A polêmica que envolveu Cláudio Assis e Lírio Ferreira gerou repercussão entre a classe artística. Vários nomes da cultura pernambucana criticaram a postura dos cineastas durante debate realizado após sessão de Que horas ela volta?, neste sábado (29), no Cinema do Museu (Derby). "A cachaça bota pra lascar na gente, sim e muitas vezes amplifica nossas merdas, mas a merda amplificada aqui é bem séria e tem um nome: MACHISMO", destacou a cantora Karina Buhr.
[SAIBAMAIS]Com mais de 600 curtidas, a postagem da artista fez referência à explicação dada por Lírio sobre a atitude tomada diante da diretora Anna Muylaert. Em entrevista ao Viver, ele disse que estava "bêbado". "O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado. Quando cheguei, a sessão já tinha começado e fiquei pro debate. Na mesa, eu fiquei esperando uma oportunidade para elogiar o trabalho de Anna, mas o mediador tentou dar a palavra à plateia. E eu me intrometendo pra tentar retomar o raciocínio. Depois me dei conta que estava atrapalhando, peguei um táxi e fui embora. Agora, estou sendo crucificado no Facebook. Só posso pedir desculpas à Anna, como de fato o fiz, logo depois dessa repercussão toda", comentou.
Além de Karina Buhr, a atriz Lais Vieira também julgou a atitute como machista no Facebook. "Este fato ocorrido sábado passado entre os diretores de cinema Lírio Ferreira, Claudio Assis e Anna Muylaert acontece diariamente aqui em Recife. Seja num bar, numa festa ou mesmo no cinema. Vivemos numa sociedade que agride a mulher, julga mal, ofende e até acha que cantada é elogio".
Sobre a punição empregada pela Fundação Joaquim Nabuco aos cineastas, alguns artistas a classificaram como exagerada. "Uma questão sobre a postura do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco: será que punir educa? Uma instituição cultural, punindo? Fiquei tocado com as argumentações todas, com o que disse por exemplo, Carol Almeida. Mas punir soa estranho...", destacou o diretor de cena Pio Figueiroa.
A fundaj proibidiu qualquer atividade envolvendo Cláudio Assis e Lírio Ferreira nos cinemas da Fundação e do Museu. "A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que, diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano", disse em nota.
Confira alguns comentários:
Thales Junqueira - Diretor de arte
Hoje li um comentário que dizia ser totalmente errado ficar "propagando" o que aconteceu no debate do Que horas ela volta?. Que era coisa de "comadre fofoqueira e barraqueira" e que Lírio Ferreira não merece ser julgado dessa forma, que é um cara gentil, querido e generoso. Bom, detesto linchamentos, aquela síndrome generalizada de Carandiru, punitiva, violenta e tantas vezes cega. Conheço Lírio há muitos anos e adoro ele. Lírio realmente é um cara doce, gentil, amoroso, que está passando por um momento difícil e que precisa da ajuda dos amigos. Mas o que aconteceu no Cinema do Museu não foi apenas falta de respeito, de educação, foi machismo também. Imagino que isso não teria acontecido se o debate fosse com um diretor homem amigo. Será que eles teriam atrapalhado um debate de Felipe Barbosa? Ou de Kleber Mendonça? Não teriam. Tudo que fiz foi dizer isso, sem intenção de demonizar ninguém. Muita gente que estava no debate escreveu sobre o ocorrido antes mesmo de mim e Carol Almeida. Agora, também é uma estratégia do machismo querer que quem aponte ele (o machismo) praticamente se sinta culpado por isso. É difícil. Desejo sinceramente que Lírio e Claudio melhorem.
Lais Vieira - Atriz
Este fato ocorrido sábado passado entre os diretores de cinema Lírio Ferreira, Claudio Assis e Anna Muylaert acontece diariamente aqui em Recife. Seja num bar, numa festa ou mesmo no cinema. Vivemos numa sociedade que agride a mulher, julga mal, ofende e até acha que cantada é elogio. E eles dois não são os únicos com este tipo de comportamento. Dia desses Ortinho caiu numa(s) dessas e ainda existe mais um bando desses rapazes que agem desta forma negativa mas que por terem também um lado legal, vão sendo perdoados aqui e acolá. Eu já passei por situações de constrangimento deste tipo e por mais que tenha deixado clara minha desaprovação, tive que usar do bom e velho "deixa pra lá" pra não sofrer mais agressões verbais. E pra continuar sendo colega, tive que usar de algo que eles parecem ter deixado no passado: respeito e consideração pelo próximo. E o álcool, meus amigos, infelizmente faz com que se manifestem mais livremente todos os demônios que temos guardados. E ainda tem gente que acha que a culpa disso tudo são das mulheres que "pagam pau" pra eles porque são famosos... É triste, é deprimente, mas que bom que desta vez veio à tona, saiu do gueto e ganhou repercussão nacional. Pena que foi com você, Anna Muylaert. Mas muito obrigada também. Eles voltaram, mas você que é a grande beleza disso tudo.
Rogerio Rogerman - Músico
A impressão que eu tenho é que estamos passando por uma depuração, sangrando, dentro de uma ambulância a caminho do hospital....tudo soa mono...tudo encolheu...os horizontes ficaram turvos, muita raiva, revanchismos, pequenos grupos...torço para que toda essa compressão exploda futuramente expandindo arte, tolerância e amor.
Leia a notícia no Diario de Pernambuco