Literatura Obra completa de escritores como Mário de Andrade e Paul Valéry entram em domínio público

Publicado em: 06/01/2016 10:52 Atualizado em: 06/01/2016 14:10

A obra completa de Mário de Andrade entrou em domínio público em 2016. Crédito: Lasar Segall/divulgação.
A obra completa de Mário de Andrade entrou em domínio público em 2016. Crédito: Lasar Segall/divulgação.
A entrada de uma obra literária em domínio público quase sempre gera aumento significativo de popularidade. Com a liberação dos direitos autorais, há o barateamento de novas edições impressas, surge a possibilidade de criar versões inspiradas na original, sem contar com a natural disponibilização do texto na internet.

Tome-se como exemplo O pequeno príncipe, de Saint-Exupéry, cujas vendagens já eram expressivas mesmo antes de completar 70 anos da morte do autor. Com a liberação, em 2015, as vendas mais que dobraram em relação ao ano anterior, superando os 300 mil exemplares. Em 2016, será a vez de Mário de Andrade, Adolf Hitler, Felix Salten, Antal Szerb.

A princípio, também entraria em domínio público O diário de Anne Frank, mas a detentora dos direitos não está disposta a abrir mão do livro, sob alegação de se tratar de uma obra em coautoria com o pai da garota judia, Otto, morto em 1980. A regra do domínio público vigente no Brasil é orientada pela Convenção de Berna, assinada por vários países.

Mário de Andrade (1893-1945)
Pioneiro do modernismo brasileiro, o escritor marcou a Semana de Arte Moderna de 1922 com o livro Pauliceia desvairada. A principal obra deixada pelo escritor paulista é Macunaíma (1927). Na poesia, são populares Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males, Poesias e Lira paulistana. Como contista, teve Primeiro andar e Contos novos.

Trecho de Macunaíma

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. [...]

Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar, exclamava:— Ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada.[...]

Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.”

Paul Valéry (1871-1945)
Escritor e filósofo francês da escola simbolista. Após se formar em direito, passou a se dedicar completamente à literatura, com forte influência de Stéphane Mallarmé. Sua produção poética é considerada uma das mais importantes da poesia francesa do século 20. Entre os livros publicados no Brasil, estão Alfabeto, Variedades, Poemas apócrifos, Meu Fausto.

Trecho Meu Fausto

“FAUSTO
Você está muito bem assim… E usa a porta para entrar!… E exala um perfume… Com a breca!

MEFISTÓFELES
Não é? Uma ínfima modificação no enxofre clássico e espalho o perfume da flor mais agradável ao olfato.

(Instala-se de modo esquisito em cima da mesa.)

FAUSTO
Você sabe muito bem que os perfumes são os maiores traidores do mundo. Anunciam, esboçam e denunciam os mais requintados desígnios. Quem se perfuma está se oferecendo! Um grande santo sustentava que os odores impedem a meditação.

MEFISTÓFELES
Tanto melhor. A meditação é um vício solitário, que cava no tédio um buraco negro que a estupidez vem preencher. Devo muito à meditação…”

Felix Salten (1869- 1945)
Escritor austríaco com obra dedicada aos contos, romances e ao teatro, entrou para a história como o autor de Bambi, livro adaptado várias vezes para teatro e cinema. A versão mais famosa é o desenho animado lançado pela Disney. No Brasil, o texto original foi lançado pela editora Cosac Naify.

Trecho Bambi

“Ele veio ao mundo no meio da floresta, numa dessas clareiras escondidas na mata que parecem abertas de todos os lados, mas que na verdade estão protegidas por todos os lados.

Naquele lugar havia pouco espaço, apenas o suficiente para ele e a mãe.
Lá estava ele, inseguro sobre as patas finas, o olhar perdido de olhos embaçados que não viam nada, a cabeça caída, tremendo bastante, e ainda muito tonto.

- Mas que bebê lindo! – exclamou a gralha-azul”

Adolf Hitler (1889-1945)
O ditador alemão escreveu, enquanto estava na cadeia, seu único livro, Mein kampf (Minha luta). É um misto de autobiografia e programa ideológico para a Alemanha nazista. A liberação dos direitos e o consequente aumento da popularidade preocupa governos e instituições, pois a obra até hoje serve de influência para os neonazistas. 

Trecho de Minha luta

“Nosso povo alemão, hoje esfacelado, jazendo entregue, sem defesa, aos pontapés do resto do mundo, tem, precisamente, necessidade da força, que a confiança em si proporciona. Todo sistema de educação e de cultura deve visar a dar às crianças de nosso povo a convicção de que são absolutamente superiores aos outros povos”


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