LUTO

Amigos, familiares e autoridades comparecem ao velório de J. Borges e se despedem do xilogravurista

O velório do artesão aconteceu no Cemitério Parque dos Eucaliptos, no município de Bezerros, no Agreste do Estado

Publicado em: 26/07/2024 19:59 | Atualizado em: 26/07/2024 20:13

O velório do artesão aconteceu no Cemitério Parque dos Eucaliptos, no município de Bezerros, no Agreste do Estado (Foto: Jucelino Luiz/GECOM/PMB)
O velório do artesão aconteceu no Cemitério Parque dos Eucaliptos, no município de Bezerros, no Agreste do Estado (Foto: Jucelino Luiz/GECOM/PMB)
 
Sob forte comoção, amigos e familiares se despediram do xilogravurista pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges, que morreu aos 88 anos, nesta sexta-feira (26). 

O velório do artesão aconteceu no Cemitério Parque dos Eucaliptos, no município de Bezerros, no Agreste do Estado, e contou com a presença de parentes, autoridades e admiradores do xilogravurista. 

O sepultamento está previsto para acontecer neste sábado (27)., A causa da morte de J. Borges não foi divulgada por familiares.

O artista, conhecido mundialmente, é um dos mais famosos xilogravuristas do estado. Além disso, era um dos patrimônios vivos de Pernambuco. 


Além de amigos e familiares, algumas autoridades estiveram presentes para acompanhar o velório de J. Borges, entre eles, estão: o deputado federal Mendonça Filho, o deputado estadual Joãozinho Tenório e a prefeita de Bezerros Lucielle Laurentin. 

Trajetória

J. Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935 em Bezerros, no Agreste de Pernambuco, Ele iniciou a vida artística desde cedo, confeccionando brinquedos artesanais e vendendo livros de cordel. Com 21 anos de idade, começou a escrever cordéis e fez “O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina", que foi xilogravada por Mestre Dila. O cordel vendeu mais de cinco mil exemplares em apenas dois meses.

O trabalho do artista foi descoberto por colecionadores e marchands e ganhou visibilidade nacional. As gravuras de J.Borges foram utilizadas na televisão na década de 1970 e ele começou a gravar matrizes dissociadas dos cordéis, de maior tamanho. Com isso, o xilogravista chegou a expor suas obras em outros países, como Suíça, México e Estados Unidos. Além disso, ele chegou a dar aulas de xilogravura e entalhamento na Europa e nos Estados Unidos.

Ele também ilustrou a capa de livros de escritores como Eduardo Galeano e José Saramago, inspirou documentários e o desfile da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em 2018.
O artista J.Borges morreu aos 88 anos  (Foto: Arquivo/DP )
O artista J.Borges morreu aos 88 anos (Foto: Arquivo/DP )

Suas xilogravuras ganharam admiradores de peso, como o escritor Ariano Suassuna. O artista tem vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria Ação Educativa/Cultural.

Em Bezerros, foi inaugurado o Memorial J. Borges, com exposição de parte de sua obra e objetos pessoais. Em janeiro de 2022, o artista teve as obras expostas no Museu de Arte do Rio. A exposição “J. Borges – O Mestre da Xilogravura”, reuniu 40 xilogravuras, sendo 10 obras inéditas, 10 matrizes inéditas e as 20 obras mais importantes da sua carreira, com temas que retratam a trajetória de vida do artista.
 
J. Borges fez uma parceria de anos com o Diario de Pernambuco, assinando todas as artes do recall de marcas mais importantes do estado, o Marcas Preferidas, desde 2016. 

Autoridades prestam homenagens

Autoridades e políticos lamentaram a perda do artista. Leia as notas de pesar:
 
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente 
 
"Nos despedimos hoje de José Francisco Borges, o J. Borges, um dos maiores xilogravuristas do país. Autodidata, começou a trabalhar muito cedo no agreste pernambucano. Fiquei muito feliz de poder levar sua arte até o Papa. Meus sentimentos aos familiares, amigos e admiradores."
 
Ministério da Cultura
 
"Ministério da Cultura lamenta profundamente o falecimento de J. Borges, renomado xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano, que nos deixou nesta sexta-feira (26), aos 88 anos, em sua cidade natal, Bezerros, no Agreste de Pernambuco. Conhecido como um mestre da arte popular brasileira, Borges deixou um legado inestimável que transcende as fronteiras do país, ilustrando obras de escritores renomados como José Saramago e Eduardo Galeano.
 
