Os efeitos do derramamento de óleo na costa brasileira em diferentes pontos do litoral pernambucano são investigados por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA) e do Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O óleo foi encontrado em praias como Boa Viagem, Muro Alto e Japaratinga em 2019.
Artigos focados no impacto sobre as espécies peixe-zebra e donzelinha foram publicados pelo jornal científico Marine Pollution Bulletin.
Em um estudo, pesquisadores dos Departamentos de Zoologia e de Oceanografia da UFPE consideraram tanto amostras do óleo pastoso misturado com água e amostras coletadas 50 dias após a chegada do líquido na costa. O óleo foi encontrado em rochas costeiras da Praia de Pedra do Xaréu, no Cabo de Santo Agostinho.
“Este estudo descobriu que as concentrações de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) que se formaram na água após o derrame estão dentro das concentrações ambientais de PAH detectadas em amostras de campo e foram suficientemente tóxicas para causar mortalidade ou atrasar o desenvolvimento das larvas, além de causar falhas na absorção do saco vitelínico, no insuflamento da bexiga natatória e no desenvolvimento da boca”, explica o professor Paulo Carvalho, do Departamento de Zoologia da UFPE.
Carvalho assina o artigo junto com os pesquisadores do Departamento de Zoologia Célio Freire Mariz Jr., João V. Gomes Nascimento, Bruna Santana Morais e Maria K. Melo Alves e com os pesquisadores do Departamento de Oceanografia Lino Angel Valcarcel Rojas e Eliete Zanardi-Lamardo.
Outro artigo publicado pelo Marine Pollution Bulletin aborda o impacto do derramamento de óleo nos recifes de corais.
A pesquisa quantificou quimicamente compostos derivados de petróleo, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), em amostras de água coletadas antes e depois da chegada do óleo em 2019.
Os locais em que elas foram recolhidas incluem áreas recifais das praias de Boa Viagem, Paiva, Suape, Muro Alto e Japaratinga.
O artigo tem como autores os pesquisadores do PPGBA Maria Karolaine de Melo Alves, Célio Freire Mariz Jr., Thalita Joana Bezerra de Melo, Romulo Nepomuceno Alves, João Lucas Leão Feitosa e Paulo S.M. Carvalho e os pesquisadores do Departamento de Oceanografia Lino A. Valcarcel e Eliete Zanardi-Lamardo.
“É o primeiro artigo da literatura científica que relata efeitos ecotoxicológicos de contaminantes nesta espécie. Na espécie de peixe recifal Stegastes fuscus foram analisados os HPAs biliares e respostas de biomarcadores bioquímicos no tecido hepático e cerebral em amostras coletadas logo após a chegada do petróleo em 2019. Os dados indicaram que ocorreu a contaminação por HPAs nos locais atingidos pelo derramamento de óleo, com significativa bioconcentração biliar de HPAs nos peixes e alterações nos biomarcadores bioquímicos, indicando efeitos em peixes expostos ao óleo que chegou à costa do Brasil”, resume o professor Paulo Carvalho.
Manchas de óleo tomaram conta de praias do Nordeste
As praias do Nordeste foram cobertas por cinco mil toneladas de óleo que haviam sido derramados no mar entre agosto de 2019 e março de 2020. As investigações da Polícia Federal apontaram que óleo veio de um navio grego.
De acordo com a PF, as manchas foram encontradas em mais de mil localidades, em 11 estados litorâneos. Apenas os custos arcados pelos poderes públicos federal, estadual e municipal para a limpeza de praias e oceano foram estimados em mais de R$ 188 milhões, estabelecendo-se assim um valor inicial e mínimo para o dano ambiental.
Já se passaram cinco anos desde o derramamento do óleo na costa brasileira, mas pelo menos 300 mil pescadores ainda sentem o impacto da ação que prejudicou a vida de diversos animais marinhos.