Segurança pública

Empresa que lidera edital de câmeras de monitoramento no estado já teve falhas no RJ e SP: ''problema de internet todo mundo tem, né'?'

Com histórico de problemas em outros estados, a L8 Group SA foi autora da menor proposta no pregão eletrônico para operar 2 mil câmeras de videomonitoramento em Pernambuco; empresa alegou ''vasta experiência'' capacidade técnica

Publicado em: 05/09/2024 05:10 | Atualizado em: 05/09/2024 08:01

Câmeras de segurança voltarão a operar no Estado  (Foto: Ruan Pablo/DP)
Câmeras de segurança voltarão a operar no Estado (Foto: Ruan Pablo/DP)
Com lance de R$ 123 milhões, a L8 Group SA foi a autora da menor proposta e lidera a concorrência para operar o parque de 2 mil câmeras de videomonitoramento em Pernambuco. O pregão foi realizado na semana passada e registrou, ao todo, 17 empresas participantes.

Conhecida por disputar diversas licitações no país, a L8 Group tem sede no Paraná e já protagonizou uma série de dificuldades para implementar sistemas de segurança em outros estados. Procurada, a companhia diz ter “mais de 10 anos de atuação no mercado” e “vasta experiência” em segurança eletrônica e cibersegurança.

No Rio de Janeiro, a empresa respondeu por suspeitas de irregularidades no contrato com a Polícia Militar. Já em São Paulo, foi eliminada ainda na fase de testes – ocasião em que câmeras de vigilância apresentaram problemas até para se conectar à internet. Também foi desclassificada na Bahia por não cumprir pré-requisitos básicos do projeto.

O edital de Pernambuco foi lançado em junho, pelo governo Raquel Lyra (PSDB), e prevê que os equipamentos de vigilância, instalados em vias públicas, tenham programas de inteligência artificial capazes, por exemplo, de rastrear carros e detectar aglomerações.

A Secretaria de Defesa Social (SDS) afirma que a licitação ainda está na fase de análise de documentos da empresa vencedora do pregão. O sistema de videomonitoramento está sem funcionar no estado desde dezembro de 2023.
 
“Problema de internet todo mundo tem”

No ano passado, a L8 Group também ganhou o pregão do Smart Sampa, o principal projeto de segurança da prefeitura de São Paulo, para instalar 20 mil câmeras nas ruas da cidade. A empresa, no entanto, acabou eliminada da concorrência paulistana durante a prova de conceito em julho de 2023.

Na ocasião, a companhia deveria demonstrar a sua capacidade técnica para operar o sistema. O relatório oficial, ao qual o Diario de Pernambuco teve acesso, apontou uma série de falhas como ausência de controle de acesso unificado, falta de comprovação do número mínimo de câmeras integradas à sua plataforma e até falhas de conexão.

“Você sabe que problema de internet todo mundo tem, né?”, justificou representante da L8 Group, ao ser questionado pelos técnicos presentes na avaliação, conforme o relatório. “Horário de almoço é complicado, muita gente fazendo download, impacta no link de internet mesmo. Pode ser por isso que as câmeras não estão funcionando”. O argumento foi considerado "sem sentido" pela comissão julgadora.

Em nota, a companhia contesta sua eliminação nos editais de São Paulo e da Bahia, onde também foi desclassificada após disputar o processo para instalar câmeras nas fardas de PMs.

“Em ambos os casos, a L8 Group venceu os certames e apresentou as soluções mais vantajosas para a administração pública, amplamente testadas e competentes na entrega do escopo proposto”, alega. “Recomendamos fortemente que o MP investigue tais processos onde (sic) a administração pública optou por soluções mais caras que as da L8.”

Capacidade técnica

Já no Rio de Janeiro, a empresa venceu licitação para instalar câmeras em viaturas e fardas de PMs e foi notificada pela corporação, em outubro de 2023 e em janeiro deste ano, por supostas irregularidades. Entre elas, estão atraso em entregas de cronograma, falta de integração entre os equipamentos e ausência de especialistas para melhorar configurações de reconhecimento facial nas câmeras.

Apesar das contestações, a L8 diz que o projeto é "amplamente reconhecido pelo seu sucesso" e que a "solução instalada é a mais avançada e segura do Brasil". "Inclusive, vale manifestar que os contratos do Rio estão todos sendo renovados, o que atesta a capacidade da empresa na gestão de projetos deste porte", defende.

Na nota, a companhia também diz prestar serviços para outros órgãos públicos, como a Polícia Federal e o Supremo Tribunal de Justiça, e que acabou de assinar o contrato com a Polícia Militar de Rondônia.

Na licitação em Pernambuco, a L8 apresentou, ainda, atestado de capacidade técnica que é assinado por representante de outra empresa privada, a SegD’Boa, sobre prestação de serviço de videomonitoramento dentro da sede de uma companhia da Polícia Militar paulista, em Osasco, na Grande São Paulo.

Um dos itens do edital, entretanto, prevê que “para efeito de qualificação e habilitação técnica da licitante não serão computados os atestados técnicos provenientes de subcontratações”.

“Em relação ao contrato com a SegD'Boa, a L8 informa que seu contrato não é com a PMESP [Polícia Militar do Estado de São Paulo], e sim com a SegD'Boa, e vocês estão convidados a conhecerem as instalações”, respondeu a empresa, ao ser questionada pela reportagem sobre o documento.

Já a SDS diz que “a validade de qualquer documento, incluindo atestados de capacidade técnica e possíveis subcontratações, será avaliada rigorosamente conforme o rito estabelecido, garantindo a transparência e a integridade do processo”.