Medieval Versão de Macbeth com Michael Fassbender já está nos cinemas Nova adaptação da peça de William Shakespeare é um espetáculo cinematográfico sensorial, mas Marion Cottilard não consegue transmitir a forte influência de Lady Macbeth sobre as intrigas políticas

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/12/2015 12:50 Atualizado em: 24/12/2015 17:26

Marion Cotillard e Michael Fassbender vivem o maquiavélico casal. Foto: Diamond Films/ Divulgação
Marion Cotillard e Michael Fassbender vivem o maquiavélico casal. Foto: Diamond Films/ Divulgação
 
Macbeth: ambição e guerra é interessante pela maneira como transforma uma peça de teatro do século 16 em um movimentado espetáculo cinematográfico contemporâneo. A nova adaptação emoldura o texto de William Shakespeare com cenas de ação rebuscadas, bastante uso de câmera lenta, efeitos especiais expressionistas (sobretudo na manipulação das cores), batalhas detalhadamente orquestradas, duelos coreografados com elegância e paisagens naturais arrebatadoras (a ilha de Skye, na Escócia, é a principal locação). O cineasta australiano Justin Kurzel consegue ainda fazer o trabalho corporal dos atores ficar quase tão importante quanto a declamação dos textos.

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No papel do general Macbeth, o alemão Michael Fassbender confirma que é um dos melhores atores da atualidade ao adotar uma orgânica gestualidade para conseguir enriquecer um personagem tão grandioso (já interpretado por atores como Ian McKellen, Orson Welles, Toshiro Mifune e Sean Connery), um general da Escócia do século 11 disposto a matar para assumir o trono, alimentado por ilusões e enlouquecido pela ganância e pela sede de poder.

Nas melhores versões da peça, entretanto, a presença feminina, representada por Lady Macbeth, esposa do tirano, costuma ser um dos eixos da história, um motor por trás das motivações políticas. Ela não tem tantas cenas, mas sua aparição deve ser sempre determinante para os rumos da trama. Marion Cotillard, que a interpreta no novo filme, contudo, não atinge essa imponência. A intérprete não alcança uma profundidade dramática. Apesar de não ser ruim a ponto de ficar meramente decorativa, a atriz demonstra uma lamentável passividade (talvez tenha sido reprimida durante as filmagens). O rei Duncan é vivido por David Thewlis (o professor Remus Lupin da série Harry Potter).

Iniciado com a cena do velório de uma criança, o filme não consegue disfarçar, entre qualidades e defeitos, que é uma atualização de Macbeth para a era de Game of thrones. A influência do seriado televisivo (possivelmente devido a critérios mercadológicos) é perceptível na maneira como a violência é apresentada e na sombria reconstituição de época, entre outros aspectos. De qualquer forma, uma respeitável adaptação de Shakespeare torna-se oportuna em uma época de intrigas políticas acirradas e funciona como instigante alegoria para episódios reais da vida palaciana atual.


VERSÃO BRASILEIRA
Ambição e guerra é a segunda adaptação de Macbeth a chegar aos cinemas brasileiros este ano. A primeira foi A floresta que se move, com Ana Paula Arósio e Gabriel Braga Nunes como o casal protagonista e Nelson Xavier no papel do rei, sob direção do cineasta Vinicius Coimbra (A hora e a vez de Augusto Matraga). Na versão nacional, a história foi transportada para o mercado financeiro nos dias atuais.



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