EDUCAÇÃO FÍSICA

Dia do profissional de educação física: Um outro olhar sobre a profissão

Publicado em: 01/09/2022 08:00 | Atualizado em: 01/09/2022 09:30

 (Foto: Camile Barros)
Foto: Camile Barros
Em busca da valorização e entendimento das várias áreas que englobam a educação física, no dia 1º de setembro é comemorado o dia deste profissional. A data entrou para o calendário devido à instituição da Lei Federal nº 9696, em 1º de setembro de 1998, que regulamentou a Profissão de Educação Física e criou os Conselhos Federais e Regionais de Educação Física.
 
A atividade física é vista como um importante fator para a promoção da saúde e a demanda para esse serviço cresce a cada dia mais, principalmente no período pós isolamento social, pois o longo período em casa mudou a perspectiva das pessoas em relação aos próprios cuidados com a saúde, e evidenciou a importância disso. O educador físico pode seguir pelo bacharelado ou pela licenciatura, porém ambos têm um papel fundamental e indispensável. No entanto, é comum a associação do profissional à somente um nicho da profissão, que é o que contempla os profissionais de academias e personal trainers. Essa visão de que treinos são estritamente ligados à construção de corpos musculosos, coloca em segundo plano os outros inúmeros benefícios que a prática de atividades físicas traz, e todas as outras áreas que a profissão abrange.
 
Um exemplo de profissional que trabalha fora da visão convencional é o educador físico João Victor de Sousa, de 24 anos, que atua com a educação física especial aplicada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). No ano de 2015 ele cursava fisioterapia, mas a facilidade em lidar com crianças foi o principal fator para que ele migrasse de área e começasse a cursar educação física, porém com foco em ser treinador de futebol infantil. Um tempo depois surgiu uma oportunidade de estágio na área da educação física especial, e em sua primeira experiência ele teve êxito em acalmar uma criança em crise. A partir disso, mesmo sem o conhecimento teórico, ele descobriu sua área na profissão. Atualmente ele trabalha em uma clínica na Zona Sul do Recife especializada no desenvolvimento infantil e está aperfeiçoando seus conhecimentos na área com uma pós graduação em psicomotricidade clínica e institucional, que consiste na integração da parte motora e psíquica, através de estímulos. Sua abordagem profissional é focada na psicomotricidade relacional.
 
Durante uma sessão com seu aluno Jehan Victor, de 8 anos, João realizou diversas atividades trabalhando a parte motora do infanto. A sessão ocorreu no Parque Dona Lindu, localizado em Boa Viagem, zona Sul do Recife, e o principal objetivo da criança era brincar no “parque de madeira”. O profissional utilizou isso como estímulo e todas as atividades foram direcionadas para o objetivo final dele. O pai da criança, Jehan Fonseca, afirma que o filho possui hiper foco em atividades de seu interesse, causando dispersão nas demais. Por esse motivo, ele prefere que as atividades sejam realizadas ao ar livre e num ambiente com diversas distrações, para trabalhar o foco e atenção nas atividades.
 
João Victor de Sousa e seu aluno Jehan durante a sessão. (Foto: Camile Barros)
João Victor de Sousa e seu aluno Jehan durante a sessão. (Foto: Camile Barros)
 
 
João afirma que além da motora, a educação física desenvolve as áreas cognitiva, social e interativa. “Minha abordagem é focada na psicomotricidade relacional, que estimula o brincar livre e espontâneo. Nas sessões em grupo as crianças interagem com outras crianças, desenvolvendo a interação e socialização delas. Isso gera segurança nos pais em mandarem seus filhos atípicos para a escola sabendo que eles terão pouca ou nula dificuldade em interagir socialmente”, aponta.
 
