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Bandidos famosos do estado inspiram produções artísticas

Personagens como Galeguinho do Coque, Helinho e Biu do Olho Verde saíram dos noticiários policiais para a cultura pop, mas suas histórias são carregadas de injustiça social e violações dos direitos humanos

Galeguinho do Coque é citado em música de Chico Science & Nação Zumbi. Crédito: Luiz Chagas/DP/D.A Press

Al Capone, Bonnie & Clyde, Billy the Kid, O Bandido da Luz Vermelha e Ronald Biggs são exemplos de criminosos que viraram personagens cultuados. Pernambuco também tem casos de ladrões e assassinos que ficaram famosos e tornaram-se temas de músicas e filmes, a começar pelo cangaceiro Lampião. Essa folclorização da violência é abordada criticamente na música Bandidismo por uma questão de classe, de Chico Science, cuja letra menciona Biu do Olho Verde, Galeguinho do Coque e a Perna Cabeluda, figuras que foram notícia no jornalismo policial pernambucano por causa de histórias violentas nem sempre verdadeiras. Alguns deles eram menores de idade e a passagem do tempo mostra que podem ter sido muito mais vítimas de injustiças sociais do que cruéis algozes. Os novos estudos e trabalhos artísticos resgatam essas histórias e esclarecem detalhes que apresentam versões mais sensíveis à questão de direitos humanos.


Nos jornais das décadas de 1970 e 80, é possível identificar dois capítulos na saga de José Everaldo Brito, vulgo Galeguinho do Coque. Em um primeiro momento, apavorou a população por causa de seus assaltos à mão armada. Depois, ressurgiu como pastor evangélico, com emprego na Câmara dos Vereadores de Jaboatão. Ainda não foi feito um filme com suas ações, mas ele já foi eternizado no verso na canção de Chico Science e Nação Zumbi: "Galeguinho do Coque não tinha medo da Perna Cabeluda."

 

Foto: Fred Jordão/Divulgação

"Matar é como beber água", afirmou Hélio José Muniz Filho, conhecido como Helinho, em entrevista publicada no Diario de Pernambuco no dia 24 de janeiro de 1998. Dois anos depois, seria lançado nos cinemas o documentário O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna, que tem o "justiceiro" como um dos personagens principais. Ele morreu aos 34 anos em 2001, assassinado dentro do presídio Aníbal Bruno, onde estava preso por causa de dois homicídios, apesar de ter afirmado que matou mais de 60 pessoas. Sofria problemas psiquiátricos, mas foi tratado como criminoso comum, apesar de ter sido cogitada sua transferência para o manicômio judicial. Moradores da Vila das Pedreiras, em Camaragibe, e da favela do Barbalho, na Iputinga, chegaram a fazer passeata e entregaram um abaixo-assinado às autoridades para pedir a libertação do matador, cujas vítimas eram ladrões que atuavam nessas comunidades. "Detesto bandido que rouba de quem não tem", afirmou o Pequeno Príncipe em depoimento cedido ao Diario. O filme já foi tema de diversos estudos e o mais recente foi uma dissertação de mestrado defendida pelo historiador Adérito Schneider em fevereiro na Universidade Federal de Goiás.

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Por ter um caráter sobrenatural, a Perna Cabeluda é realmente uma lenda. Mesmo assim, a história do membro que atacava as pessoas chegou a ser noticiada, a partir de depoimentos, no noticiário policial pernambucano na década de 1970. Neste mês, a personagem foi resgatada na história em quadrinhos A rasteira da Perna Cabeluda (Editora Bagaço), escrita por André Balaio, com desenhos de Téo Pinheiro. Há também o curta-metragem A perna cabeluda, documentário dirigido por Gil Vicente, Marcelo Gomes, Beto Normal e João Jr, com participações de Jota Ferreira, Chico Science, Raimundo Carrero e Fred 04.

 

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Madame Satã

Madame Satã (2002) e Rainha diaba (1974) são dois filmes inspirados na história real do pernambucano João Francisco dos Santos, nascido no município de Glória do Goitá, que se tornou um dos criminosos mais famosos do Rio de Janeiro na década de 1930. Um de seus diferencial era a respeitada carreira de dançarino em shows de transformismo na vida noturna da Lapa. Exímio lutador e capoeirista, costumava enfrentar policiais. "Eu era bicha porque queria, mas não deixava de ser homem por causa disso" foi uma de suas frases clássicas. Por causa de furtos, brigas e acusações de assassinato e tráfico, ele passou mais de 27 anos na prisão. No carnaval deste ano, a escola de samba Portela o homenageou em um carro alegórico, onde o ator Ailton Graça o representou. No cinema, foi vivido primeiro Milton Gonçalves e depois por Lázaro Ramos. Nasceu em 1900 e morreu em 1976.

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Identificado pela cor do olhos, pela ousadia de seus crimes e por ser bastante sedutor, Biu do Olho Verde (João Vicente Valentim Silva) é um exemplo de bandido cuja fama é uma mistura entre realidade e ficção. Ele realmente aterrorizou os moradores de Olinda e Recife na década de 1970, com direito a manchetes em jornais, mas uma de suas marcas registradas é pura invenção: beliscar os bicos dos seios de suas vítimas. Isso nunca foi provado, testemunhado ou denunciado e o próprio Biu negou em entrevistas. A criminalidade atingiu a vida de Valentim por causa de sua infância marcada por maus tratos, sofrimento e privações, como revela um documentário, lançado em 2003, dirigido pelas jornalistas Karlilian Magalhães, Amanda Dantas e Talitha Accioly. Preso pela primeira vez aos 16 anos de idade, ele passou 18 anos na cadeia e morreu aos 34, em 1995, vítima de Aids.

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Menino Aranha

A trágica história do garoto que escalava altos prédios do Recife para cometer furtos foi resgatada com um olhar humanista em um curta-metragem lançado em 2008, dirigido pela cineasta Mariana Lacerda. Desde os sete anos de idade, Tiago João da Silva subiu em mais de 40 edifícios (de até 14 andares). Ele foi preso 18 vezes e conseguiu fugir em dez oportunidades. Foi assassinado em 2005, aos 18 anos.

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Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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