anos foi pego no antebraço esquerdo por um tubarão, na Praia da Conceição. Em fevereiro de 2019, um surfista foi mordido na Cacimba do Padre, quando foi surpreendido pelo animal. Ele chegou a ser atingido no rosto pelo animal. Um ano depois, a primeira mulher fora vítima, de 33 anos. Foi mordida na mão esquerda. Ela era surfista, assim como a próxima, de 28 anos, atacada na praia do Bode, tendo um membro inferior direito mordido. No mesmo ano, um homem de 37 anos foi mordido na perna direita. Em 2021, outro ataque na Cacimba, a um homem de 53 anos, a vítima mais velha. Nunca houve uma morte registrada.

Promessas
Medidas como a colocação de telas de proteção, monitoramento por drone, fechamento de praias para estudos, reforço de placas de sinalização, distribuição de cartilhas e “aulas” sobre a fauna e flora do local para os turistas estão sempre “engatilhadas” no arquipélago. Pouco, entretanto, foi feito.
 
Biólogo analisa casos
O Diario de Pernambuco entrevistou o biólogo Daniel Senna, professor de Ciências da Natureza, que analisou o caso do turista de Rondônia e trouxe algumas hipóteses a respeito dos incidentes.
 
De início, ele fez questão de mencionar que a carne humana não é alimento de tubarão, e que existe uma “confusão” por parte do bicho ao ver pessoas na água. 
 
“NNão somos comida de tubarão, e sabemos que raramente ele engole o pedaço de músculo humano que conseguiu arrancar na mordida. O ambiente pertence ao animal, e como diz o ecólogo pernambucano Vasconcelos Sobrinho: é o ambiente que tem você no meio, a natureza não é meio entre nós”, afirmou.
 
Direcionando as atenções ao caso do turista mordido na quinta-feira, o professor levantou duas situações. “Esse ataque pode ter sido motivado porque o animal foi tocado ou por disputa de habitat, por alguém que se aproximou demais”, disse.
 
Ele também classificou a Ilha como parte desequilibrada do ecossistema, e apontou a pesca predatória como responsável. “Bem como o Atol das Rocas, onde a pesca predatória está minando o equilíbrio das cadeias alimentares.”
 
Uma forma inicial de mudar isso, segundo o professor, seria uma maneira educativa de “desenhar” Noronha. “Precisamos avaliar esses ataques, com viés educativo, e mapear lugares seguros para mergulho e outros tipos de lazer”, projetou. E trouxe exemplos do que pode ser mudado. “Afastando as pessoas do animal, garantindo a saúde dos sistemas litorâneos como um todo, pois são conectados.” Isso, para ele, envolveria um plano de ação com profissionais de diversas áreas de forma constante.
 
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