Genealogia Origem judaica dos nordestinos é debatida pelo pesquisador Cândido Pinheiro na Fenelivro Palestra faz parte da programação da feira literária, que ocorre no Centro de Convenções de Pernambuco

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/09/2015 07:25 Atualizado em: 01/09/2015 20:18

Crédito: Nando Chiapetta/DP/DAPress
Crédito: Nando Chiapetta/DP/DAPress
Há uma efervescência intelectual em Pernambuco a respeito das origens judaicas do povo nordestino, mas não à toa. Por trás do interesse de pesquisadores, há razões históricas, culturais e até sanguíneas. Não por acaso, o estado abriga a primeira sinagoga das Américas (Kahal Zur Israel, no bairro do Recife), dá guarida a estudiosos reconhecidos nacionalmente e instituições de grande valor para quem se interessa pelo tema, como o Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco. Tal protagonismo fica ainda mais claro a cada novo volume da Coleção Borges da Fonseca (serão dez, ao todo), fruto de duas décadas de levantamentos feitos pelo médico e estudioso cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima.

Convidado da Feira Nordestina do Livro (Fenelivro), ele lança a obra Carneiros do Nordeste e do Sul, dedicada a estudar o entroncamento familiar, cujas descendências se concentram em Portugal, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Nesta quarta-feira (02/09), às 18h, o autor debate a origem judaica dos nordestinos, ao lado do professor Caesar Sobreira. Coincidência ou não, a conversa surge poucos dias depois da reinauguração da biblioteca do Centro Israelita de Pernambuco (Rua Pio IX, 792, Torre), especializada em judaísmo e temas correlatos.

Segundo o estudioso pernambucano Jacques Ribemboim, o fato de a biblioteca estar novamente aberta ao público é uma riquíssima contribuição para aproximar a literatura das temáticas judaicas. “A presença histórica do povo judeu em Pernambuco e a relação deles com os livros é muito forte, algo que se dava de várias maneiras, tanto como escritores, quanto livreiros, leitores”. Como exemplo de judeus muito ligados à literatura, ele frisa Bento Teixeira (“com sua Prosopopéia, um cristão novo que contestava tudo, era pensador livre”), Ambrósio Fernandes Brandão, o livreiro Jacob Berenstein, dono da Livraria Imperatriz (já no século 20), Clarice Lispector (“hors concours, não só pela passagem pelo Recife, mas pelo fato de a cidade e a infância judaica no bairro da Boa Vista ter marcado o seu caráter e seu inconsciente”). Somam-se a esses, outros nomes como Meraldo Zimmerman, Rubem Pincovski, Alexandre Ribemboim, Tânia Kaufman e Jayme Torban (“grande romancista cuja obra tem um cunho surrealista, na linha do teatro do absurdo”).

ENTREVISTA>>>> CÂNDIDO PINHEIRO

Quem foram (e quem são) os Carneiros?
A publicação sobre os Carneiros se refere à descendência do tronco (familiar) Ruy Capão, pesquisado na Espanha Antiga, e em Portugal, na Ibéria. É a continuidade do projeto que já lançou o estudo dos Albuquerques, por exemplo, e ainda vai lançar o dos Barbosas, entre outros. Esses são volumes referentes a descendências grandes, mas há também aquelas menores, como os Campelos e os Carvalhos. No caso dos Carneiros, dividi em três partes – os descendentes de Ruy Capão instalados em Portugal, aqueles fixados em Pernambuco (e, por contiguidade, em todo o Nordeste), além dos que foram para o Rio Grande do Sul. São três troncos aparentados e ligados entre si.

