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Passeio pela história católica no Recife: um roteiro pelas principais igrejas da capital

O Diario de Pernambuco selecionou quatro igrejas históricas da capital a fim de mostrar a história do catolicismo na capital

O Recife abriga um conjunto de igrejas católicas marcadas por características que remontam ao período colonial, refletindo séculos de influência religiosa, artística e cultural. As igrejas são símbolos de fé e resistência à onda de modernismo que a capital pernambucana passa e são patrimônios históricos nacionais. 

A chegada das igrejas católicas no Recife começou no século XVI através de missionários católicos que chegaram ao litoral nordestino com os colonizadores portugueses. Entre os primeiros monumentos religiosos levantados está a Igreja de Santo Antônio, erguida em 1592, considerada um dos mais antigos de Pernambuco e foi, por muito tempo, o principal ponto de encontro da comunidade religiosa e social da cidade.

A área central do Recife é a parte da cidade que mais possui igrejas que contam parte da história da cidade, entre elas a  Igreja da Madre de Deus, fundada em 1680 pelos jesuítas. Durante séculos, ela serviu como sede de várias confrarias e festividades religiosas.
 
Diario de Pernambuco montou um roteiro que abrange as principais igrejas católicas, a fim de proporcionar aos visitantes uma experiência completa e imersiva pela história desta religião no Recife. 


Com a chegada do século XVII, iniciou-se um período  conturbado para a Igreja Católica no Recife por conta da invasão holandesa (1630-1654). Neste período, os invasores protestantes tentaram controlar as igrejas católicas e transformá-las em templos protestantes. Com isso, católicos locais e clérigos, foram obrigados a adotar práticas discretas de sua fé, recorreram a locais improvisados para realizar missas e outros ritos religiosos.

Somente após a expulsão dos holandeses, em 1654, as igrejas passaram por processos de restauração e reapropriação e um dos templos que passou por esta fase foi a Igreja de São Pedro dos Clérigos, localizada no bairro de São José. Ela foi fundada em 1728 e simboliza o renascimento da fé católica no Recife. A estrutura destaca-se pela arquitetura rococó, um estilo europeu que começava a ganhar força no Brasil.

No século seguinte, as igrejas católicas passaram por um período de prosperidade na capital pernambucana, refletido pela construção de igrejas luxuosas, ornamentadas em estilo barroco. 

“Na historiografia pernambucana, sabemos que, na segunda metade do século XVII e na primeira metade do século XVIII, houve um auge na construção de diversas igrejas no Recife, com um florescimento das edificações realizadas por ordens religiosas e diversas irmandades leigas”, explica Luanna Oliveira, pesquisadora de pós-doutorado da CAPES no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 

Uma das igrejas construídas neste período foi a  de São Francisco, parte do Convento de Santo Antônio, entre 1606 e 1779. O espaço é famoso pelos painéis de azulejos portugueses, detalhes em talha dourada e uma série de retábulos que contam cenas da vida de São Francisco de Assis.

Outro templo barroco histórico é a Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo, inaugurada em 1767. Foi inaugurada em 1767 e tornou-se sede da Ordem dos Carmelitas no Brasil.

O neogótico e outras influências

No século XIX, as igrejas do Recife foram influenciadas por novos estilos arquitetônicos, como o neogótico. A Capela Dourada, pertencente à Ordem Terceira de São Francisco foi  construída no século XVII, mas passou por reformulações que introduziram elementos neogóticos em sua estrutura, ao mesmo tempo que preservou os detalhes barrocos de sua fundação.

Já no século XX, a  arquitetura sacra na capital passou a incorporar também elementos do modernismo, a exemplo da Catedral Metropolitana de São Pedro dos Clérigos, que, após reformas, ganhou uma nova aparência que mescla o neoclássico com o barroco, além de influências modernistas.

Assim, o Recife passou a ter uma diversidade arquitetônica que mostra a evolução e adaptação da Igreja Católica aos tempos modernos.


Localizada na Rua Madre de Deus, no Bairro do Recife, a Igreja Madre de Deus foi inaugurada em 1709, com uma fachada com duas torres e o corpo central em pedra. No seu interior, há um salão com capelas laterais e um majestoso arco triunfal de severa cantaria com dois altares no arco cruzeiro.

O altar-mor da igreja é de  talha dourada com nichos sacrários e trono em estilo rococó. A  sacristia conta com um grande arcaz e um lavabo em mármore de Estremoz, considerado o mais notável do Brasil, executado em Portugal. O local contém imagens que pertenciam à  Igreja do Corpo Santo, demolida durante a modernização do Recife

Esta igreja foi construída quando os  padres oratorianos, da Ordem de São Felipe Neri, pretenderam fundar um convento no Recife. O terreno foi doado pelo  capitão António Fernandes de Matos.

