Vida Urbana

Degradação dos recifes de corais reduz renda e aumenta o trabalho dos pescadores, diz pesquisa

Segundo o Grupo O Boticário, peixes deixaram de aparecer no litoral pernambucano por não encontrarem mais abrigos e alimentos nos corais

A poluição e o aquecimento global são os principais inimigos dos recifes de corais

O desordenamento das atividades humanas nos recifes de corais afeta diretamente o equilíbrio destes seres marinhos. Entre os principais problemas estão o turismo não sustentável e poluição. Por causa disso, os peixes têm aparecido cada vez menos no litoral pernambucano, dificultando o trabalho dos pescadores locais. 
 
Este é o resultado de uma pesquisa feita pela Fundação Grupo Boticário, que analisou a saúde dos recifes de corais no Nordeste brasileiro e os impactos da degradação destes animais.
 
Uma das áreas analisadas pela fundação é a praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, onde os corais são alvos de pisoteamento por causa do alto índice de turismo. Os corais ainda sofrem com a poluição causada pelo crescimento imobiliário da região e falta de saneamento.
 
Um dos principais destinos turísticos do estado, Porto de Galinhas tem movimentação  financeira de mais de R$ 700 milhões, por ano, por causa de visitas aos corais. Os dados foram repassados durante uma visita da equipe do Diario de Pernambuco ao balneário. 
 
O estado de Pernambuco possui pelo menos 11.300 pessoas que vivem da pesca e que dependem da saúde dos recifes de corais para garantir o sustento da família. O número consta no Cadastro de Pescadores Artesanais do Litoral de Pernambuco, realizado em 2019, pela Semas. 
 
No entanto, a tradição secular da pescaria está reduzindo no estado por conta da agressão que os corais sofrem e que afetam diretamente a qualidade e quantidade de peixes capturados. 

"Os recifes de corais são um sistema super importante não só para o oceano, mas para todo o planeta. Ele é uma fonte de renda para várias comunidades através do turismo e pesca. É uma fonte de renda inesgotável de biodiversidade e também é super importante para a regulação climática. Sem os recifes de corais, podemos ter uma perda e fragilidade muito grandes no nosso estoque pesqueiro e isso influencia na nossa insegurança alimentar", explica a oceanógrafa Amanda Albano.

Os únicos ambientes recifais do Atlântico Sul se concentram no Nordeste brasileiro e se estendem por 3 mil quilômetros entre o Maranhão e o sul da Bahia. Estes corais são responsáveis por fornecer terrenos de desova, além de servirem como viveiro para populações de peixes que são economicamente importantes.
 
Pelo menos uma em cada quatro espécies marinhas vive ou passa uma parte da vida nos recifes de corais, onde é possível identificar até 65% dos peixes marinhos. Isso mostra que os corais são verdadeiros condomínios subaquáticos e ainda servem de alimento ou abrigo para animais que estão de passagem.


Flávio Conceição, mais conhecido como Ariocó, é integrante da comunidade de pescadores de Brasília Teimosa, no Recife. Ele já sente o impacto do branqueamento dos recifes de corais no trabalho e conta que “a qualidade da pesca caiu muito. Todos os peixes que costumo pescar ainda existem, mas bem pouco e isso afeta a economia. Acho que isso acontece por conta da natureza, que está meio prejudicada. Para reverter isso, eu passo mais tempo em alto-mar. O melhor período para pesca é o verão, mas nem todo verão rende tanto. Vendo o peixe por aqui mesmo, tem gente que vem até de Caruaru para poder comprar”.


“Aprendi a ser pescador com meu pai, comecei com 14 anos, mas depois me tornei jangadeiro. Antigamente, tinha muito mais peixes nos corais. Por conta disso, muitos pescadores deixaram de trabalhar com isso e viram jangadeiros. A gente deixa de ser pescador porque a falta de peixes mexe com o nosso bolso. Isso é resultado de um ecossistema que foi quebrado. Em Boa Viagem, por exemplo, a gente sabe que os recifes de corais não estão vivos”, conta Armando Júnior, jangadeiro da praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca.

Fazer um turismo consciente e evitar jogar lixo no mar são algumas das ações que ajudam a preservar os corais

Os impactos causados nos recifes de corais pelos seres humanos têm consequências quase irreversíveis. Apesar de serem residentes, os corais são sensíveis às ações externas, principalmente às humanas, como poluição das águas, pesca predatória, modificação do solo para construção de prédios e o turismo desordenado.

O cenário atual demanda medidas urgentes para que os corais consigam se recuperar e continuem cumprindo o papel indispensável na natureza. Diante disso, a Biofábrica de Corais, em Porto de Galinhas, realiza um trabalho de resgate destes seres marinhos através da identificação e coleta de corais fragmentados para que eles sejam inseridos em berços e realocados em fazendas submersas, onde irão se recuperar durante seis meses.

“Estamos nos preparando para enfrentar o branqueamento de corais no ano que vem, previsto para o mês de março. estamos com uma força tarefa para que a gente não fique apenas assistindo o branqueamento e contando o número de animais mortos. Estamos entrando em uma nova era de relação com a natureza. Um recife de coral não pode ser concebido como algo que pode se manter sozinho”, explica Rudã Fernandes, fundador da Biofábrica de corais.

A responsabilidade de manter os recifes de corais saudáveis não é somente de empresas e profissionais engajados, mas também da população e de tomadores de decisão, como políticos. O combate à poluição é um dos principais meios de reduzir os impactos negativos aos corais. Evitar jogar lixo no mar e investir em saneamento básico pode prolongar a vida destes animais.

Proteger os recifes de corais é essencial para garantir um futuro com menos problemas ambientais

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