A lista de problemas enfrentados pela emissora pública TV Pernambuco é extensa: equipamentos obsoletos, falta de manutenção, quadro insuficiente de funcionários e processo de digitalização atrasado. A situação é ainda mais preocupante diante do prazo para digitalizar o sinal e manter a transmissão de conteúdo do canal, uma das vitrines para a produção audiovisual do estado. De acordo com o Ministério das Comunicações, o limite para desativar o modelo analógico na Região Metropolitana do Recife é julho de 2017. Até agora, o projeto não saiu do papel - ao contrário da situação verificada em outras emissoras públicas como Rede Minas, TVE da Bahia e TVE do Rio Grande do Norte.
[SAIBAMAIS] Os mais pessimistas - ou realistas - vislumbram o risco de a TV Pernambuco (canais 46 e 12) sair do ar, caso não cumpra o prazo de transição. O risco motivou a campanha Unidos pela TV Pública. "Temos mobilizado realizadores audiovisuais, artistas e produtores culturais para encaminharem as produções aos canais públicos de televisão em Pernambuco - a TV Pernambuco e a TVU Recife", conta o cineasta Pedro Severien, integrante do Conselho de Administração da TV PE, composto por 13 membros (seis representantes da sociedade civil e seis do governo do estado). A meta inicial é reunir 100 horas de material para ocupar as TVs públicas como um protesto criativo.
"A digitalização do sinal aumentará a audiência por conta da melhora na transmissão", projeta Severien. O projeto da transição é orçado em R$ 6 milhões para a primeira etapa de adequações no sinal analógico e mais R$ 8 milhões para a digitalização. Em nota, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação reconhece as dificuldades. Mas aponta a crise como obstáculo: "Todo esse cenário financeiro desfavorável impediu o governo de Pernambuco de alocar novos recursos para a TV Pernambuco, principalmente seu tão desejado e necessário processo de digitalização", diz o texto.
O órgão enxerga a necessidade de "fortalecer a TV pública, com programação de qualidade e de prestação de serviço ao povo pernambucano". A secretaria ainda afirma que vem tomando providências para resolver a situação: "Apesar dos esforços, a falta de recursos inviabilizou em 2015 a realização de melhorias na estrutura da TV Pernambuco", destaca a nota. Outro gargalo da TV é a falta de manutenção e a inoperância de parte das 71 torres de TV, essenciais para levar o sinal a todo o estado.
De acordo com o vice-presidente da TV Pernambuco, Paulo Fradique, o processo de digitalização da geradora em Caruaru já foi aprovado pelo Ministério das Comunicações. "Falta a verba para fazer a licitação e comprar equipamento. É a meta principal, até porque é legal para que a gente continue respondendo pela concessão pública", ressalta. O gestor reconhece que houve "uma desaleração de investimento em todos os setores". "Estamos com perspectivas originais ainda delineadas, mas aguardando um momento para a gente fazer valer esse projeto", descreve.
Em detalhes
Recursos
Rede Minas e TVE da Bahia são considerados modelos eficientes de TVs públicas. O orçamento de 2015 da Rede Minas foi de R$ 22 milhões, com uma suplementação de R$ 10,5 milhões para investimentos do novo parque tecnológico da emissora. Em 2016, estão previstos mais R$ 5 milhões. Já a TVE da Bahia conta com R$ 30 milhões. Valores bem superiores ao da TV Pernambuco, que dispõe em torno de R$ 2,5 milhões por ano.
Conteúdo
Uma equipe terceirizada da TV Pernambuco produz conteúdo local, como os programas Pensando alto e Balaio, além de interprogramas inseridos ao longo da programação. Como ela é retransmissora da TV Brasil, também exibe atrações nacionais, como Arte do artista, e internacionais, como a novela africana Windeck.
A EPC
Em 2013, foi constituído um projeto de lei que desaguou na Empresa Pernambuco de Comunicação. Ela foi criada com o objetivo de recuperar a infraestrutura da TV Pernambuco e traçar uma nova linha de atuação dentro do previsto para a TV pública.
Legislação
A Lei do Audiovisual de Pernambuco prevê o direito de a TV Pernambuco exibir conteúdo produzido no estado com apoio dos órgãos públicos. É uma forma de garantir a transmissão das obras pernambucanas para o público do estado. Mas, segundo Pedro Severien, nem sempre a janela é aproveitada. Neste mês, a série de documentário Ao vivo na Várzea estreia após circular no canal Curta! e na Globo.
A campanha
Unidos pela TV Pública se articula sobretudo nas redes sociais. Há um formulário para os produtores enviarem conteúdo: diariode.pe/buvk.
Números
75
pessoas trabalham na TV Pernambuco, entre funcionários diretos e terceirizados.
13
pessoas fazem parte do Conselho de Administração, criado em 2013, que inclui a participação de representantes da sociedade civi.
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