Cadernos

DP+

Blogs

Serviços

Portais

Vida Urbana

Estudo universitário aponta os efeitos das mudanças climáticas na saúde e alimentação

Além dos impactos visíveis no meio ambiente, como secas e inundações, a crise climática afeta diretamente a nossa saúde e os sistemas que garantem a produção de alimentos


Um estudo universitário realizado entre pesquisadores de universidades públicas do Brasil analisou os efeitos das mudanças climáticas na saúde e na alimentação da população global. O tema é um dos questionamentos abordados no artigo "Nexus among climate change, food systems, and human health: An interdisciplinary research framework in the Global South" (O nexo entre a mudança climática, sistemas alimentares e saúde humana: Uma estrutura de pesquisa interdisciplinar no Sul Global).

Participaram no projeto pesquisadores da UFPE, USP, UFRN, UFPA e UFPB, os quais também integram a Resiclima. A Rede Resiclima é uma colaboração interinstitucional que reúne pesquisadores dedicados ao estudo das mudanças climáticas.

"A relação entre as mudanças climáticas e a saúde humana se tornou um dos maiores desafios globais. Além dos impactos visíveis no meio ambiente, como secas e inundações, a crise climática afeta diretamente a nossa saúde e os sistemas que garantem a produção de alimentos", explica Ulysses Paulino Albuquerque, cientista, professor da UFPE e coordenador geral da Resiclima. De acordo com ele, no Sul Global — região que inclui países da América Latina, África e Ásia — os efeitos são ainda mais severos, devido a outros problemas como pobreza e desigualdade, que aumentam a vulnerabilidade diante das mudanças do clima.

De acordo com o estudo, a produção de alimentos é um dos principais motores das mudanças climáticas, responsável por até 37% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. A criação de gado e o cultivo de alimentos básicos, como trigo e arroz, geram diferentes impactos ambientais, contribuindo significativamente para o aquecimento global. A expansão agrícola, muitas vezes em áreas florestais, também é uma das grandes causas do desmatamento, o que piora ainda mais a situação climática.

Essas mudanças no clima afetam tanto a quantidade quanto a qualidade dos alimentos que chegam para a população de forma geral, o que pode gerar insegurança alimentar e desnutrição, principalmente entre as parcelas mais pobres. Para agravar a situação, alimentos menos nutritivos e mais baratos, que passam por ultra processamentos, acabam figurando como única opção acessível para muitas famílias, o que contribui para a chamada "dupla carga" da má nutrição, em que pessoas sofrem ao mesmo tempo com a desnutrição e a obesidade.

Mudanças climáticas e problemas de saúde

Ainda de acordo com as conclusões levantadas, a elevação das temperaturas pode gerar mais hospitalizações e até mortes, especialmente entre os idosos. Aumento de doenças infecciosas, como dengue e malária, foi identificado em várias regiões, em parte devido ao aquecimento global que favorece a proliferação de mosquitos transmissores dessas doenças. Problemas respiratórios e cardiovasculares também se tornam mais frequentes à medida que o clima muda e a qualidade do ar piora.

"Governos precisam de uma nova abordagem para enfrentar essa crise, com políticas que integrem saúde, agricultura, água e gestão de desastres. A justiça climática deve ser um princípio orientador, garantindo que os mais vulneráveis, como mulheres, crianças e comunidades marginalizadas, não sejam deixados para trás", defende Albuquerque.

Para o cientista, é urgente que os governos adotem políticas que promovam uma transição climática justa, equilibrando os interesses econômicos e ecológicos com a saúde pública. "Apenas assim poderemos construir um futuro resiliente e sustentável para as próximas gerações", conclui.

Sobre a Resiclima

A Rede Resiclima é uma organização interinstitucional que reúne pesquisadores que se dedicam aos estudos das mudanças climáticas. A rede promove uma abordagem integrada para entender as variadas dimensões das transformações climáticas e suas implicações.

 Originária de diversas instituições acadêmicas, como UFPE, UFRPE, UFPB, UPE, UFMA, Unifesspa, UNIVASF, UNEAL, UFAL, USP, UnB, UFRN, PUC-Rio, UFU, Universidad Nacional del Comahue (Argentina), Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo (México), Universidade do Michigan (EUA), Universidade de Turku (Finlândia) e Universidade de Osnabrück (Alemanha), a rede promove uma abordagem integrada para entender as variadas dimensões das transformações climáticas e suas implicações.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco