Favela do Detran

Mortes em comunidade: cinco soldados, dois cabos e dois sargentos são alvo de três inquéritos diferentes

Caso teve grande repercussão e todos os envolvidos foram presos e encaminhados para audiência de custódia

Publicado em: 22/11/2023 13:53

PMs entraram em casa e duas pessoas morreram na comunidade (Foto: Redes Sociais )
PMs entraram em casa e duas pessoas morreram na comunidade (Foto: Redes Sociais )
Os nove policiais militares envolvidos em uma operação que resultou na morte de dois homens, na Comunidade do Detran, na Iputinga, na Zona Oeste do Recife, são alvo de três inquéritos distintos abertos pelas forças de segurança da Secretaria de Defesa Social (SDS).
 
Participaram da operação em busca de suspeitos de tráfico de drogas, na segunda (20), cinco soldados, dois sargentos e dois cabos.
 
Após serem presos em flagrante, na terça (21), os PMs ficaram à disposição da Justiça e foram encaminhados para a audiência de custódia no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Joana Bezerra, na área Central do Recife. 

O judiciário vai decidir se as prisões em flagrante serão convertidas ou não para prisões preventivas dos PMs envolvidos no caso. 
 
Se isso acontecer, todos devem ser recolhidos para o Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
 
Todos eles foram autuados em flagrante pelo crime de invasão de domicílio.  Ele entraram  na residência onde os dois homens foram  mortos.
 
As vítimas foram identificadas como Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, de 31 anos e Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos. 

O papel de cada um 
 
A Corregedoria-Geral da SDS instaurou uma sindicância para apurar a conduta disciplinar dos nove policiais militares. 
 
O prazo para as investigações serem concluídas é de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30 dias. 
 
Enquanto as apurações são feitas, os PMs seguem recebendo os salários normalmente, mas são afastados das funções de policiamento ostensivo, ficando somente nas funções administrativas. 

O órgão confirmou que já colheu imagens de câmeras de circuito interno de videomonitoramento de casas ao entorno da residência onde aconteceram as mortes.
 
Também está com os autos das ouvidorias dos nove PMs presos, bem como com  as perícias realizadas nas armas apreendidas e as munições deflagradas. 

Os nove policiais foram presos pela guarnição da própria PM e todos ficaram detidos no próprio batalhão onde atuam, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), no cumprimento de detenção administrativa pelo cometimento de crime militar.


Além dessa investigação da Corregedoria Geral, há mais duas apurações. São elas.

Um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a operação policial que resultou nas mortes dos homens e desvios de conduta, além do inquérito aberto pela Polícia Civil, sob a responsabilidade do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), para investigar as mortes das vítimas.

Corregedora
 
Corregedora-geral explicou os passos da investigação  (Foto: Romulo CHico/DP)
Corregedora-geral explicou os passos da investigação (Foto: Romulo CHico/DP)
A corregedora-geral da SDS, Mariana Cavalcanti, confirmou que o órgão já colheu os autos colhidos por apurações feitas pela Polícia Civil e do alto comando da PM. 

“Instauramos ontem (terça) uma investigação preliminar para reunir todos os elementos. Os vídeos, reportagens, BOs, as perícias e outras informações que acrescentam para a nossa apuração. Como já tem outros inquéritos abertos, nós pedimos essas provas compartilhadas e juntamos tudo no inquérito disciplinar. Depois, verificamos que é de fato responsável pelos atos delituosos para encaminhar ao conselho de disciplina. E se os nove forem considerados culpados, todos irão responder. A gente tenta ao máximo ter a conduta individualizada”, explicou.

Ela informou como funcionam os primeiros passos das apurações do órgão. 

“No final, o conselho de disciplina decide quem deve ser responsabilizado perante a corregedoria. No total são 13 conselhos disciplinares, com três conselheiros cada um. Ao final de todas as provas, é feito um relatório que constata se eles são responsáveis e merecem ser excluídos, suspensos ou absolvidos. Agora, neste momento, estamos nas investigações preliminares”, enfatizou.

De acordo com ela, as punições podem variar de advertências, prisões administrativas, suspensões, exclusão do quadro e demissões, no caso se o envolvido for policial civil. 

Como foi 


Na noite de segunda (20), integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na comunidade do Detran, na Iputinga, na Zona Oeste da capital, em busca de suspeitos de tráfico de drogas. A operação deixou dois mortos a tiros. 
 
A operação começou por volta das 19h30 de segunda. O alvo seria um homem conhecido como ''gerente'' do tráfico de drogas na comunidade. 

Os PMs entraram em uma casa, onde estavam os dois suspeitos.Imagens divulgadas em redes sociais mostram parte dessa operação. 
 
Primeiro, foram retiradas mulheres e crianças da residência. Os dois homens baleados ainda foram socorridos pela PM e levados para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, na mesma região, mas não resistiram aos ferimentos. 
 
O caso foi registrado como duplo homicídio ''decorrente de operação policial''. 
 
Ainda segundo informações extraoficiais, os PMs do Bope ''revidaram a agressão'' dos suspeitos. No entanto, de acordo com o diretor adjunto de Planejamento Operacional da PM, Fred Saraiva, nenhum policial militar foi ferido durante a operação.
 
O caso teria sido enviado para a Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) para apurar a conduta dos policiais envolvidos. 
 
Depois da operação, moradores fizeram um protesto e queimaram um ônibus.

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