Show Zé Manoel lança disco no Recife e elogia Taís Araújo: "Só quem é negro sabe como é" Petrolinense apresenta repertório do álbum "Canção e silêncio" em noite com participação de Marcelo Jeneci, Isadora Melo, Juliano Holanda e Quarteto Encore

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/11/2015 07:50 Atualizado em: 03/11/2015 20:29

Disco foi liberado na internet em maio. Foto: Agência Pavio/Divulgação
Disco foi liberado na internet em maio. Foto: Agência Pavio/Divulgação

Entre amigos, o cantor, pianista e compositor pernambucano Zé Manoel executa nesta terça-feira, no Teatro de Santa Isabel, o repertório do disco Canção e silêncio, lançado em maio. Disponibilizado gratuitamente na internet, o álbum, produzido por Miranda e Kassin, fez sair do ar o site do artista duas vezes, devido ao fluxo de internautas maior do que o permitido pelo provedor contratado.

Confira o roteiro de shows do Divirta-se

O paulista Marcelo Jeneci estará no palco em três músicas, além dos conterrâneos Isadora Melo e Juliano Holanda, parceiros musicais de Zé, e o grupo instrumental Quarteto Encore. A banda é formada por Rostan Jr (bateria), Lara Klaus (percussão) e Israel Silva (baixo).

A noite autoral encerra a turnê de lançamento de Canção e silêncio, que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, com patrocínio do Natura Musical. O repertório entrelaçará as novas canções a composições do álbum de estreia, de 2012, com o nome dele no título - Samba tem, samba manco e Sol das lavadeiras estão no setlist.

Marcelo Jeneci é um dos convidados da noite. Foto: Daryan Dornelles/Divulgação
Marcelo Jeneci é um dos convidados da noite. Foto: Daryan Dornelles/Divulgação
Na nova fase, as águas do Rio São Francisco, lembrança da infância onipresente na estreia, cedem lugar às ondas do mar do Recife, onde ele mora desde 2007. As faixas permeiam música popular brasileira, referências bossanovistas e pinceladas regionais - como em O mar, ciranda sobre a força das águas, e Quem não tem canoa cai n'água, através de diálogo entre o canto popular da também petrolinense Dona Amélia, do Samba de Véio da Ilha do Massangano, e o piano e voz grave dele.

A atmosfera urbana aparece - ainda que discretamente - em algumas letras, como Cheio de vazio. "Tenho um modo de compor que é muito contemplativo, mas, neste disco, já começo a me ambientar no Recife, nas questões sociais e da cidade. No próximo, quero entrar mais nesses assuntos. Estou escrevendo sobre violência contra o jovem negro, racismo, mas tudo numa linguagem muito sutil", adianta. O próximo projeto deve sair em 2017, mas algumas músicas já estão prontas.

Negro e natural de Petrolina, o pianista diz não enfrentar preconceito nas redes sociais, como ocorreu à atriz carioca Taís Araújo, vítima de ofensas racistas em foto publicada no dia 31 de outubro. "Tem que ser falado. Gostei da postura dela, porque postou de novo a foto, de cabeça erguida, e é linda. É preciso parar essa cultura de baixar a cabeça, do negro bonzinho, que diz amém a tudo. Racismo é crime no Brasil e as pessoas têm que se posicionar", defende Zé Manoel.

Juliano Holanda e Isadora Melo são parceiros musicais desde o primeiro disco. Foto: Mery Lemos/Divulgação
Juliano Holanda e Isadora Melo são parceiros musicais desde o primeiro disco. Foto: Mery Lemos/Divulgação
Ele já sofreu preconceito por parte de um produtor musical e escuta vários comentários racistas no dia a dia. "Por enquanto, o preconceito que eu sofro é mais na rua, também pelo fato de usar black power. Já me 'acostumei' a ouvir piada, o pessoal gritar alguma coisa sobre o cabelo. Não se conversa muito, porque é meio constrangedor, mas só quem é negro e se veste diferente sabe como é", desabafa.

Serviço
Lançamento do disco Canção e silêncio, de Zé Manoel
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Quando: Hoje, às 20h30
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia)
Informações: 3355- 3323

Confira vídeos de bastidores:




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