Que horas ela volta? tem tudo para alcançar ou até superar a repercussão internacional conquistadada por Central do Brasil, Cidade de Deus e Tropa de Elite. O longa-metragem, que chega nesta quinta aos cinemas do Brasil e estreia nos Estados Unidos na sexta, já é considerado um dos cinco favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
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O filme já foi visto por mais de 150 mil espectadores na França, onde ultrapassou a bilheteria de Cidade de Deus (130 mil). No Recife, entra em cartaz em quatro cinemas (Cinemark RioMar, UCI Kinoplex Recife, Cinépolis Guararapes e Cinema do Museu).
O diferencial de Que horas ela volta? está na forma delicada de retratar temas graves. A partir de uma história de ficção narrada com bastante clareza para obter um alcance popular, o filme tem o poder de interferir sobre o cotidiano real da sociedade. Por meio de emoções irresistíveis proporcionadas pelo trabalho envolvente do elenco, provoca uma mistura entre carinho, constrangimento e amadurecimento crítico ao estimular o público a repensar a relação entre patrões e empregadas domésticas.
A história é praticamente toda ambientada em uma casa de classe média em São Paulo. A nordestina Val (perfeitamente interpretada por Regina Casé) é a empregada de Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles). Além de fazer serviços de limpeza e cozinhar, dorme no trabalho diariamente e foi babá do filho deles, Fabinho (Michel Joseas), que está prestes a entrar na universidade. Com o salário, ela sustenta uma filha, mas não acompanhou o crescimento da menina, que ficou no Nordeste.
A suposta boa educação dos donos da casa é confrontada com a chegada de Jéssica (Camila Márdila), filha de Val, que precisa de hospedagem para fazer vestibular em São Paulo. A garota passa a questionar o humilhante comportamento subalterno da mãe e provoca um desconforto que expõe um cruel conformismo social (com raízes na escravidão) disfarçado de cordialidade profissional e afetividade.
Tudo isso é abordado com uma simplicidade aparente, mas com uma profundidade complexa, já que os personagens estão sempre bem intencionados, sem perceberem a mediocridade dos próprios atos. Um tema bastante presente é a importância da presença materna, já que Val passou mais anos dedicada ao filho dos patrões do que à própria filha. Jéssica, além disso, demonstra possuir um nível educacional superior ao de Fabinho, apesar de ser economicamente mais pobre. Há ainda um frescor atual, pois a mudança de visão em relação à condição dos empregados é algo que tem crescido no Brasil nos últimos anos graças a políticas de inclusão social e a novas conquistas trabalhistas.
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RUMO AO OSCAR
Que horas ela volta? já tem estreia garantida em mais de 20 países, impulsionado pelos prêmios alcançados nos festivais de Berlim (júri popular na mostra Panorama) e Sundance (melhor atriz para Camila Márdila e Regina Casé). Além dos 150 mil espectadores na França, atraiu 70 mil na Itália e 40 mil na Espanha. Nos últimos dias, foi apontado como um dos cinco favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por publicações como a revista inglesa Screen International e o site norte-americano Indiewire, conhecido por elaborar previsões sobre a estatueta.
INFLUÊNCIA PERNAMBUCANA
A diretora do filme, Anna Muylaert, vem ao Recife neste sábado para conversar com o público após a sessão das 19h30 no Cinema do Museu, em Casa Forte. A trilha sonora é formada por músicas dos pernambucanos Fábio Trummer (banda Eddie) e Vitor Araújo (pianista). Também de Pernambuco, participam a montadora Karen Harley, o maquiador Marcos Freire e o diretor de arte Thales Junqueira. No Festival de Berlim, a cineasta dedicou as projeções ao cinema pernambucano. Ela também já afirmou que foi diretamente influenciada por O som ao redor.
FRASES DE ANNA MUYLAERT
(em entrevista cedida no Festival de Gramado)
"Eu quero que uma empregada doméstica entenda esse filme inteiramente. Eu nunca quis que o filme fosse além do alcance do que uma empregada doméstica poderia compreender. Ele é cheio de símbolos, cheio de metáforas, mas eu quis que ele fosse inteiramente compreendido por qualquer pessoa, até por crianças."
"Criar uma criança é uma coisa nobre. Pra falar nisso no Brasil, você tem que falar de mulher e de desvalorização da mulher. Se esse trabalho é desvalorizado, então a mulher está desvalorizada também. O que é mais importante: fazer um filho ou educar um filho? Eu acho que educar um filho é mais importante."
"A personagem está ali obedecendo regras que vêm desde o tempo colonial. São regras invisíveis, automáticas. Quando chega a filha, que vai contra essas regras, ela fica desesperada e é a que mais fica incomodada."
[SAIBAMAIS]
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