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Praia de Barra de Jangada e Ilha do Amor (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira) |
Nas últimas décadas, Jaboatão dos Guararapes, a segunda maior cidade de Pernambuco, vem passando por uma notável evolução urbana e econômica.
Com uma localização estratégica e um crescimento acelerado, a cidade se destacou no cenário estadual como um importante centro industrial e comercial.
No entanto, como muitas outras cidades brasileiras, Jaboatão também enfrenta desafios em sua infraestrutura, refletidos na urbanização desordenada, na preservação do patrimônio histórico e nas necessidades básicas da população.
O crescimento de Jaboatão tem sido acompanhado por uma explosão demográfica: com quase 700 mil habitantes, é hoje um município diverso e em constante movimento.
A cidade é conhecida por sua rica história, pela proximidade do Recife e por ser palco de importantes eventos históricos, como a Batalha dos Guararapes, marco da resistência contra a invasão holandesa no século XVII.
Esse passado contrasta com a realidade de hoje, onde se busca equilibrar o desenvolvimento com a preservação cultural e o bem-estar dos moradores.
O Diario de Pernambuco resgatou fotos históricas do acervo, de meados da segunda metade do século XX, e percorreu alguns pontos de Jaboatão dos Guararapes para mostrar a evolução urbanística da capital. Imagens feitas fielmente com equipamentos como drones deixam clara a mudança arquitetônica da cidade.
Hoje, quem percorre estas localidades não costuma pensar que nem sempre elas foram desse jeito, asfaltadas, com sinalização e com muitos prédios.
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Praia de Piedade sentido Candeias (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira) |
A Ponte entre Recife e Suape
Com sua localização privilegiada entre o Recife e o Porto de Suape, Jaboatão desempenha um papel estratégico para a economia pernambucana.
O município se destaca por seu diversificado setor comercial, que representa mais de 50% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Grandes bairros comerciais, como Cavaleiro, Jaboatão Centro e Prazeres, movimentam o comércio local, enquanto Piedade abriga o Shopping Guararapes, um dos mais visitados de Pernambuco.
A presença do distrito industrial fortalece ainda mais a economia local. Nele estão instaladas grandes empresas, como Coca-Cola, Unilever, Arno, Basf e Vitarella, além de importantes centros logísticos, como o da Rede Walmart e da Nestlé.
Essa integração entre comércio e indústria transforma Jaboatão em um espaço econômico, conectando a capital ao interior e ao porto, impulsionando o desenvolvimento em diversos setores.
A história
Fundada oficialmente em 1593, Jaboatão dos Guararapes possui uma trajetória marcada por acontecimentos históricos que moldaram não só o estado de Pernambuco, mas também o Brasil. A primeira extensão territorial foi concedida para intensificar a produção agrícola do cultivo da cana-de-açúcar.
A cidade é o berço da Batalha dos Guararapes, que, em 1648 e 1649, definiu a expulsão dos invasores holandeses, sendo considerada o embrião da criação do Exército Brasileiro.
O local onde ocorreram os combates, o Monte dos Guararapes, é um importante ponto turístico e de visitação, oferecendo uma vista panorâmica e abrigando o Parque Histórico Nacional dos Guararapes, que preserva parte desse legado.
O antigo Centro da Cidade, também chamado de Jaboatão Velho, guarda preciosidades arquitetônicas, como igrejas seculares e engenhos, que narram a era do açúcar e a riqueza do passado colonial.
Destacam-se, entre os eventos culturais, a tradicional Festa de Nossa Senhora dos Prazeres, conhecida popularmente como Festa da Pitomba. Realizada desde o século XVIII, é uma das celebrações religiosas mais antigas do Brasil, atraindo milhares de fiéis e turistas após a Semana Santa.
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Parque Histórico Nacional dos Guararapes
(Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira) |
Crescimento urbano e transformações estruturais
A expansão urbana de Jaboatão nos últimos 70 anos foi exponencial. De uma cidade majoritariamente rural e interiorana, tornou-se um polo urbano com crescente verticalização. A construção de edifícios, especialmente nas áreas litorâneas, como Piedade e Candeias, trouxe consigo a modernização da paisagem, mas também novos desafios. A malha urbana cresceu sem que, em muitos casos, a infraestrutura acompanhasse esse ritmo, resultando em problemas de mobilidade, saneamento e segurança.
De acordo com o historiador Flávio Torres, o processo de grande desenvolvimento da cidade se deu a partir da década de 1950, quando “As políticas públicas desenvolvidas no governo do Presidente Juscelino Kubitschek (1956 a 1961) geraram um marco histórico como o período de maior desenvolvimento da industrialização do país. Os investimentos e a proximidade do município do Recife e dos principais portos do Estado tornaram Jaboatão dos Guararapes uma das principais cidades favorecidas nesse processo de modernização”, relatou Flávio.
Segundo ele, esse fator promoveu uma significativa alteração na proporção de ocupação populacional, a cidade recebeu uma maior atenção da população do próprio município e das regiões vizinhas, que iniciaram um processo de migração da Zona Rural para a Zona Urbana.
