Cinema "Sempre fui muito orgulhoso do filme", diz o diretor de Chatô, Guilherme Fontes O filme todo foi rodado entre 1995 e 1999

Por: Tércio Amaral

Publicado em: 28/11/2015 10:00 Atualizado em: 27/11/2015 18:50

Marco Ricca interpreta Assis Chateaubriand em cinebiografia. Foto: YouTube/Reprodução
Marco Ricca interpreta Assis Chateaubriand em cinebiografia. Foto: YouTube/Reprodução

Depois de mais de uma década de espera, uma versão romantizada da história de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, finalmente entrou em cartaz nos cinemas brasileiros. Chatô, o rei do Brasil aborda a vida do magnata da comunicação a partir de um AVC, que o faz delirar com um julgamento, onde antigos amores e desafetos se unem para o acerto de contas.

O longa foi rodado entre 1995 e 1999, mas apesar do tempo, a fotografia não parece envelhecida ou desgastada, dando a impressão de se tratar de um filme novo. Para o lançamento, o diretor, Guilherme Fontes, teve que criar uma distribuidora própria, a Milocos Entretenimento.

Fontes, conversou com o Viver sobre o processo de produção da obra, carreira e desafios.



Quando começou o filme, era seu desejo também ficar responsável pela distribuição?

Era um desejo contido. Eu não vou negar. É uma admiração pela profissão e como eu faço um conteúdo nacional, e estava preocupado com a indústria como um todo, eu queria, sim, claro, fechar o ciclo da cadeia inteira. Eu começo pesquisador, produtor, finalizador e distribuidor.

Em Pernambuco, a estreia fica para dezembro mesmo?

Esse ano ainda.

Em algum momento, você pensou em desistir do filme pelo tempo de produção?

Jamais. Eu sempre fui muito orgulhoso do filme. Eu sabia que tinha um grande filme na mão e sabia também que tinha nele uma atemporalidade. Ele me passava, por ser uma ficção, ele cria uma atemporalidade propositava que eu criei no filme. Isso me libertava um pouco, me fazia crê que ele não envelheceria. Ou, se envelhecesse, envelhecia bem, como um vinho.

Você já está pensando em fazer outro filme como diretor?

Eu tenho na mão pessoalmente quatro projetos que eu quero tocar. Uma série e três longas metragens de assuntos diferentes. Um dele é sobre religião e outro sobre a UPP no Rio.

O filme faz um “julgamento” do fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand. Após esse julgamento, na sua concepção, ele está no céu ou no inferno?

Eu acho que ele vai ficar mais para herói. Mas ele é herói pelos seus defeitos também, ele acaba sendo. O herói é imperfeito. Mas ele precisa ser desejado, ele precisa ser admirado. Nossos heróis, se você querer definir aqui no Brasil, querendo que a gente aceite como herói alguns vilões. Os vilões no Brasil acabam sendo mais desejados do que os heróis. A gente não está reconhecendo no Brasil um herói faz tempo, não é? Então, eu acho que no final ele vira rei. A história é rei ou réu. Esse julgamento é fictício, é um show ao vivo na televisão, onde a vida dele é transmitida, ao vivo, segundo seus amigos e inimigos. Na verdade, eu não posso contar o final do filme. Mas, eu Guilherme, posso dizer que as pessoas não podem deixar de conferir o grande homem que foi Assis Chateaubriand. Grande em todos os sentidos.

O roteiro foge do “tradicional” no cinema brasileiro em relação aos personagens históricos, que usa a narrativa cronológica linear. O que te fez mudar nesse filme?

