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Dia Mundial do Ciclista expõe a dura realidade de quem pedala no Recife

Ciclista de 29 anos foi atropelado por um ônibus no Recife nesta terça-feira (15)

Publicado em: 15/04/2025 20:57 | Atualizado em: 15/04/2025 21:35

Ciclistas enfrentam problemas na infraestrutura, além de falta de espaço e respeito dos motoristas (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Ciclistas enfrentam problemas na infraestrutura, além de falta de espaço e respeito dos motoristas (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Na data em que se comemora o Dia Mundial do Ciclista, 15 de abril, o Recife registrou um acidente envolvendo um ônibus e uma pessoa que pedalava pela Ponte Paulo Guerra, no bairro do Pina, Zona Sul da cidade. A vítima, de 29 anos, foi atendida pelo Samu e levada ao Hospital Otávio de Freitas. O caso chama atenção para a falta de segurança viária destinada aos ciclistas.
 
Na capital pernambucana, acidentes envolvendo usuários de bicicletas não são incomuns. Em 2023, o número de mortos por acidentes deste tipo, no Recife, superou o de motoristas de veículos de quatro rodas. É o que revela o Relatório Preliminar de Segurança Viária da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). No total, foram registradas 10 mortes de ciclistas, quatro a mais que os óbitos entre condutores de carros, ônibus ou caminhões.
 
Os dados, elaborados em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), também apontam um aumento absoluto em relação a 2022. Naquele ano, dos 105 óbitos contabilizados no trânsito, sete eram ciclistas, enquanto os acidentes fatais envolvendo veículos de quatro rodas resultaram em 13 mortes. Os outros são pedestres, motociclistas, entre outros. 
 
A Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) deve divulgar, em maio deste ano, os dados referentes aos acidentes de 2024. A tendência, porém, é de que o cenário permaneça semelhante ao dos anos anteriores. Em um intervalo de apenas oito dias, no mês de setembro do ano passado, três ciclistas foram atropelados e mortos no Recife. Além disso, a CTTU emitiu, no primeiro semestre de 2024, 726 multas por infrações cometidas em ciclofaixas.
 
Esses números podem assustar quem planeja começar a pedalar, seja por lazer ou como meio de transporte diário para o trabalho, o mercado ou visitas a familiares. Para o presidente da Ameciclo, Daniel Valença, o elevado número de fatalidades envolvendo ciclistas é consequência da falta de fiscalização e de punição aos infratores.
 
“A obediência às regras de trânsito é quase opcional para quem está de carro. Vivemos um cenário em que o desrespeito e a desobediência acabam sendo incentivados pela ausência de fiscalização. Na prática, o estado brasileiro privilegia quem tem maior poder de influência, ou seja, quem pode comprar um carro. Quando você favorece essas pessoas, enfraquece os órgãos de trânsito e as infraestruturas se tornam caras”, afirma.
Ciclistas são obrigados a percorrer ao lado de carros quando não há ciclovias ou ciclofaixas (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Ciclistas são obrigados a percorrer ao lado de carros quando não há ciclovias ou ciclofaixas (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)

Dados da Ameciclo revelam que a maioria dos ciclistas da Região Metropolitana do Recife utiliza a bicicleta como meio de transporte há cerca de quatro anos, e pedala durante os sete dias da semana. A pesquisa também aponta que muitos usariam mais o meio de transporte se sentissem mais seguros nas vias, e que a principal motivação para adotar a bicicleta foi a economia.
 
A Ameciclo conta ainda com um Observatório Cicloviário, que monitora a infraestrutura para bicicletas na Região Metropolitana, comparando o que foi executado com o que está previsto no Plano Diretor Cicloviário. De acordo com o site, o Recife possui 185,3 km de estrutura cicloviária, ficando à frente de cidades como Jaboatão dos Guararapes (24,9 km) e Ipojuca (17,5 km), que aparecem em posições inferiores no ranking.

No entanto, infraestrutura não é sinônimo de segurança viária. É comum ver motoristas e motociclistas invadindo espaços destinados aos ciclistas, sejam ciclovias ou ciclofaixas. Vale lembrar: a ciclovia é segregada do tráfego de carros, enquanto a ciclofaixa é compartilhada com veículos motorizados.

Daniel Valença destaca que os desafios enfrentados durante os deslocamentos são constantes: xingamentos, repressões, discussões e até tentativas de atropelamento. Ele conta que já foi perseguido por um motorista que quase colidiu com ele durante uma viagem. “Teve uma vez em que eu estava pedalando na Rua Dr. José Maria, no bairro da Encruzilhada, e um carro com um adesivo pedindo respeito ao ciclista, com a distância de 1,5 metro, fechou minha namorada. Quando ele parou no sinal, perguntei se o adesivo era só hipocrisia. Ele se irritou, começou a jogar o carro em cima de mim, saiu do veículo e tentou me agredir. Peguei o celular e fingi abrir uma live dizendo que estava sendo atacado. Depois, ele veio me pedir desculpas, com medo de ser exposto”, relata.
 
Acidentes têm se tornado cada vez mais frequentes na capital (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Acidentes têm se tornado cada vez mais frequentes na capital (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Ainda nesta terça-feira, uma equipe do Diario de Pernambuco presenciou o momento em que um ciclista tentava atravessar a Rua Princesa Isabel por volta das 18h, em meio a um trânsito intenso, e quase foi atingido por um motociclista. Apesar de os envolvidos terem se desculpado e seguido caminho, nem sempre o desfecho é pacífico.
 
Atualmente, está prevista a implantação de uma nova ciclovia na Avenida Mascarenhas de Moraes, um dos principais corredores viários do Recife. A primeira etapa do projeto compreende um trecho de 3,6 km, entre a Avenida General MacArthur e a divisa com Jaboatão dos Guararapes. A gestão municipal também planeja construir outro trecho, ligando o Aeroporto à futura Ponte Júlia Santiago, que conectará os bairros de Areias e Imbiribeira. Ao todo, serão investidos R$ 7,7 milhões para tirar os projetos do papel.

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