A defesa dos fracos contra os fortes está na essência do banditismo, um dos fenômenos sociais mais universais da história, dizia o sociólogo britânico Eric Hobsbawn, autor de Bandidos (Paz e Terra, 264 páginas, R$ 45). No livro, um dos capítulos é dedicado a analisar o cangaço brasileiro e a revolucionária busca por justiça e vingança. Por ser tema recorrente de livros e filmes, as vicissitudes da vida levada pelos rebeldes nordestinos e parte de suas biografias continuam a ser desveladas com o tempo, mesmo 77 anos após a morte de Lampião, símbolo maior do movimento. Dois desses personagens viveram o suficiente para resgatar da memória experiências ao lado de Virgulino e, reforçar, de certo modo, a teoria de Hobsbawn.
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Cangaceiros cruéis do bando de Lampião são velhinhos dóceis em documentário
Após a morte do líder do cangaço, Antônio Ignácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá fugiram a pé para Minas Gerais, onde se esconderam por 50 anos
“Encontrei Moreno e Durvinha em 2008, quando estava fazendo outro longa sobre cangaço. Depois de algumas dificuldades iniciais, meu relacionamento com o casal virou uma amizade, eles abriram o coração. Uma das cenas que gosto no documentário é quando a família está reunida na sala para assistir às imagens dos cangaceiros feitas em 1936 por Benjamin Abrahão”, diz o diretor. As filmagens duraram três anos pelos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo.
O longa-metragem traz depoimentos de familiares, conhecidos de juventude, ex-coiteiros (aliados dos cangaceiros), ex-volantes (policiais) e estudiosos do cangaço, entre eles o pernambucano Frederico Pernambucano de Melo. Segundo o pesquisador, Moreno era homem de confiança de Lampião e, por isso, ficava encarregado de tarefas brutais e crimes hediondos. Diante das câmeras o ex-cangaceiro não nega o passado sombrio nem demonstra remorso. Diz ter perdido as contas de quantos homens matou depois do vigésimo primeiro. Durvalina Gomes de Sá faleceu em 2008, aos 92 anos. Em 2010, Antônio morreu aos 100 anos.
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"Moreno era muito valente e respeitado. Conheço crimes terríveis praticados por ele, um dos três carrascos do bando de Lampião. Foi imortalizado historicamente por ter cometido crimes hediondos. Era brutal, destacava-se na luta, mas era também homem de planos. Como os cangaceiros não poderiam exercer o domínio pela ocupação, que pressupõe disponibilidade de efetivo muito grande, dominavam pelo terror. Eles precisavam ser temidos, de tal maneira que o adversário reagisse aos ataques já de maneira acovardada. O soldado já chegava tremendo, pálido. Sabia que, se fosse pego, seria apunhalado, sangrado lentamente. Isso para que a notícia se espalhasse e ninguém combatesse o cangaço. Outra consequência era a ausência de testemunhas, aterrorizadas”.
Frederico Pernambucano de Mello, historiador, pesquisador do cangaço, autor de Guerreiros do sol
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TEATRO
De 22 a 26 de julho, sempre às 20h, Serra Talhada, no Sertão do estado, recebe o espetáculo Massacre de Angico – A morte de Lampião. Ao ar livre e gratuita, a peça remonta a madrugada do dia 28 de julho de 1938, quando, na grota de Angico, em Sergipe, 11 cangaceiros foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita. Todos tiveram as cabeças decepadas, pondo fim à chamada Era do Cangaço.
MUSICAL
Na estreia de Alceu Valença como diretor de cinema, o cangaço está no centro das lentes, em A luneta do tempo. O longa estrelado por Irandhir Santos e Hermila Guedes foi exibido em maio, no Cine PE.
ESTÉTICA
O pesquisador Frederico Pernambucano de Melo acaba de lançar a terceira edição do livro Estrelas de couro – A estética do cangaço (R$ 89). Na obra, analisa a cultura material, o requinte e os significados das peças usadas pelos cangaceiros. Há mais de 300 fotos históricas.
NÊMESIS
O pesquisador e escritor Antônio Neto lançou, este mês, o livro Pegadas de um sertanejo – Vida e memórias de José Saturnino (R$ 50), que traz relatos biográficos do inimigo número um de Lampião, José de Barros.
Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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