Vida Urbana

Família separada em busca de seu final feliz

Magnus Holen tem 31 anos. Mora em Oslo, capital da Noruega, onde faz universidade. Pretende ser professor da Educação Infantil. Quando não está na faculdade,trabalha em outro período para se manter. Há 13 anos, ele decidiu descobrir suas origens. Uma saga que ainda não chegou ao final feliz esperado. Ele disse que sempre soube que foi adotado, e que seus pais sempre foram abertos com relação a isso.

“Quando eu tinha 18 anos comecei a tentar encontrar minha história, mas foi muito difícil. Nada parecia dar muito certo”, explica Magnus. Determinado a encontrar sua família, o estudante fez um teste de DNA e o resultado mostrou alguma ligação genética com Rafael Medeiros, pernambucano que mora nos Estados Unidos, onde é gerente de desenvolvimento de software. Foi então que ele começou a desvendar o mistério da sua origem.

“O resultado mostrou que compartilho apenas zero vírgula cinco por centro do DNA com Rafael, mas, mesmo assim, fiz contato, contei minha história e pedi ajuda”, disse Magnus, que não fala português. Medeiros sabia que era uma situação difícil e se voluntariou para que pudesse entrar em contato com alguns órgãos do Brasil. “Daí a gente conseguiu um contato em Brasília, porque tem uma lei que passou recentemente que dá direito as pessoas adotadas a ter acesso ao processo. Então a gente submeteu uma requisição, o que demorou bastante. Eu acho que foi quase um ano, mas saiu, no início deste ano”, detalhou Medeiros.

Mas como os documentos vieram em português e muitos manuscritos, foi difícil para Magnus juntar a história e identificar as pessoas. Rafael conta que precisou entrar em ação mais uma vez. Para contatar a família e fazer o primeiro encontro entre eles.


Quando engravidou de Maguns, Rosineide percebeu que não poderia cuidar da criança, por isso ofereceu para que a irmã dela, Marinalva Souza, que morava em São Paulo com o marido Hélio Souza, criasse o menino. Ainda grávida, ela se mudou para a cidade do Sudeste do país. O casal não podia ter filhos.

De acordo com Marinalva, ao tentar regularizar a situação da adoção, começou um pesadelo. O juiz que avaliou o caso retirou a guarda da mãe e também não deu o direito à tia do menino. “A gente foi resolver uma situação. A gente foi até a autoridade do fórum, porque a gente sabia que a pessoa que estava lá ia ajudar a gente. E eles não fizeram isso, eles fizeram o contrário”, lamentou Marinalva. 

A mãe biológica concorda que foi um momento muito triste para os três. “Chorei com Marinalva e Hélio lá. O juiz disse ‘vou pegar ele. Nem você, nem ela tem direito de ver ele’. O juiz disse pra mim e pra ela. Eu não tinha direito de ver nem ela. Aí levaram o menino”, concluiu Rosineide. São 32 anos sem notícias entre eles.

NORUEGA

Em um dos documentos do processo de destituição do pátrio poder que a nossa reportagem teve acesso, assinado pela assistente social Estela Camargo e encaminhado ao juiz do caso, diz que “não temos em nosso cadastro casais aptos para a uma adoção de criança de cor parda” e ainda que “sugerimos que o caso seja encaminhado para adoção internacional”.

E assim foi feito. Pouco tempo antes de completar um ano, em março de 1992, o então Hélio Araújo foi legalmente adotado por uma família norueguesa e levado para o país escandinavo. Lá foi criado na ilha Averøy, em uma localidade chamada de Kårvåg, onde foi rebatizado de Magnus Holen.

Em norueguês, o pai adotivo, Morten Holen, explicou que foi um processo muito longo até eles conseguirem a adoção. “Depois de muitos anos de tentativas, descobrimos que não poderíamos ter filhos. Contratamos uma empresa que trabalhava com adoção de crianças e que atuava no Brasil”, contou Morten. 

Janne, a mãe adotiva, garante que apoia em 100% a decisão de Magnus de encontrar sua família biológica. “Meu coração de mãe está muito feliz por ele, pois sei que é importante ele conhecer seu passado”, comemorou Janne, que tem outras duas filhas adotivas que também são brasileiras.

REENCONTRO 

O primeiro encontro deles foi por videochamada, inclusive com a participação de Rafael, que ajudou na tradução. Magnus Holen, porém, já tem data para vir ao Recife. “Estou contando os dias e animado para ir ao Brasil. Vou celebrar meu aniversário de 32 anos com minha família biológica, em março do próximo ano.” A viagem também vai servir para buscar o pai biológico, de quem ninguém teve mais notícias.

Como não tem dinheiro para a viagem, o estudante criou uma vaquinha virtual na Noruega para conseguir recursos. Enquanto o dia não chega, seguem conversando com a ajuda da tecnologia, diariamente.

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