Após seis anos, a trama que fez o cinema argentino ganhar seu segundo Oscar volta a entrar em cartaz, mas sob uma nova roupagem. O remake americano de O segredo de seus olhos, cuja tradução no Brasil é Olhos da justiça, é fiel à essência narrativa da trama, mas, mesmo assim, parece não escapar da sina de uma americanização um pouco forçada do filme, com direito até a uma subtrama ligada ao terrorismo. Em uma adaptação não mais do que correta, o filme dá uma sensação de dejà vu - e isso não tem exatamente a ver com a história contada pelo filme, mas por sua “cara” muito mais ligada a séries americanas como Law and Order.
O prestígio do filme original serviu para esta adaptação juntar um elenco com três Oscars em casa: Chiwetel Elijofor, Nicole Kidman e Julia Roberts. Ele é Ray Kasten (Chiwetel Elijofor), um ex-agente do FBI que se depara com um crime relacionado à família de uma de suas colegas e amigas, Jess (Julia Roberts). A sua obsessão por resolver o caso é o que faz o filme andar, em uma trama que passeia por uma investigação fechada por interesses escusos e reaberta anos depois pela insistência de Ray.
No entanto, se entre as maiores qualidades de O segredo dos seus olhos há uma tensão sexual e um subtexto relacionado à ineficiência das instituições argentinas, isso se dilui na versão americana para privilegiar um thriller no qual falta o principal: deixar o espectador eletrizado para saber o fim da história, por mais que ele já a tenha visto antes. Um dos elos mais fracos é a química entre Ray e Claire, que deveria existir quase inexistente, muito por responsabilidade de Nicole Kidman, que parece alheia ao próprio personagem, sem expressão e muito longe de uma pessoa real, com camadas que a façam ser interessante.
Um dos pontos que pendem a balança a favor do filme é a interpretação de Julia Roberts, que dá a medida certa da dor de uma mãe que teve a filha morta e deixa sua vida ser destroçada por essa perda. Essa é uma das poucas mudanças fundamentais no texto - o gênero da personagem que não se conforma com o desaparecimento de um ente querido, que, em O segredo dos seus olhos, era um homem. No entanto, a direção pareceu não acreditar tanto assim na interpretação da atriz e recorreu ao recurso comum de envelhecê-la e enfeiá-la para transmitir mais credibilidade em sua interpretação. Para quem viu o original, o remake repete um destino comum: a qualidade inferior, embora permaneça como curiosidade para quem ainda sente saudades da versão argentina.
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