“A Igreja da Madre de Deus foi erguida em terrenos doados por Antônio de Matos, onde também foi construído o Convento da Ordem Oratoriana, que foi expulso na primeira metade do século XIX. Atualmente, no lugar do convento, encontra-se o edifício do antigo Paço da Alfândega, remodelado e agora funcionando como um espaço empresarial no coração da cidade”, complementa a pesquisadora de pós-doutorado, Luanna Oliveira.


Atravessando a ponte Buarque de Macedo para ter acesso ao Bairro de Santo Antônio, o visitante poderá contemplar a Capela Dourada, uma das principais igrejas católicas da região. Ela foi construída no século XVI pelos  Irmãos da Venerável Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.

O templo foi aberto ao público em 15 de setembro de 1697, com missa presidida pelo Comissário Visitador Frei Jerônimo da Ressurreição. As obras só foram finalizadas em 1724.

Como a igreja foi construída em uma fase próspera para o catolicismos no Brasil, a estrutura passou por melhorias e recebeu uma decoração barroca, e sua condição atual data basicamente dos séculos XVII e XVIII. 

“No terreno da Ordem Franciscana, foi construída a Capela Dourada, conectada por um portal à Igreja de Santo Antônio, que possui um dos mais belos conjuntos de azulejos portugueses, com detalhes que narram a história do Gênesis no claustro e a história de Santo Antônio dentro da Igreja”, destaca a pesquisadora Luanna Oliveira.

A capela recebeu este nome por abrigar uma grande quantidade de ouro na estrutura que forra praticamente todos os espaços das paredes, altares e teto. Este último é dividido em caixotões para painéis pintados a óleo, com cenas diversa

Nas paredes da Capela Dourada há uma série de  painéis de azulejos, altares menores com estatuária, dos quais se destacam o de Santa Isabel, o do Cristo atado à coluna e o do Senhor dos Passos.

“A Capela Dourada é considerada a mais bela obra barroca do Recife, erguida com legados e bens doados pelos irmãos da Ordem Terceira Franciscana do Recife”, complementa Luanna.


Ainda no mesmo bairro, está instalada a Igreja Nossa Senhora do Carmo, na Praça do Carmo. Esta igreja surgiu após a chegada da Ordem do Carmo do Recife, trazendo  obras de construção do Convento e da Igreja do Carmo do Recife, iniciadas em 1665 pelo Capitão Diogo Cavalcanti Vasconcelos.

“A santa é a padroeira da cidade, com forte devoção, grandes festas e procissões. Sua fachada possui estilo rococó, enquanto seis altares laterais são em estilo barroco, com detalhes dourados”, pontua Luanna Oliveira.

As obras foram finalizadas em 1767 e em 1909 a Virgem do Carmo foi declarada como Padroeira Secundária do Recife. No ano de 1917,  o Papa Bento XV elevou a Igreja Nossa Senhora do Carmo à dignidade da Basílica Menor, sendo agregada à Basílica Maior de São Pedro, na Santa Sé, Estado do Vaticano.

O  complexo da Basílica e do Convento do Carmo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938. 


“Por fim, não menos importante, temos a história da atual Basílica de Nossa Senhora da Penha, que apresenta detalhes em estilo neoclássico. Sua arquitetura se diferencia do estilo barroco das igrejas anteriores, pois é uma construção mais recente, concluída em 1882”, afirma a pesquisadora de pós-doutorado.

Localizada no Bairro de São José, a basílica está o coração do comércio recifense e foi erguida no local da antiga Igreja da Penha, demolida em 1870. As obras foram concluídas e 1882 e foram lideradas pelo arquiteto capuchinho Frei Francesco Maria Di Vicenza, inspirado na  basílica veneziana de San Giorggio Maggiore, de estilo Neoclássico.

“Os missionários capuchinhos franceses receberam a doação do terreno em 1656 de Belchior Alvez e Joanna Bezerra, onde construíram um pequeno hospício e a igreja. Posteriormente, uma nova leva de missionários italianos influenciou a arquitetura da basílica, liderados pelo arquiteto capuchinho Frei Francesco Maria Di Vicenza. Atualmente, os restos mortais de Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, descansam na basílica”, detalha Luanna Oliveira.

Tradicionalmente às sextas-feiras, a Basílica da Penha reúne grande fluxo de devotos, quando é ministrada a benção de São Félix ao longo do dia, pelos capuchinhos.
 
Recife Sagrado 

Atualmente, a Prefeitura do Recife conta com o projeto Recife Sagrado, iniciativa da Secretaria de Turismo e Lazer, tem como objetivo apresentar a visitantes e recifenses os tesouros guardados pelo conjunto da arquitetura sacra recifense, um dos mais riscos do País.

O Recife Sagrado contempla sete templos: Madre de Deus, Capela Dourada,  Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Recife, Basílica de Nossa Senhora da Penha, Santa Tereza D’Ávila da Ordem Terceira do Carmo e Nossa Senhora do Carmo e a Sinagoga Kahal-Zur Israel.

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