PERIGO

Atropelamentos e mortes: ciclistas enfrentam perigo e se arriscam diariamente nas ruas do Recife

Casos recentes mostram o desafio para quem precisa pedalar para trabalhar ou quem usa a bicicleta para lazer e atividades físicas

Publicado em: 14/10/2024 05:11 | Atualizado em: 14/10/2024 05:10

Bicicleta de ciclista que morreu atropelado
 (Foto: Marina Torres/ DP 
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Bicicleta de ciclista que morreu atropelado (Foto: Marina Torres/ DP )
Em menos de um mês, o Recife registrou uma sequência de quatro atropelamentos com mortes de ciclistas.  

Cenas trágicas que viraram rotina.  

Afinal, disputar espaço com carros, ônibus e motos é um verdadeiro desafio diário para quem precisa sair de casa para trabalhar ou quem usa a bicicleta como meio de lazer e de atividades físicas.  

Homens e mulheres, de várias idades, foram atropelados, nos últimos dias, em locais diferentes da cidade, acendendo um alerta.  

Têm muito mais ciclistas nas ruas atualmente e eles precisam ser respeitados.  

Com o passar do tempo, a combinação de tarifas elevadas, a precariedade do transporte público e o alto custo para comprar um carro ou uma moto empurrou muita gente a ter o pedal como principal meio de transporte.  

Cada vez mais, quem anda de bicicleta sofre com o desrespeito às leis do trânsito e exige soluções.   

Embora as autoridades e as entidades que lutam pelos direitos dos ciclistas não tenham dados oficiais atualizados sobre as mortes e acidentes, é possível ter uma ideia de como é difícil pedalar na cidade. 

A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) aponta que, de janeiro a junho de 2024, foram emitidas 726 multas por infrações em ciclofaixas.  

Isso significa mais de 120 notificações de desrespeito a áreas exclusivas para bicicletas a cada mês, na capital.  

Mortes Recentes 
 
Família de ciclista atropelado (Foto: Marina Torres/ DP 
)
Família de ciclista atropelado (Foto: Marina Torres/ DP )
 

Em 16 de setembro, dois ciclistas foram atropelados em locais distintos da Zona Norte do Recife, sendo um atingido por um ônibus no bairro de Parnamirim e o outro por um micro-ônibus em Beberibe. 

No dia 26 de setembro, Ana Gabriela Sena de Barros, de 20 anos, faleceu dois dias após ser atingida por uma moto na Avenida Beira Rio, no bairro da Torre. 

Em 9 de outubro, um homem de 52 anos foi atropelado por um ônibus no bairro de Afogados. 

Dificuldades 

O ciclista Victor Brayner, morador do bairro da Torre, na Zona Oeste, utiliza a bicicleta diariamente como meio de transporte para ir ao trabalho.  

Em entrevista ao Diario, ele contou que as maiores dificuldades enfrentadas estão no estado precário do asfalto nas bordas das pistas, na falta de sinalização e na ausência de fiscalização para multar motoristas de carros e motos que desrespeitam as ciclofaixas. 

É uma sensação mista. O estado das ciclovias de Recife é péssimo e não existe preservação do que já temos. Ao mesmo tempo que uma parte da cidade tem ciclovia, a outra não tem. Além disso, os motoristas recifenses não gostam de ciclistas. Somos vistos como inferiores, maltratados e sujeitos a todo tipo de violência, como fechadas, buzinadas e gritos. Isso sem contar a insegurança geral quando carros, motos e ônibus passam em alta velocidade a menos de um metro da bicicleta. Os 'quase' sinistros são diários”, desabafou Victor. 

O entregador por aplicativo, Pedro Gomes, também relatou a sua experiência: “Eu faço entregas na minha bicicleta e não tem um dia que eu não sofra um risco. Sempre tem algo que atrapalha o trajeto, como materiais de obras, bueiros sem tampa, carro estacionado, motos fazendo ultrapassagens erradas. É difícil demais.” 

A segurança dos ciclistas depende, principalmente, do respeito às leis de trânsito. É fundamental que motociclistas e demais condutores se conscientizem de que também são responsáveis pela segurança dos ciclistas.    

Possíveis Soluções 

Bárbara Barbosa, coordenadora da Ameciclo, uma associação que defende os direitos e a segurança dos ciclistas no Recife, enfatiza que “as ciclofaixas e ciclovias são feitas com o propósito de proteger quem anda de bicicleta; se não protegem, então não funcionam.”  

Ela destaca que, nos últimos anos, as ciclovias não têm funcionado como deveriam e sugere a necessidade de ciclofaixas nas dez principais avenidas da cidade.  

"É preciso de políticas de conscientização sobre como os ciclistas devem ser vistos como meios de transporte também, já que fazemos parte do trânsito. Precisamos de proteção e de melhorias na fiscalização de veículos que não respeitam nossos pequenos espaços", afirmou Bárbara. 
 
Motociclista na faixa dos ciclistas (Foto: Reprodução das redes sociais)
Motociclista na faixa dos ciclistas (Foto: Reprodução das redes sociais)
 

O que diz a lei  

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), transitar com o veículo automotor em ciclofaixa ou ciclovia é uma infração de natureza gravíssima com fator multiplicativo três, somando sete pontos na carteira e multa no valor de R$ 880,41. 

Algumas orientações para os condutores no que diz respeito aos ciclistas, previstas no Código de Trânsito Brasileiro, além de não invadir as rotas cicláveis, são: 

  • Manter o mínimo de 1,5 m de distância de quem pedala, para evitar colisões e quedas; 
  • Obedecer à velocidade regulamentada da via, comportamento que evita sinistros e diminui a mortalidade; 
  • Dar prioridade aos ciclistas, uma vez que são usuários mais vulneráveis no trânsito 

O que diz a Prefeitura do Recife 

A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informa que a Prefeitura do Recife tem uma política totalmente voltada para a segurança viária da população, a fim de evitar sinistros e, principalmente, mortes no trânsito da cidade. 

A autarquia vem trabalhando também com campanhas educativas, sobretudo junto aos motoristas das empresas de transporte coletivo em relação ao respeito aos ciclistas e normas de conduta previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A entidade municipal também intensificou as blitzes, com foco sobretudo na velocidade, que podem evitar que sinistros levem as vítimas ao óbito. 


Planejamento 

De acordo com o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC-RMR), entre 2014 e 2024, a capital pernambucana registrou um aumento na malha cicloviária, passando de 24 km para 195,5 km de ciclovias. 

Um exemplo desse avanço é a criação do corredor cicloviário da Avenida Agamenon Magalhães, com quatro quilômetros de extensão, que conecta as Zonas Norte, Sul e o Centro, beneficiando cerca de 7,5 mil ciclistas diariamente. Atualmente, 97% da malha cicloviária da cidade está conectada.