[SAIBAMAIS] Após o mergulho íntimo em questões pessoais do elogiado Avante (2012), é como se ele voltasse à sonoridade dos maracatus e à simplicidade de Nazaré da Mata, fonte de inspiração desde o início da carreira, com a banda Mestre Ambrósio, criada em 1992, para discutir exclusão e desigualdade social.
"O disco tenta falar dessa festa de rua como um lugar importante de socialização, um espaço onde se desenvolve um tipo de conhecimento antigo, pouco valorizado e bastante segregado. Mais do que nunca, as heranças indígenas, africanas têm muito a ensinar, a oferecer para construir um país menos careta e excludente, porque são abertas, generosas e promovem diálogo ao cultivo da inteligência e alegria”, explica o artista, entusiasta e pesquisador da produção musical da Zona da Mata pernambucana.
A busca pela tradição popular se reflete, sonoramente, na retomada dos instrumentos percussivos, menos explorados em Avante, mas em diálogo pop com guitarras, em prólogos generosos ou longos trechos instrumentais entre as estrofes. “A percussão é um elemento inescapável”, confessa. A música do Congo, na África, faz dobradinha com o maracatu rural e ciranda como referências sonoras para o artista, que mora em São Paulo desde 1996.
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Os motes repentistas, o jogo de verbetes da poesia popular e o bom humor descritivo estão em A jarra e a aranha. As paisagens interioranas e o sotaque nordestino continuam presentes. Mas são o estímulo por se assombrar com o planeta que nos cerca, a reflexão sobre paradoxos sociais e até leis de incentivo à cultura (das quais ele fez questão de abrir mão nesta produção) o fio condutor do disco, que chegará às lojas no fim de junho.
Show
Nos dias 26 e 27 de junho, Siba apresenta Baile solto em casa, no Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio). O repertório será composto pelas novas músicas, em diálogo com a Fuloresta do Samba e algumas de Avante. “Mas dá para dançar também, a pessoa se levanta, não precisa fazer passos de capoeira”, brinca. Ele dividirá o palco com Antônio Loureiro (bateria), Leandro Gervázio (tuba), Mestre Nico (percussão e voz) e Lello Bezerra (guitarra). Ingressos: R$ 20.
Temas do baile
Consumismo
“Progrediremos, todos juntos, muito em paz/ Sempre esperando a vez na fila dos normais/ Passar no caixa, voltar sempre, comprar mais/ Que bom ser parte da maquinaria”. Com sarcasmo, em Marcha macia, Siba elogia os avanços do progresso para questionar o consumo desenfreado e noções conturbadas de cidadania, segurança e privacidade da “nova ordem que tomou conta da cidade”
Desigualdade social
“Quem tem dinheiro consome, decide, manda e manobra/ Mas quem não tem come a sobra, que é pra não morrer de fome”. Em Quem e ninguém, ele traça o abismo estabelecido entre ricos e pobres na sociedade e reforça a atitude esmagadora dos que “tudo têm” contra os que “não podem com o peso”, mas são a base da riqueza alheia.
Tradição popular
“Quem dança rindo numa roda de ciranda/ Se debruça na varanda pra ver uma estrela caindo”. Ciente da importância da diversidade e da valorização das tradições e dança populares, Siba põe de volta no centro da inspiração poética a linguagem da ciranda, como em Mel tamarindo, do maracatu e do repente, como em Quem e ninguém, menos impactantes em Avante.
Nostalgia
“É com muito carinho que a Prefeitura Municipal do Aqui e o Governo do Estado do Agora trazem pra vocês, com todo o seu brilho e energia - o nome é grande mas é bonito - a Minidesorquestra de Baile Solto e Rima”. Residente em São Paulo, cidade mais rica do país, Siba se reencontra com paisagens interioranas, em Três desenhos, e as festas, em De baile solto, abertas pelos mestres de cerimônias.
Natureza
“Não tem vivente como gavião do vale nem lei do mundo que cale sua voz de governar”. O olhar contemplativo para a natureza fica evidente em Gavião, cuja letra acompanha o pássaro caçador e descreve a relação da ave com a serra, em contraposição à arrogância dos homens.
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