Desde sua primeira xilogravura, a imagem da igrejinha, Borges encantou o Brasil com sua habilidade única de capturar a essência cultural do Nordeste em suas obras. Com uma trajetória artística que começou na carpintaria e na alvenaria, ele se encontrou na literatura de cordel e nunca mais parou de criar, contribuindo significativamente para a valorização e preservação da cultura popular brasileira.
 
Seu trabalho foi reconhecido com o título de Patrimônio Vivo Imaterial de Pernambuco e a Ordem do Mérito Cultural do Brasil em 1999, testemunhos de sua contribuição imensurável às artes e à cultura do país. O Ministério da Cultura se solidariza à família, amigos e todos aqueles que tiveram o prazer de conhecer e ser tocados por sua obra. J. Borges perdurará nas gerações futuras, perpetuando a rica tradição cultural do nosso país."
 
Raquel Lyra, governadora de Pernambuco
 
"J. Borges levou Bezerros, o Agreste e Pernambuco para o mundo. E vai deixar uma saudade imensa. Mas a sua grandiosidade permanecerá aqui pelas mãos de seus filhos, discípulos e centenas de xilogravuras que representam tão bem a nossa cultura. Meus pêsames aos familiares e amigos."
 
Priscila Krause, vice-governadora de Pernambuco
 
"A força da cultura pernambucana se confunde com a trajetória de artistas como J. Borges, que, infelizmente, perdemos nesta sexta-feira. Nascido em Bezerros, José Francisco Borges retratou como ninguém em suas poesias, cordéis e, claro, xilogravuras, nossa religiosidade, nossa alegria e também nossa bravura. Em nossos encontros, sempre fiz questão de reverenciá-lo e falar de sua importância para nossa cultura, que estará sempre presente nas nossas memórias. A J. Borges, obrigada por tudo e por tanto. Aos amigos e familiares, os meus sinceros sentimentos."
 
Secretaria Estadual de Cultura e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
 
"É com imenso pesar que o Governo de Pernambuco, a Secretaria Estadual de Cultura e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lamentam o falecimento do incomparável artista J Borges.
 
Em reconhecimento merecido pela sua contribuição com a cultura popular, através da xilogravura e na arte do cordel, J Borges é – eternamente – Patrimônio Vivo de Pernambuco. Com a identidade visual de suas obras atrelada imediatamente às raízes pernambucanas, o artista levou o nome de Bezerros e de Pernambuco ao redor do mundo.
 
“Hoje a cultura pernambucana amanheceu de luto. Muito triste a partida de alguém que foi tão definidor para identidade cultural pernambucana como J.Borges. Perdemos hoje um dos maiores filhos do nosso Agreste, responsável por talhar visualmente o imaginário da história e cotidiano do povo nordestino e brasileiro. Encontramos conforto em seu legado, na sua grandeza e nas diversas oportunidades que tivemos de celebrá-lo ainda em vida”, declara a secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula.
 
“É impossível pensar a identidade visual da cultura nordestina sem pensar no trabalho de J.Borges. Nomes de igual brilho, como Ariano Suassuna, perceberam isso desde cedo e não tinha como ser diferente. Em Pernambuco, não se anda muito longe sem se ver a influência visual e artística desse bezerrense pelas praças, muros, ruas e lares. Sentimos muito essa partida, mas seguiremos aqui, propagando seu legado como pudermos”, completa a presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Renata Borba.
 
Matuto esperto e comunicativo, o exímio talhador de madeira tem em seu currículo trabalhos relevantes ao lado de Ariano Suassuna, obras no acervo da Biblioteca Nacional de Washington e a edição comemorativa dos 400 anos do D. Quixote, de Miguel de Cervantes, com uma versão em cordel da referida novela de cavalaria.
 
No Agreste pernambucano, a cidade de Bezerros abriga seu espaço, o Memorial J.Borges onde o gravurista atuava, junto aos seus filhos e herdeiros de legado, e onde podem ser encontrados diversos exemplares das suas obras." 
 
