A Operação Integration, que prendeu a influenciadora digital Deolane Bezerra, de 36 anos, por suspeita de lavagem de dinheiro, começou em uma batida policial em uma banca de apostas da rede “Caminho da Sorte”, na Estrada dos Remédios, em Afogados, Zona Oeste do Recife, há quase dois anos.
Era 1º de dezembro de 2022. Na lotérica, que é ligada ao empresário Darwin Henrique da Silva, de 59 anos, os agentes encontraram R$ 180 mil, em espécie, escondidos em um cofre, além de cadernos de contabilidade que mostravam uma arrecadação de R$ 11 milhões.
“Este valor apurado em 11 meses equivale a uma média de arrecadação mensal de R$ 1.045.736,23”, detalha o relatório da investigação, obtido pelo Diario de Pernambuco.
Um dos sócios da rede era o próprio filho do dono: Darwin Henrique da Silva Filho, de 33, que também é CEO da empresa Esportes da Sorte. Com base nas anotações, os investigadores afirmam ter identificado uma “relação umbilical” entre o dinheiro proveniente de jogo do bicho e de apostas esportivas.
O desenrolar do inquérito revelou uma suposta organização criminosa, encabeçada por pai e filho, que seria responsável por lavar bilhões de reais do jogo do bicho e cassinos virtuais em esquemas envolvendo movimentações em contas de parentes, realização de eventos e compra e venda de bens de luxo.
Nesta semana, o Diario revelou quem são os 20 indiciados na operação e o papel de cada um, segundo a polícia.
Quem é Darwin Filho
Preso preventivamente na Operação Integration, Darwin Filho teve R$ 40 milhões bloqueados pela Justiça. No inquérito, a Esportes da Sorte é considerada como a “ponta do iceberg” de um esquema que envolvia outra bet e facilitadoras de pagamento.
Para lavar dinheiro, o investigado também usava a empresa da irmã, Marcela Tavares, e realizava transferências para sua esposa, Maria Eduarda Quinto Filizola, a madrasta, Giorgia Duarte Emerenciano, e a mãe, Maria Aparecida Tavares de Melo, segundo a investigação.
Em relatório financeiro feito entre os anos de 2019 e 2022, a polícia percebeu diferença de quase R$ 8 milhões nos valores declarados no imposto de renda de Marcela e o seu patrimônio. Neste período, ela declarou R$ 1,3 milhão, enquanto registrou movimentação financeira de mais de R$ 9 milhões.
“Marcela declarou bens avaliados em R$ 6.263.972,3 à Receita Federal Brasileira (RFB) e apresentou gastos de notas fiscais em seu nome no montante de R$ 2.223.526,67, com destaque para aquisição de veículos e um gerador”, diz a investigação. “Há, portanto, uma diferença gritante de R$ 7.771.185,13 entre os valores que Marcela declarou à RFB e movimentou em contas bancárias”.
Empresas de Darwin
Com Darwin Filho como o único proprietário, a HSF Entretenimento e Promoção de Eventos Esportivos, teve, por sua vez, o bloqueio de bens de R$ 150 milhões.
Ainda de acordo com a investigação, a HSF Entretenimento e Promoção de Eventos Esportivos é “sem nenhuma sombra de dúvidas por todos indícios” o nome oficial da Esportes da Sorte.
O site da Esportes da Sorte afirma que a empresa é operada pela HSF GAMING N.V, que tem sede no exterior.
“Tal situação é uma burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à Holanda, um paraíso fiscal, mas que, na verdade, a Esportes da Sorte é do Recife”, diz o documento.
Ligação com Deolane
Em julho de 2023, a Esportes da Sorte importou uma Lamborghini Urus, no valor de R$ 4 milhões, sem restrições, o que indica que ela foi comprada com dinheiro em espécie.
Apenas quatro meses depois, o carro de luxo foi transferido para uma empresa em que Deolane Bezerra, uma das pessoas patrocinadas pela casa de apostas, tem 98% das cotas. Foi o episódio que fez a influenciadora entrar na mira da investigação.
Pela análise de dados do Córtex, sistema federal que monitora placas de carro, os investigadores descobriram que a Lamborghini não circulou por Pernambuco. Um post feito por Deolane no Instagram, com mais de 1 milhão de curtidas, também ajudou na identificação do veículo.
“Dando o zoom na foto postada acima, verifica-se que a placa do automóvel é o que havia sido adquirido anteriormente pela empresa”, diz o relatório.
Para a investigação, a rápida transferência do veículo para Deolane demonstraria “nitidamente a tentativa de ocultar/dissimular patrimônio adquirido com a lavagem de dinheiro por parte da Esportes da Sorte e de seu proprietário Darwin Henrique, pois a empresa teria permanecido em posse do automóvel por meros quatro meses”.
Deolane pode ser solta
Nessa sexta-feira (20/9), o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) entendeu que não havia elementos suficientes ainda para oferecer denúncia à Justiça e pediu para a Polícia Civil investigar mais. A promotoria também deve solicitar que investigados sejam soltos, com as prisões preventivas substituídas por outras medidas cautelares.
Leia a notícia no Diario de Pernambuco