A cronologia não é um personagem nesse filme. E talvez outros filmes nacionais se preocupassem muito com isso. Eu não. Eu troquei isso por ação. Por movimento, por ritmo, por impressão. O tempo passa no filme. É muito bonito isso. Passa quando ele era garoto ainda, com o avô, quando ele era de Pernambuco, aprendendo a falar, sendo alfabetizado em alemão. Tem essa passagem, é muito bonito ele lendo Descartes. E tenho ele sofrendo, moribundo. Agora, se eu for contar a vida de alguém na minha visão, não há necessidade alguma de ser cronológico. Então, esse personagem não existe no meu filme (a cronologia).

Fernando Morais, ao compartilhar o trailer do filme no Facebook, disse que tinha más notícias para aqueles que torciam contra o filme, os “urubus”, segundo ele. Você acha o tempo para ser lançado foram culpa de parte desses “urubus” que tinham (torcida contra)?

Sem dúvida. Foi ela que acabou inviabilizando a minha captação de recursos. Uma vez, a asuência do dinheiro, para concluir o projeto como programado originalmente, muito importante, muito importante... que as pessoas saibam que elas foram iludidas na ideia de que eu teria estourado orçamento, cometido excessos ou desvios. Eu, na verdade, não medi esforços, mas jamais sai do meu orçamento. O negócio do cinema pra mim, um roteiro quando você prepara, quando você define os tamanhos, não há como alterar isso. Apenas porque algumas pessoas, ainda que poderosas, não queriam o filme. Eu decidi que isso não ia ser impeditivo, intimamente, e isso me deu forças para não desistir. A qualidade dos atores, dos técnicos, minha família, meus amigos, por eles, eu não desisti.

Quais seriam esse “urubus”? Pessoas contra você ou contra Assis Chateaubriand? Ainda há resquícios de pessoas que não gostam de Chatô na esfera do poder?

Tem os dois ingredientes. E tem outros ingredientes mais picantes, mais divertidos, mais curiosos, que eu vou deixar para o livro que eu pretendo escrever sobre essa experiência.

Os órgãos públicos (e de vigilância), como o TCU, reclamavam que o filme não tinha sido produzido. Você acha agora que, com o filme finalizado, você acha que acaba com essas pendências?

Isso. Assim como tem acabado com as outras. Nesse último ano, essas ações montaram um prejuízo milionário na minha vida. Não é pouco não. É bilionário. E aí eu, do ponto de vista formal, que é processo e etc, eu tenho sistematicamente ganho todos mais importantes, maiores. Eu brincando dizendo: 'muito prazer, eu sou Guilherme, eu sou um homem de menos 100 milhões de reais'. Coitado de mim. Coitado de mim. Eu não fiz p* nenhuma para merecer isso. A única coisa que eu fiz é não conceder a minha obra a mãos de tesoura.

Você sabe quanto foi esse prejuízo?

Eu vou calcular a centimetragem quadrada do jornal, somado ao valor meu de mercado na época em comparação o que é hoje, somado ao lucro que eu teria com o filme na época que ele fosse lançado, o lucro até interessante. Imagine quanto eu não ganhava na época e multiplicado e atualizado contra as mesmas regras que o governo usou contra mim?

Então, o filme atrapalhou sua carreira de “galã”?

Essa brincadeira é muito boa. Eu gosto muito dessa pergunta. De vez em quando, me fazem ela. O constrangimento em torno do meu nome criado foi muito grande. Então, eu como ator tenho compreensão muito clara do que é a vida de ator ao longo dos anos. Uma carreira. Você chega lá aos 20 anos, todo mundo quer pegar você, você é lindo e maravilhoso. Eu comecei minha profissão com 17 anos. Eu estava lá no Festival de Cannes disputando, depois novelas depois dos 30 anos, muitas novelas, como dizia Antônio Carlos Magalhães (ex-senador da Bahia): 'beijando mulheres bonitas e etc'. No final, o que mudou é que eu deixei, eu fui inibido de trabalhar. Eu constrangi os meus amigos a me convidarem à trabalhar e vice-versa. Eu me constrangi de me indispor. Parecia uma espécie de insensatez de minha parte com a população e com o público.



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