João Campos, prefeito do Recife
 
J. Borges gravou na madeira as histórias de um Nordeste realista, fantástico e armorial. Dono de um sorriso largo, era patrimônio de Pernambuco e gênio da cultura popular reconhecido no Brasil e no mundo. As novas histórias de cordéis deverão contar, em breve, a generosidade e a sensibilidade em tudo que fazia. Sabia unir seu olhar singular para a vida com uma capacidade indecifrável de retratar versos. Sempre que passava por Bezerros, no Agreste, fazia questão de vê-lo e de admirar a sua arte. A partida dele, deixa Pernambuco com o “coração na mão”, como ele mesmo gravou. Em toda parte, J. Borges vai deixar muita saudade. 
 
Milu Megale, secretária de Cultura do Recife 
 
“Mais que uma vasta e belíssima obra, J.Borges deixa uma estética como legado. O artista inaugurou uma forma de traduzir e celebrar a realidade nordestina, que para sempre será uma das mais fiéis linguagens a depor sobre as belezas da nossa cultura popular para o mundo inteiro entender quem somos e de onde viemos."
 
Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife
 
“Além de seu imenso talento, J. Borges tinha uma generosidade maior ainda. Estava sempre encontrando novos caminhos para dialogar com o futuro e transmitir sua arte para quem quisesse aprender, perpetuando seu jeito único de enxergar e celebrar o Nordeste para o mundo."
 
Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco
 
"Pernambuco e o Brasil perdem hoje um dos seus mais importantes artistas. Grande poeta, cordelista e xilogravador, J. Borges fez da sua arte instrumento para difundir e popularizar a cultura pernambucana e nordestina, retratando costumes, folguedos, o cangaço e a religiosidade de nossa gente. 
 
Nascido em Bezerros, no Agreste, teve seu trabalho reverenciado no Brasil e no mundo. Foi reconhecido como Patrimônio Vivo Imaterial de Pernambuco, recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Brasil e ainda o prêmio Unesco, na categoria Ação Educativa/Cultural. 
Ou seja, o talento de J. Borges cruzou as fronteiras do estado e do país, enchendo os pernambucanos de admiração e orgulho e nos dando a certeza de que sua arte é eterna. 
A Assembleia Legislativa se solidariza com familiares e amigos. Que Deus possa confortá-los neste momento de dor e saudade".
 
Rodrigo Pinheiro, prefeito de Caruaru 
 
"Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da partida do mestre da xilogravura, J. Borges. Sua arte faz parte do imaginário pernambucano, encantando a todos que a conhecem, ilustrou o nosso São João no ano de 2019 e tantos outros momentos especiais. Neste momento de tristeza, me solidarizo com a sua família e amigos, pedindo a Deus que conforte os seus corações.  Fica a saudade e a certeza de que seu legado será sempre preservado. Descanse em paz!"
 
Marília Arraes, ex-deputada
 
"Partiu J. Borges, o artista que levou Pernambuco e o Nordeste para o mundo, com seus traços que retratam tanto o dia a dia do nosso povo. Que privilégio eu tive de poder expressar pra ele meu carinho e gratidão por tanto que fez pela nossa cultura! E, claro, conhecer, além da sua arte, suas histórias e sua alegria imensa em desfrutar a vida! Um abraço em Nena e sua família numerosa, além dos seus muitos amigos, que Deus conforte o coração de vocês. Vai em paz, que tua missão por aqui foi linda!"
 
Henrique Dantas, superintendente do Banco do Brasil em Pernambuco 
 
"O Banco do Brasil lamenta o falecimento do artista J. Borges. Com sua arte, levou a cultura de Pernambuco e do Nordeste para os quatro cantos, com reconhecimentos nacionais e internacionais. Durante a sua vida, J. Borges nos entregou o seu coração através da sua arte de diversas formas. No Coração da Poesia, ele disse que "o coração é um órgão que trabalha noite e dia, uma hora traz desgosto outra traz muita alegria, é quem inspira o poeta e de onde sai poesia."
 
No BB, J.Borges foi reconhecido em exposições em seus Centros Culturais no Rio, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. Sua arte e da sua família também estão permanentemente expostas no .BB, inaugurado no último mês de março no Recife Antigo. Com a obra o "Coração na Mão", ele presenteou o seu coração aos nordestinos e ao mundo, por exemplo. Bacaro e Pablo, nossos mais profundos sentimentos. Vocês são o legado do Mestre que estará para sempre em nossos corações.
 
Como apoiador e incentivador da cultura e diversidade brasileiras, o Banco do Brasil se solidariza à dor da família com as mais sinceras condolências neste momento de grande perda."