Transmitir a singeleza dos personagens dos quadrinhos que há mais de meio século inspiram adultos e crianças em todo o mundo é o grande desafio de Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, o filme. A nova versão animada, em cartaz nos cinemas do Brasil, funciona melhor quando procura ser aparentemente simples (sem perder a complexidade psicológica) do que quando acrescenta cenas mais agitadas.
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O longa-metragem intercala as engraçadas e comoventes situações do cotidiano de Charlie Brown, que conseguem captar os sentimentos do menino angustiado de forma fiel, com sequências de ação protagonizadas pelo cachorrinho Snoopy, que parecem ter sido criadas para prender a atenção de crianças mais hiperativas. Em um produto com potencial de lucro milionário, é compreensível que concessões sejam feitas para conquistar novos públicos contaminados pela agitação e pelo excesso de estímulos visuais da sociedade contemporânea. É algo que prejudica a relação com o material original, mas não chega a comprometer a essência da obra como um todo.
A opção pela computação gráfica foi assumida com responsabilidade. A tecnologia não adultera a identidade gráfica das tiras. Os desenhos do cartunista Charles Schulz (1922-2000) continuam plenamente presentes, mas agora com mais sombras e formas volumétricas e tridimensionais. O estilo foi mantido. A sugestão de tracejado permanece presente em detalhes, como a boca dos personagens (quando fechadas), as onomatopeias e algumas pontuais sequências em 2D.
Seria impossível aprofundar a personalidade de todos os amigos de Charlie Brown em um filme de 88 minutos. Mesmo assim, figuras como Patty Pimentinha, Marcy, Linus, Schroeder e Lucy estão representadas com fidelidade. O mais prejudicado foi o passarinho Woodstock, que ficou passivo demais e não está carismático como nos quadrinhos. As referências à cultura erudita também foram preservadas, com citações a Beethoven, Rossini e Leon Tolstoi.
A turma de Charlie Brown já havia sido levada à TV e ao cinema em formato de seriado animado e em longas-metragens. O novo filme homenageia os anteriores pontualmente ao reaproveitar quatro músicas do compositor Vince Guaraldi (1928-1976) e as "vozes" originais de Snoopy e Woodstock, gravadas pelo animador Bill Melendez (1916-2008). O filho de Schulz e as instituições que preservam a obra do cartunista supervisionaram o projeto.
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