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Editor-chefe do maior site de HQs do país lança livro e avalia mercado

Sidney Gusman criou o portal Universo HQ há 15 anos e, para comemorar, compilou as entrevistas mais importantes publicadas no site, com ícones que vão de Milo Manara a Mauricio de Sousa

Sidney Gusman já trabalhou com nomes como Mauricio de Sousa.Foto: Divulgação

“Era muita tosca, esquisita. E ainda era uma cópia escancarada de Alex Raymond. Naquele tempo, eu não tinha noção de que era feio copiar desenho dos outros e, descaradamente, ‘chupei’ um pouquinho do estilo do Raymond”. Mauricio de Sousa é sincero. Até ele, o maior quadrinista brasileiro e responsável pela alfabetização de milhões de brasileiros, teve um começo de difícil inspiração.

[SAIBAMAIS] O homem que há 50 anos modificou a “nona arte” no Brasil mimetizou os traços do americano criador das HQs Flash Gordon e Agente Secreto X-9 na década de 1960. E se arrepende disso. A revelação, honesta, não foi dada a um repórter qualquer. A sentença extraída em conversa com o jornalista Sidney Gusman, faz parte de uma série de entrevistas icônicas que recheiam as páginas de Universo HQ Entrevista — Grandes nomes dos quadrinhos entrevistados por quem entende do assunto.

Lançado há pouco, o livro organizado por Sidney Gusman, que conduz os bate-papos com Marcelo Naranjo, Sérgio Codespoti, Samir Naliato e Marcus Ramone, dá espaço a outros ícones das histórias em quadrinhos. Milo Manara, Neil Gaiman, José Luis Gárcia López e outros 19 artistas contam sobre o início da carreira, parcerias, mercado, obras que os consolidaram e projeções para o futuro. O livro celebra os 15 anos do site Universo HQ, do qual Gusman, que escreve sobre o tema desde a década de 1990, é editor-chefe. A seriedade e credibilidade com que tratam a nona arte, para Sidney, são as razões para a longevidade do portal, criado quando o mundo das tirinhas ainda não era levado tão a sério no Brasil.

Passadas quase duas décadas, o mercado tupiniquim já não é mais o mesmo. Ainda bem. Na época em que o Universo HQ foi ao ar, a Abril (que edita os títulos da Disney, por exemplo) era a maior editora de quadrinhos do país. Reina soberana e quase absoluta. Hoje, o posto é ocupado pelo braço local da italiana Panini Comics, de onde saem títulos como os superheróis Homem-aranha e Batman. A elas, somam-se um sem-número de selos, como o Nemo. Sem citar as publicações independentes e as HQs autorais que só saem do espaço virtual graças a sites de financiamento coletivo.

A diversidade se reflete no mercado, mais aberto ao segmento outrora hostilizado como algo infantil ou de menor valor literário. “Vimos, com muita alegria, os quadrinhos ganharem mais espaço em livrarias, o surgimento dos principais eventos ligados à nona arte no Brasil e, especialmente, um aumento significativo na produção de obras nacionais — e não falo apenas de quantidade, mas sim de qualidade”, recorda Sidney.

Duas perguntas para... Sidney Gusman 
A economia difícil interfere na quantidade/qualidade de títulos novos? 
Até este ano, os quadrinhos não sentiram tanto a crise, mas é inevitável que isso acontecerá. Porque algumas editoras já diminuíram os investimentos e os autores independentes já estão encontrando dificuldades com os preços de impressão...

Qual é a  importância da edição brasileira de eventos como a Comic Con Experience (realizada em São Paulo, em dezembro) para o cenário brasileiro? 
Vital! Estamos aprendendo ainda a lidar com grandes eventos, mas, ainda assim, os resultados para os autores têm sido maravilhosos. E é importante que haja mais e mais eventos do gênero, pois havia, sim, uma demanda reprimida. O público existia e não tinha onde externar essa paixão. Agora tem.

SERVIÇO 
Universo HQ Entrevista — Grandes nomes dos quadrinhos entrevistados por quem entende do assunto
Organizado por Sidney Gusman. Nemo, 360 páginas. Preço: R$ 78.

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