Um outro exemplo de profissional é a professora de educação física Norma Andrade, de 63 anos, os quais dedicou mais de 40 anos para a profissão ensinando a seus alunos os benefícios da ginástica tanto para o bem-estar físico quanto para o mental. Assim como João, Norma é pós graduada em psicomotricidade e diz não se acomodar e buscar sempre mais qualificações para ela e suas alunas. Atualmente ela trabalha no Recife Ativo, dando aulas de ginástica para idosas e adultas, na associação de moradores do Alto José Bonifácio, bairro localizado na Zona Norte do Recife. “Em minhas aulas, as idosas, que são o público majoritário, fortalecem os músculos e aumentam a tonicidade e equilíbrio. Utiliza dança, movimentos rítmicos e dependendo da resistência, também utilizo carga. Porém, o maior benefício é o mental, pois durante as aulas elas se divertem e se sentem ativas novamente”, destaca a profissional. Seu maior lema é: “Mente sã, corpo são."
 
No momento, Norma também está trabalhando nos Jogos da Pessoa Idosa, evento realizado pela Prefeitura do Recife. Ela relatou que durante o evento, uma idosa de 82 anos chamada Josefa, que possuía bastante receio por afirmar não saber jogar nada, perguntou: “Norma, tem todo ano?”. Ao responder que sim, ela teve como resposta: “Pois enquanto eu estiver viva, quero participar”.
 
Norma e suas alunas durante os Jogos da Pessoa Idosa 2022. (Foto: Reprodução)
Norma e suas alunas durante os Jogos da Pessoa Idosa 2022. (Foto: Reprodução)
 
 
Para a profissional, o maior exemplo de educação física e saúde é uma situação vivenciada pela mesma. No ano 2000, Norma descobriu um câncer de tireoide, e seu tratamento era com iodo terapia durante três anos, que deixava seu corpo inchado, a ponto de não conseguir carregar seu próprio filho no braço. “Apesar de toda a dificuldade eu não teria conseguido passar por isso sem a educação física, pois mesmo convivendo com câncer continuei a dar aulas. Eu sentia dores, mas pensava: ‘Não! Eu sou mais forte’”, revela.
 
Norma é uma profissional dedicada e sente isso no retorno de suas alunas. Ela afirma ser adorada por elas, e também ama o que faz. “Eu me identifico naquilo que faço, eu sou eu mesma na minha profissão”, disse ela.
 
A ginástica de Zumba é uma das modalidades que Norma leciona, e é uma atividade física em que são misturados movimentos de ginástica aeróbica e danças latinas, favorecendo a perda de peso e ajudando a tonificar os músculos. Uma de suas alunas do grupo de ginástica de Zumba, Severina Nascimento, de 52 anos, relatou os benefícios que as aulas administradas por Norma trazem para sua rotina: “A ginástica de Zumba tem melhorado minha saúde e mudado a minha vida. Tenho muitos problemas nas articulações, principalmente nas pernas. Fica tudo travado, e se eu ficar parada é pior. Tem dias que eu fico com preguiça, mas mesmo com dor no corpo eu vou, e volto renovada. Esses dias a frieza tem piorado as dores, mas eu continuo indo e volto boa.” Em relação à Norma, Severina afirma que além de ótima professora, ela também é uma boa amiga: “Ela se importa com as alunas, sente quando não estamos bem”.
 
Além desses exemplos, existem outros que evidenciam as múltiplas faces do que significa ser um educador físico, tais como os que trabalham como reabilitadores, recreadores em momentos de lazer, professores em escolas e instituições, treinadores esportivos, pesquisadores, preparadores físico-corporal, entre outros. Portanto, pode-se afirmar que a educação física é uma área ampla e oferece diversas possibilidades de atuação. Um olhar unilateral acerca da profissão pode ser bastante limitante diante da infinidade de oportunidades que o ofício proporciona, por isso é imprescindível saber explorar bem as necessidades e especificidades do mercado, e assim, obter êxito dentro daquilo que se identifica.

COMENTÁRIOS

Os comentários a seguir não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.