Como esses troncos se inserem na coleção Borges da Fonseca?
Esse novo volume também se encaixa no espírito do que tenho frisado nos livros anteriores. A presença do sangue judeu de Ruy Capão se materializa em Pernambuco através dos Carneiros. É um dos elementos que compõem meu objetivo de trabalho e pesquisa ao longo dos últimos 20 anos. Reforça a mensagem principal, a de que 97% da população têm sangue judeu, do negro muçulmano da África do Norte e muçulmano semita, o que forma o plasma da sociedade colonial nordestina, sobretudo a de Pernambuco. Isso resume todo o meu trabalho, o resto é só detalhe. Em um parágrafo, tudo se resume.

Há diferenças entre os descendentes dos Carneiros em Pernambuco e os do Rio Grande do Sul?
Em Pernambuco, existem Carneiros pobres e de elite. Há bastante o sobrenome Carneiro Leão, por exemplo, assim como existem Carneiros “menores”, mas todos eles estão ligados a esse entroncamento judaico e são citados na coleção Borges da Fonseca. No caso do Rio Grande do Sul, trata-se da família do Sul do Brasil que originou o maior número de patentes do Exército que o país já teve. São militares de altas patentes. Nesse sentido, equiparável a eles, somente a família que originou o nosso ex-presidente, os Cardosos, de Santa Catarina.  

Nos lançamentos da coleção, o senhor tem sempre interagido com pesquisadores de temas afins. Essa troca contribui com o trabalho?
Aqui no Ceará, infelizmente, é difícil ter com quem conversar sobre esse assunto. Não existe a mesma efervescência que há em Pernambuco em torno das questões judaicas. Pelo contrário, dá para contar nos dedos de uma mão as pessoas com interesse nesse sentido.

Crédito: Nando Chiapetta/DP/DAPress
Crédito: Nando Chiapetta/DP/DAPress


Outros livros da coleção Borges da Fonseca: 
O crime de Simões Colaço (Fundação Gilberto Freyre, 458 páginas, R$ 45). 
identifica em Antônio Simões Colaço a origem dessa família no Nordeste do país. A partir de pesquisas em Portugal revela que Simões Colaço foi condenado por crime de judaização e nunca saiu de Portugal. Seus filhos, no entanto, fugiram para a África e para Pernambuco .

Os Liras – O nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial (Fundação Gilberto Freyre, 610 páginas, R$ 80)
Aborda a descendência da família Lira no Nordeste brasileiro desde a sua origem na Ilha da Madeira - Portugal. Investiga informações de que os Novos de Lira possuíam sangue judeu, a partir de estudos do historiador Evaldo Cabral de Melo.

Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto (Fundação Gilberto Freyre, 654 páginas, R$ 45)
A origem dos Albuquerques de Pernambuco, situando-os nos irmãos Brites e Jerônimo de Albuquerque. Mostra como o turbilhão étnico permeou os diversos troncos familiares descendentes de Jerônimo de Albuquerque, conhecido como Adão Pernambucano.

Serviço: 
Os judeus no Nordeste, Cândido Pinheiro com Caesar Sobreira
Quando: quarta-feira, às 18h
Onde: Sala Déborah Brennand, Centro de Convenções de Pernambuco
Quanto: Entrada gratuita

+fenelivro (programação de hoje)
09h - Workshop – Livros digitais interativos  (José Fernando Tavares.)
10h - Oficina literária com Raimundo Carrero.
10h - Cultura e política na internet,  Alê Youssef
11h - Cantinho da trela – Musical só o sabiá sabia, com Lenice Gomes, Guga Bezerra e Felipe Nicodemo.
11h30 - Workshop – Como ler um livro digital. (José Fernando Tavares.)
13h - Workshop – Produzir um eBook com Indesign. Desafios e Oportunidades. (José Fernando Tavares)
15h – O livro do Nordeste, pedra fundamental do regionalismo nordestino
16h – Malu Gaspar – Lançamento Tudo ou nada: Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X
17h30 - Cinema e literatura – Um diálogo Fecundo. Com José Geraldo Couto.
19h - Noites Nordestinas – Piauí.
20h - Palestra com Augusto Cury.


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