A engenheira civil Elsa Corrêa destacou que a urbanização intensa do litoral de Jaboatão dos Guararapes, incluindo as praias de Piedade, Candeias e Barra de Jangada, também foi impulsionada pelo desenvolvimento do Porto de Suape e, posteriormente, pela construção da Refinaria Abreu e Lima. No entanto, a infraestrutura da orla não acompanhou esse crescimento.
“Apesar da pavimentação das vias principais e da parceria público-privada entre a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e a empresa concessionária, a rede de esgoto ainda não foi completamente concluída, e a distribuição de água permanece sem ampliação, mesmo com o aumento populacional. Além disso, o trânsito caótico em horários de pico e os frequentes alagamentos durante períodos chuvosos continuam sendo problemas”, disse Elsa.
A engenheira também pontuou que o sistema de transporte público ainda é insuficiente para atender a população, e o metrô cobre apenas uma parte das necessidades. No campo do saneamento básico, há uma carência significativa na rede de esgoto, incapaz de atender à demanda atual. No entanto, a limpeza urbana e a iluminação pública mostraram avanços, embora os problemas de alagamento continuem a crescer em Jaboatão dos Guararapes.
O peso da cultura e a falta de preservação
Apesar de seu vasto patrimônio histórico, muitos moradores sentem que Jaboatão carece de uma maior valorização cultural. O que se vê, segundo o historiador Flávio Torres, é um município onde o patrimônio material e imaterial, embora reconhecido, não recebe a devida atenção em termos de preservação e promoção turística. Monumentos históricos estão em risco de degradação e o envolvimento da população com a história local é limitado.
Isabella Moura, analista de marketing e moradora da cidade, compartilhou essa visão: "Sentimos falta por ser um lugar amplo, de algo cultural que movimente os moradores da região, fica um lugar mal aproveitado. Não acho que a cidade tenha peso cultural, não há preservação." Sua fala reflete o sentimento de muitos que, embora reconheçam a importância histórica de Jaboatão, percebem um vazio na dinâmica cultural e na falta de incentivo a projetos que valorizem essa rica herança.
“O Monte dos Guararapes, um dos maiores símbolos da cidade, continua sendo um local de orgulho, mas carece de maior manutenção e ações de incentivo ao turismo histórico. O mesmo pode ser dito sobre os engenhos e as antigas igrejas que pontuam o cenário de Jaboatão Velho, locais que poderiam ser mais integrados às rotas culturais do estado”, desabafou a moradora.
Para o historiador Flávio Torres, o Município precisa de políticas públicas de incentivo e fomento de preservação e desenvolvimento das culturas locais em prol do turismo. “Embora haja a regulamentação a Lei Municipal n.º 104/1979, instituindo e oficializando a criação de Áreas Especiais de Preservação Cultural – AEPC. A falta de aplicação dessa lei e a descoordenação entre os setores responsáveis pela fiscalização dificultam que essas áreas recebam a atenção necessária.”, disse ele.
Flávio ainda relatou que cerca de 15 patrimônios históricos foram demolidos. “Não fosse o trabalho de resgate histórico, da importância das passagens temporais para a construção da identidade local, o prejuízo seria maior e teríamos a perda da identidade e da construção ideológica de todo o grupo social.” completou.
A transformação das orlas
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Praia de Piedade sentido Boa Viagem (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira) |
Outro ponto que merece destaque é a orla de Jaboatão, que se estende por oito quilômetros de praias, desde Piedade até a praia do Paiva. Nos últimos anos, o aumento de prédios e a verticalização da área trouxeram um novo perfil ao litoral jaboatonense. Com isso, surgiram preocupações em torno da infraestrutura, como o saneamento básico e a utilização correta desses espaços.
Moradores de Jaboatão relataram que, embora tenha havido melhorias significativas nas condições urbanas da orla, como o aumento da iluminação pública e a pavimentação das ruas, o município ainda precisa investir mais em saneamento e em ações que garantam a segurança de banhistas e frequentadores dos calçadões.
A engenheira Elsa Corrêa ressaltou a importância da requalificação da orla para o uso coletivo e democrático das praias. “A ampliação do calçadão, que integra Boa Viagem a Piedade e Candeias, facilitou o acesso à orla para toda a população. No entanto, ainda são necessárias ações de manutenção dos equipamentos e a recuperação de trechos danificados, além de medidas para conter o avanço do mar em áreas críticas, como Barra de Jangada e a curva do S”, pontuou Elsa.
Um olhar para o futuro
Jaboatão dos Guararapes continua sua jornada de crescimento, enfrentando desafios típicos de grandes centros urbanos em expansão.
“Enquanto novos empreendimentos surgem e o setor industrial se fortalece, a cidade precisa equilibrar o seu desenvolvimento com a preservação dos patrimônios e a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes”, concluiu Isabella Moura, moradora do bairro de Prazeres.