Resgate histórico

200 anos da Confederação do Equador: resgate histórico mostra como seria o "rosto" de Frei Caneca

A divulgação desse marial gráfico é uma das novidades dos eventos que marcam, a partir desta terça (2), os festejos do movimento revolucionário.

Publicado em: 02/07/2024 11:21 | Atualizado em: 02/07/2024 14:41

Imagem mostra o "retrato" de Frei Caneca  (Foto: Mareu Araújo/DP)
Imagem mostra o "retrato" de Frei Caneca (Foto: Mareu Araújo/DP)

 
Um trabalho de pesquisa histórica feito pela Comissão das Atividades Comemorativas ao Bicentenário da Confederação do Equador revelou como seria o rosto de Frei Caneca, um dos maiores revolucionários do estado de Pernambuco. 

A divulgação desse notarial gráfico é uma das novidades dos eventos que marcam, a partir desta terça (2), os festejos dos 200 anos da Confederação do Equador. As comemorações durarão um ano, se encerrando nesta mesma data em 2025. 

A Confederação foi um movimento libertário que começou em 1824, em Pernambuco e se alastrou para outras províncias nordestinas, a Confederação do Equador é um dos primeiros marcos históricos do Primeiro Império. 

Composta por Universidades de Pernambuco, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, pela Companhia Editora de Pernambuco e algumas Secretarias do Governo do Estado, a Comissão das Atividades mostrou o “retrato” de Joaquim do Amor Divino, ou Frei Caneca.

A imagem foi divulgada no lançamento dos eventos de comemoração dos 200 anos da Confederação do Equador, no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, no Grande Recife. 

No evento, Raquel Lyra discursou sobre a força de Pernambuco. “Quando a gente diz que é de Pernambuco, as pessoas de outros estados olham de um jeito diferente para a gente. Elas compreendem o tamanho da nossa tradição de luta pela democracia, a força da nossa política, mas também a força do nosso povo. Pernambuco é um país porque muito antes de que a gente estivesse aqui, décadas, séculos antes de nós, tinham pessoas que lutavam por liberdade e por igualdade, como o Frei Caneca”, afirmou a governadora. 

Na solenidade, a vice-governadora Priscila Krause falou sobre o trabalho da comissão de resgate histórico. “A imagem que nós temos mais popularizada de Frei Caneca é a do quadro de Murillo La Greca, que retrata um momento um pouco anterior à sua execução”, contou.

Ainda segundo ela, a comissão partiu atrás de estudos, imagens da arquidiocese e de referências históricas. “Nós fomos atrás de relatos históricos, contamos com a ajuda da Arquidiocese de Recife e Olinda, a partir de Frei Cristiano que estuda Frei Caneca, além de vários outros historiadores como George Cabral. Com todo esse acervo em mãos, Comissão do Bicentenário entregou as imagens para o artista Roberto Ploeg, que desenhou Frei Caneca, sob seu olhar artístico”, afirmou. 

O evento de abertura, reuniu as autoridades do Estado e os representantes da sociedade civil envolvidos com o tema. 

Também presente na solenidade, a senadora Teresa Leitão contou do desejo do Senado em fazer um documentário sobre a Confederação do Equador. “Uma das coisas mais importantes da Confederação do Equador foi ao contestar o poder moderador, Dom Pedro I, apresentar uma alternativa de convivência entre as províncias e de gestão, isto é união do pacto federativo”. 
 
Editais

Solenidade marcou início das comemorações dos 200 anos da Confederação do Equador (Foto: Mareu Araújo/DP )
Solenidade marcou início das comemorações dos 200 anos da Confederação do Equador (Foto: Mareu Araújo/DP )
No evento oficial de abertura, foram lançados editais, de R$ 300 mil, para apresentações de artes cênicas, programação de eventos científicos, ações na Universidade de Pernambuco (UPE), a reedição da obra “Frei Joaquim do Amor Divino Caneca”, de Edvaldo Cabral de Mello, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), e uma cartilha para os professores dos anos finais da rede estadual. 

A comissão apresentou um selo postal comemorativo em parceria com os Correios e o evento será finalizado com a apresentação do espetáculo “Frei Caneca – 200 anos da Confederação do Equador”, que tem direção de Carlos Carvalho e produção de Paulo de Castro.
 
Quem foi Frei Caneca
 
Frei Caneca foi preso, julgado e condenado à morte. No dia 13 de janeiro de 1825, ele seria enforcado no Forte das Cinco Pontas, mas os três carrascos se recusaram a executá-lo. Com  isso, Frei Caneca foi fuzilado com uma determinação da  Comissão Militar e teve o corpo deixado em frente ao Convento das Carmelitas, dentro de um caixão de pinho. Os padres o recolheram e enterraram. 
 
Confederação
 
Considerado uma espécie de continuação da Revolução de 1817, a Confederação do Equador se destacou como um dos principais movimentos de contestação ao reinado do imperador D. Pedro I, que ainda flertava com os portugueses mesmo com a independência do Brasil. 

O movimento começou em Pernambuco e atingiu outras províncias, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ganhou este nome em referência à proximidade do centro do conflito com a linha do Equador.

"Existia, desde o século XVII, uma série de relações comerciais, familiares, políticas, entre Pernambuco e as capitanias mais ao norte. Então essas relações foram se intensificando do ponto de vista intelectual a partir da fundação do Seminário de Olinda, porque várias pessoas vieram dessas províncias para estudar aqui e entrar em contato com os ideais libertários. Então, há toda uma série de conexões que faz com que, não só em 1824, mas também em 1817, a gente tenha essa adesão das capitanias da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará aos movimentos que eclodem aqui em Pernambuco", explica o  professor da UFPE e membro efetivo do Instituto, Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, George Cabral.

As principais causas da revolução, apontam os historiadores, foram a crise socioeconômica na região e o autoritarismo do imperador Dom Pedro I, que determinou o "poder moderador" na Constituição de 1824, a primeira do Brasil.

"A partir daí, o imperador manda uma comissão elaborar uma nova Constituição, que cria uma aberração que se chamava ‘poder moderador’. Esse ‘poder moderador’ seria exercido exclusivamente pelo imperador e praticamente ele interferia diretamente nos outros três poderes. Então isso anulava completamente o jogo de equilíbrio, de freios e contrabalanços que o sistema constitucional autêntico entre os poderes preconizava”, destaca o professor George Cabral.

As divergências entre o imperador e os constituintes resultaram em uma atitude drástica: o imperador mandou  tropas para fechar a Constituinte. 

Em 1824, outorgou a primeira Constituição brasileira, que lhe garantiu maior poder e disponibilidade de ação para atacar quem afrontasse sua autoridade ou a unidade do território brasileiro. Por isso, não seria tolerado nenhum tipo de revolta contra o governo central. 

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