Televisão Novela é um produto datado, diz o pernambucano Aguinaldo Silva Atualmente, o pernambucano escreve um novo folhetim, que será ambientado no interior de Minas Gerais

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 31/01/2016 17:00 Atualizado em: 29/01/2016 19:54

Aguinaldo Silva escreve nova novela ambientada no interior de Minas Gerais - Foto: TV Globo/Divulgação (Foto: TV Globo/Divulgação)
Aguinaldo Silva escreve nova novela ambientada no interior de Minas Gerais - Foto: TV Globo/Divulgação

Com quase 40 anos de televisão, o pernambucano Aguinaldo Silva levanta a bandeira do conservadorismo, ao mesmo tempo em que adota uma postura de vanguarda nos enredos inusitados de algumas obras. Nascido em Carpina, o autor de novelas da Globo, de 72 anos, apropria-se de referências de seriados internacionais, uma paixão desenvolvida desde Os Sopranos (1999). "É difícil uma noite em que eu não veja dois ou três episódios de uma série. No momento, estou vendo How to get away with murder".

O autor dedicou 18 anos ao jornalismo. Em 1979, fez o primeiro trabalho como roteirista da Globo no seriado Plantão de polícia (1979). A primeira novela foi O outro, em 1987. Desde então, escreveu Tieta, A indomada, Pedra sobre pedra e A indomada. No ano passado, ganhou o primeiro Emmy Internacional com Império (2014). Ele mantém acesa a veia jornalística, sobretudo quando escreve textos para o blog pessoal ou entrevista personalidades polêmicas, como a atriz Luana Piovani.

Diz exercer a função com liberdade, sem redita respostas com receio de saias justas. Atualmente, Aguinaldo trabalha em pelo menos quatro projetos. Entre eles, a criação de uma empresa dedicada a produzir seriados e uma experiência com novas gerações de roteiristas. "Eu aprendo muito com essas pessoas, bem mais jovens que eu".

Você trabalha em que atualmente?
Da última masterclass que dei em novembro, saiu uma sinopse de um capítulo de novela. Tem o título provisório, mas não posso dizer o nome. Se passa na cidade do interior do Sul de Minas. É uma história que foi produzida em equipe, assim como Fina estampa. E essa é a história em que estou trabalhando. Além disso, estou fazendo várias coisas. Sou um homem que não se conforma em ficar parado. Estou preparando a Fábrica, uma entidade jurídica para produzir seriados. Seriado é minha grande paixão. O que pretendo é reunir roteiristas em quatro grupos. Cada um vai criar um seriado. Vamos oferecer aos produtores. Se interessar para a Globo, posso assinar com meus roteiristas. Caso ela venda para outro canal, meu nome não pode constar porque tenho contrato de excluvisidade com a emissora.

Você também visa produzir para outras plataformas, como o Netflix?
Eu ainda não pensei nisso. Mas vou oferecer. A Netflix vai produzir no Brasil também. O público brasileiro é muito grande. Eu acho que o mercado de séries é muito amplo. Não é nem o futuro mais. É o mercado do presente. Novela é um produto datado. Não é que esteja se desvalorizando, mas a novela já atingiu um ponto que, a partir de agora, se torna repetitiva. É difícil fazer algo original. Seriados são mais elaborados, mais curtos.

De que forma os seriados influenciam a sua obra?
Eles influenciam na utilização de ganchos, na forma mais elaborada de contar história sem deixar de ser popular. Eu aprendi muito com eles. Aprendi a fazer, do ponto de vista de linguagem, uma novela mais moderna, menos esquemática. Em Império, por exemplo, o protagonista morre. E isso é um tabu. Eu aprendi com os seriados que podia fazer isso.

Você já se revelou conservador, mas se opõe a uma televisão mais liberal?
O esquerdismo é uma doença infantil, da qual a gente se curou com o tempo. Acho que o mundo precisa de pessoas conservadoras, uma visão menos revolucionária. O mundo tem uma ordem que não é alterada nunca, sem sérias consequências. Quando as pessoas se posicionam contra essa visão mais conservadora do público, elas esquecem que o público de televisão no Brasil é de 60 milhões. É impossível que 60 milhões de pessoas devam ser liberais. A maioria é conservadora. Quando a gente escreve para um público amplo, a gente não pode ser radical. Há assuntos que incomodam o público. Nenhum tema me choca, mas estou escrevendo para muita gente. A nossa linguagem ficou mais liberal. Às vezes, ela não é o que o público quer ver.

Você adapta suas obras pensando na internet?
Em Império, eu pensei muito nesse público. Foi a primeira vez que pensei que tinha que fazer sucesso nas mídias sociais. Fiz uma novela para dar buchicho na web. E acho que consegui.

A série Doctor Pri foi engavetada. Ainda não há previsão de quando será lançada?
É um projeto que só me interessaria fazer na TV a cabo. E a TV a cabo para mim só pode ser Viva, GNT ou canais da Globo. Minha ideia é conseguir autorização. Porque acho que a Globo está com bastante seriado com o que se preocupar. Como não foi produzida na época, teria que atropelar vários outros para de novo entrar na linha de produção.

As entrevistas no seu blog são bem interessantes. Parte da lista de entrevistados é considerada polêmica, como Luana Piovani e os jornalistas Léo Dias e Fabíola Reipert, que cobrem celebridades. É uma opção ir nessa linha?
Eu escolho pessoas que são polêmicas porque acho que, quando elas dão entrevistas, não conseguem se mostrar como realmente são. As entrevistas são mais esquemáticas, falam as coisas de sempre. E eu não. Faço entrevista na qual permita que ela fale e se entregue. Nunca interrompo. E, na medida que ela fala, ela se mostra como realmente é. Luana Piovani, uma pessoa tida como difícil, se humaniza completamente na entrevista. E isso porque eu permito que ela fale. As entrevistas acabam ficando interessantes. É como se a gente tivesse visto pela primeira vez. Existe uma proposta de um canal alternativo para exibir a série de entrevistas.

Em algumas delas, os entrevistados chegam a citar pessoas de poder da Globo, como o diretor Boninho. Já houve alguma interferência por parte da emissora?
Não. Isso é ótimo, porque mostra que a emissora é muito liberal. Ninguém liga para reclamar. Houve um momento bastante tenso. Com Luana, pensei que seria demitido. (risos) Mas não cortei nada. E não houve problema.

É impressão minha ou toda obra sua tem um toque de Pernambuco?
Eu sou pernambucano. Minhas raízes são daí. Embora fique muito tempo sem ir ao Recife, eu tenho sotaque até hoje. Quando escrevo uma novela que passa no Nordeste, o sotaque volta todo. Tem sempre alguma coisa de Pernambuco.

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