Febre Oropouche

OPAS analisa caso de feto infectado por Oropouche em Pernambuco e emite alerta para cinco países

Pernambuco já possui 86 casos da doença e duas mortes

Publicado em: 26/07/2024 11:48 | Atualizado em: 26/07/2024 11:49

Oropouche é uma doença transmitida por vetores, principalmente por meio de picadas de um inseto comumente conhecido como maruim (Foto: Bruna Lais Sena do Nascimento/Laboratório de Entomologia Médica/SEARB/IEC)
Oropouche é uma doença transmitida por vetores, principalmente por meio de picadas de um inseto comumente conhecido como maruim (Foto: Bruna Lais Sena do Nascimento/Laboratório de Entomologia Médica/SEARB/IEC)
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu alerta epidemiológico em julho sobre um aumento nos casos notificados do vírus Oropouche (OROV) em cinco países da América, sendo eles o Brasil, Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia. O vírus tem se espalhado rapidamente e Pernambuco já contabiliza 86 casos da doença.

O caso de uma gestante que perdeu um bebê infectado pelo vírus Oropouche está sendo investigado por autoridades para saber se há retenção entre o vírus e a morte do feto, que estava na 8ª semana. O caso aconteceu no final de junho no município de Jaqueira, na Zona da Mata Sul.

A Mulher apresentou sintomas como febre, cefaleia, lombalgia, dor esquelética, artralgia, dor retro-orbital, calafrios, fotofobia, náusea, prurido e alteração do paladar. De acordo com a Opas, o caso está em ivestigação e “foi observada hemorragia uterina durante a 6ª semana de gestação, com aborto em 27 de junho de 2024, na 8ª semana de gestação".

Outro caso de infecção de feto pelo vírus Oropouche também foi registrado no Estado. A mulher perdeu o bebê que estava na 30ª semana de gestação e mora em Rio Formoso, na Zona da Mata Sul.

O que é o Oropouche?

Oropouche (OROV) é um arbovírus e membro da família Peribunyaviridae. Foi detectado pela primeira vez em 1955, perto do Rio Oropouche em Trinidad, seguido por vários surtos no Brasil no final do século passado. 

Em 2024, mais de 7.700 casos de OROV foram relatados em cinco países das Américas: Brasil (6.976 casos até meados de 2024), Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia (até 23 de julho de 2024).

Como é transmitido?

Oropouche é uma doença transmitida por vetores, principalmente por meio de picadas de um inseto comumente conhecido como maruim (Culicoides paraensis). Também pode ser transmitido pelo Culex quinquefasciatus.

Quais são as manifestações clínicas do Oropouche?

Os sintomas incluem início súbito de febre, dor de cabeça, rigidez nas articulações, dores no corpo e, em alguns casos, fotofobia, diplopia (visão dupla), náusea e vômitos persistentes. Os sintomas podem durar de cinco a sete dias. Raramente, casos graves podem incluir meningite asséptica. A recuperação completa pode levar várias semanas.

As pessoas podem morrer de Oropouche?

Em 25 de julho de 2024, as autoridades brasileiras registraram duas mortes. A literatura científica anterior não havia atribuído mortes à febre Oropouche.

O Oropouche pode ser transmitido de mãe grávida para o feto?

Casos suspeitos de transmissão de mãe grávida para o feto foram relatados nas últimas semanas e estão sob investigação. Uma mulher grávida em Pernambuco, Brasil, apresentou sintomas de Oropouche durante a 30ª semana de gestação. Após a confirmação laboratorial do vírus, foi relatado óbito fetal. 

Um segundo caso suspeito foi relatado no mesmo estado, onde sintomas semelhantes foram observados e resultaram em um aborto espontâneo. A possível transmissão vertical e as consequências no feto ainda estão sob investigação. A OPAS emitiu um alerta em 18 de julho para informar aos países sobre essa possível transmissão e solicitar uma maior vigilância.

Esta é a primeira vez que há transmissão de mãe para filho?

Até o momento, o Brasil é o único país a relatar possíveis casos de transmissão de Oropouche de mãe para feto durante a gravidez. A única observação semelhante anterior foi durante um surto de Oropouche em Manaus entre 1980 e 1981, onde o vírus foi detectado em nove mulheres grávidas e dois abortos.

Como é diagnosticado o Oropouche?

Oropouche é confirmado por exame laboratorial. Atualmente, não existe um teste rápido. Em Pernambuco, os exames são feitos através do Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE) após serem feitas análises de infecção por outras arboviroses, como dengue, zika e chikungunya.

O que devo fazer se achar que tenho Oropouche?

Se você acha que tem sintomas de Oropouche, entre em contato com um profissional de saúde para obter aconselhamento, testes e cuidados médicos.

Existe tratamento para Oropouche?

Atualmente, não existe um tratamento específico para Oropouche. A avaliação por um profissional de saúde é fundamental para o manejo adequado dos sintomas e da evolução da doença. Como Oropouche tem manifestações clínicas semelhantes às do dengue e de outros arbovírus, é importante que os profissionais de saúde considerem diagnósticos diferenciais e tratem os pacientes de acordo.

Como posso prevenir o Oropouche?

Medidas recomendadas incluem proteger as casas com redes de malha fina nas portas e janelas, bem como em camas e móveis onde as pessoas descansam; usar roupas que cubram pernas e braços; aplicar repelentes contendo DEET, IR3535 ou icaridina. Como os maruins são muito menores que os mosquitos, as redes tradicionais para mosquitos não protegem contra suas picadas.

Há risco de isso se tornar um surto maior?

Embora os surtos atuais permaneçam sob investigação, a OPAS aconselhou os países afetados a fortalecerem a vigilância e implementarem medidas de controle de vetores para ajudar a prevenir um aumento adicional nos casos.

Se eu tiver Oropouche, posso pegá-lo novamente?

Quatro genótipos de Oropouche foram identificados. A infecção por qualquer genótipo gerará anticorpos para proteger contra a reinfecção futura.

Quem está mais em risco de contrair a doença?

Todas as pessoas que vivem em áreas com transmissão de arbovírus, incluindo Oropouche, devem tomar precauções para prevenir picadas de mosquitos e maruins. Isso inclui pessoas com condições preexistentes, idosos, crianças pequenas e mulheres grávidas.

O que a OPAS recomenda para os países que enfrentam surtos?

A OPAS pede aos países que implementem ações de prevenção e controle de vetores, incluindo o fortalecimento da vigilância entomológica, a redução das populações de mosquitos (e outros insetos transmissores) e a educação da população sobre medidas de proteção pessoal. 

A OPAS também emitiu diretrizes para auxiliar os países na detecção e vigilância do vírus Oropouche em possíveis casos de infecção vertical, malformação congênita e morte.

O que a OPAS está fazendo para enfrentar os surtos atuais?

A OPAS continua fornecendo suporte técnico contínuo aos países afetados para fortalecer sua capacidade de detectar e caracterizar o vírus Oropouche. Isso inclui a distribuição de reagentes para a detecção molecular simultânea e um protocolo que está atualmente disponível em 23 países para facilitar a detecção precoce do vírus. 

A OPAS também organizou workshops internacionais sobre a vigilância molecular de arbovírus emergentes e reemergentes, incluindo o OROV.