Vida Urbana

Pesquisa expõe violências enfrentadas por detentos LGBTQIA+ de Pernambuco

Diversas violações foram apontadas pelo estudo, que analisou três presídios do estado

Dos 2.916 presos, 12 se autodeclararam como integrantes da comunidade LGBTQIAP

Uma pesquisa promovida pelo Grupo de Trabalho em Prevenção Posithivo (GTP%2b) apontou que membros da comunidade LGBTQIAP são alvos de diversas violências e violações dentro dos presídios da Zona da Mata do estado. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira (13) e analisou o Presídio de Vitória de Santo Antão (PVSA), Presídio de Itaquitinga (PIT) e o Presídio Dr. Rorenildo da Rocha Leão (PDRRL), em Palmares.

Dos 2.916 presos, 12 se autodeclararam como integrantes da comunidade, sendo oito do Presídio de Vitória de Santo Antão e quatro no presídio de Palmares. Dentro desse recorte, 60% se declararam homossexuais, 20% heterossexuais, 10% homens que fazem sexo com homens (HSH) e 10% bissexuais. Quanto a identidade de gênero, 54,5% se declararam mulheres trans, 18,2% travestis e 27,3% homens cis.

O estudo cita que os constatou “uma situação de extrema insegurança de sofrerem diversos tipos de violência. Inclusive, chamou a atenção relatos de que sequer poderiam escolher o local que mais se sentiam seguras dentro da unidade, tampouco era questionado às mulheres trans e travestis sobre a possibilidade de serem transferidas para uma unidade feminina”.

A pesquisa expõe que 75% da população entrevistada afirma ter sofrido algum tipo de violência, sendo as de natureza física e sexual com maior número de ocorrência, representando 55,6% dos casos. Além disso, 75% das mulheres trans e travestis estão sem uso e sem acompanhamento médico na utilização de hormônio.

“A violação à personalidade também é hostilizada na medida que a administração prisional reconhece a sua incompetência para promover e adotar políticas que visem proteger as pessoas LGBTQIAP em seus estabelecimentos, combater práticas discriminatórias e responsabilizar agentes, seja servidores públicos ou outros presos, que pratiquem tais atos atentatórios”, destaca o estudo

Já as pessoas trans e travestis não possuem os nomes sociais respeitados pelos detentos e nem pelos funcionários dos presídios. Quanto a este último ponto, a população trans suporta verdadeira anulação quanto aos direitos da personalidade, uma vez que não há tratamento hormonal disponibilizado pelas unidades prisionais”, completa o relatório.

A pesquisa constatou que a situação dos presos LGBTQIA do Presídio de Itaquitinga é ainda mais preocupante em razão da acentuada discriminação e preconceito por parte de outros presos e dos próprios agentes. Segundo a administração, quando há o ingresso de pessoas da comunidade no presídio, é solicitada a transferência imediata diante do grave contexto apresentado.

“Desta forma, podemos categorizar o PIT como a unidade prisional mais perigosa para pessoas LGBTQIAP já identificada pelo Projeto Fortalecer para Superar Preconceitos no Estado de Pernambuco”, destaca o documento.

No presídio de Palmares, os integrantes da comunidade não conseguem receber visitas íntimas, pois são impedidos. O “chaveiro”, preso que fica responsável pelos espaços de convivência, é quem estabelece as normas do local.

Os detentos entrevistados que são de religiões de matrizes africanas informaram que os presídios só disponibilizam espaços para manifestações cristãs e que possuem receio em serem violentados em razão da discriminação.

Recomendações

O estudo do Projeto Fortalecer para Superar Preconceitos fez 24 recomendações ao Governo do Estado, entre elas:
  • Adequar formulários e documentos institucionais, inclusive folha de rosto, de modo a respeitar o nome social/civil, expurgando o campo “vulgo” para mencionar o nome social;
  • Disponibilizar e assegurar tratamento hormonal, com acompanhamento médico endocrinologista, nos termos do art. 11, inciso I, da Resolução 348/2020 do CNJ;
  • Promover capacitação contínua e permanente de policiais penais e outros profissionais técnicos das unidades prisionais sobre o tratamento penal de populações vulneráveis. Inclusive, a capacitação deve ter a participação de entidades locais da sociedade civil e que tenham expertise na temática;
  • Extinguir a figura do “chaveiro” de modo que o Estado assuma total controle de gestão sobre as unidades prisionais;

Entre as recomendações ao Ministério Público de Pernambuco estão:
  • Instaurar inquérito para apuração e verificação de responsabilidade de todas as graves violações de direitos humanos apresentados neste relatório;
  • Instaurar inquérito para verificação do tratamento penal destinado à população LGBTQIAP em todo o Estado de Pernambuco, de modo a também verificar a responsabilidade de todas as graves violações de direitos humanos identificadas.

Recomendações para o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE):
  • Promover mutirão para mapear todos os processos criminais e de execução penal referentes às pessoas LGBTQIAP privadas de liberdade do Estado de Pernambuco;
  • Garantir e aplicar integralmente as diretrizes estabelecidas pela Resolução 348/2020 do CNJ, independente do regime de prisão e de cumprimento de pena;
  • Fazer mutirão regular nos processos judiciais referentes à população LGBTQIAP para evitar ocorrências de excesso de prazos em prisões preventivas e adequada aplicação de progressão de regime na fase de execução penal;
  • Reconhecer trabalho informal desenvolvido pela população LGBTQIAP para fim de remição de pena.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco