Perfil O cinéfilo da sala de aula: professor desperta nos pupilos a paixão pelo cinema Ederval Trajano organiza neste domingo (25) a primeira mostra de filmes produzidos pelos alunos, em Jaboatão dos Guararapes

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 25/10/2015 10:10 Atualizado em: 24/10/2015 21:58

Ederval encoraja a produção de curtas pelos próprios alunos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press
Ederval encoraja a produção de curtas pelos próprios alunos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press

Ele não se lembra do momento exato em que as luzes se apagaram e a tela gigantesca se acendeu à sua frente pela primeira vez. Aos 43 anos, sendo mais de 20 dedicados à carreira de professor, a paixão pelo cinema é tão antiga que parece não ter princípio. É ela que motiva Ederval Trajano a levar, há cerca de uma década, a sétima arte para as salas de aula. Neste domigo (25), o educador cinéfilo assiste à primeira mostra composta exclusivamente por filmes produzidos por alunos, sob orientação dele.

Com o tema Vlado: 40 anos de saudades - em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto durante a ditadura militar, há exatas quatro décadas - as sessões começam às 8h, na Casa da Cultura de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. Essa é, nas palavras dele, a realização de um sonho. Ou melhor: o primeiro passo em direção ao sonho principal, a exibição de filmes produzidos pelos jovens na tela do clássico Cinema São Luiz, onde já perdeu as contas de quantas vezes esteve.

Na televisão da casa de Ederval Trajano, Steven Spielberg está entre os diretores mais prestigiados, já que o professor de História, ironicamente, gosta de supor como o futuro será. Nas aulas da Escola de Referência em Ensino Médio Rodolfo Aureliano, onde leciona atualmente, porém, a ficção científica é substituída por títulos nacionais com enredo documental, como Olga e Getúlio - todos exibidos com retroprojetor. A seleção endossa o que determina a Lei n° 13.006 de Diretrizes e Bases da Educação, que torna obrigatória a exibição de produções nacionais nas escolas públicas municipais e estaduais. Ao fim das sessões, nas palavras dele, a mágica acontece: os alunos assumem a tarefa de produzir os próprios curtas-metragens. É quando Ederval dribla a determinação estadual que proíbe o uso de smartphones nas salas de aula: “Adaptamos esse vício pela tecnologia, usando os celulares para a captação de imagens para os filmes”, explica.



Além de atuarem, os pupilos, hoje também cinéfilos, roteirizam, dirigem e editam as próprias produções. A pesquisa de figurino, cenários e trilha sonora contempla, segundo Trajano, o que ele chama de Trinômio do Sucesso da Educação: aprender, conhecer e fazer. “O cinema é minha ferramenta de revolução.” Embora não tenha, até então, notícias de ex-alunos que se tornaram cineastas, Ederval usa a sétima arte para formar pensadores - dotados de paixões como a dele, por que não? - e encontra apoio não apenas entre o corpo discente. “Isso desperta nos alunos a inclinação para áreas como cinema, artes cênicas e jornalismo”, avalia Aliete Ferreira, gestora da Rodolfo Aureliano.

O sonhador incansável planeja, ainda, um mestrado envolvendo cinema e educação. Lamenta, por ora, a falta de cinemas nos arredores da escola - no momento, o Cineteatro Samuel Campelo, o mais próximo, segue em reforma, com conclusão postergada desde 2011. E suspira, como quem vai ao cinema pela primeira vez, sempre que vê em algum aluno um potencial “final feliz”, uma continuidade para a sua paixão.

>> PLATEIA

Os jovens pesquisam e produzem sobre temas históricos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press
Os jovens pesquisam e produzem sobre temas históricos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press
“Os filmes nos remetem ao passado, à história do país. No caso dos longas que vimos durante as pesquisas sobre Vlado, entendemos mais a ditarura, suas consequências e as lutas contrárias. Os filmes proporcionam imersão, como um livro completo, mas sem que seja necessária a leitura. Tenho ajudado como roteirista.” Aline Rodrigues, 16 anos

“Esse trabalho mostrou que produzir é ainda mais interessante do que somente assistir aos filmes. Sempre gostei de cinema, mas agora me sinto capaz de fazê-lo. Atuei nos curtas-metragens. Embora vá seguir carreira em nutrição, o cinema continuará sendo hobby.” Gabriela Oliveira, 17 anos

“Exercitamos a produção de roteiros fora do convencional. Sempre escrevi histórias, essa é uma paixão, um hábito. Mas agora estão na tela. Pretendo levar adiante essa inclinação adiante, assim como pretendo, um dia, escrever um livro. Aprendi, com ele, a tirar minhas histórias do papel. Dar vida a elas.” Tiago Albuquerque, 17 anos

“Minha relação com o cinema sempre foi de espectadora. Agora, me sinto capaz de atuar e roteirizar. Pesquisamos muito para produzir a mostra. Aumentei meu repertório e me envolvi nessa paixão pelos filmes.” Isis Lima, 17 anos

>> ONDE ESTUDAR

Cinema e audiovisual

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Av. Professor Morais Rego, 1235 - Cidade Universitária
Detalhes: 7 semestres, gratuito
Informações: 2126-8000

Cinema e audiovisual
Faculdades Integradas Aeso Barros Melo

Av. Transamazônica, 405 - Jardim Brasil II, Olinda
Detalhes: 7 semestres, R$ 899,00
Informações: 2128-9797

Cinema digital
Universidade Maurício de Nassau (Uninassau)
Rua Guilherme Pinto, 114 - Graças
Detalhes: 7 semestres, R$ 661,48 (manhã) e R$ 795,94 (noite)
Informações: 3413-4611

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