Crítica Os Oito Odiados aprofunda essência do cinema de Tarantino Novo filme do cineasta está em cartaz em pré-estreias e ganha mais sessões a partir desta quinta

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/01/2016 07:03 Atualizado em: 07/01/2016 18:17

Samuel L Jackson e Walton Goggins em ação no principal cenário do filme. Foto: Diamond/ Divulgação
Samuel L Jackson e Walton Goggins em ação no principal cenário do filme. Foto: Diamond/ Divulgação
 
Os oito odiados não vai definir novas tendências da cultura mundial, como fizeram Pulp fiction (1994) ou Kill Bill (2003), mas tem chances de ser considerado o melhor trabalho de Quentin Tarantino (só o tempo confirmará). Sem perder as principais características de estilo do diretor, o filme é mais homogêneo, com uma ação concentrada em elementos essencialmente dramáticos. Assim como em Cães de aluguel (1992), primeiro longa-metragem do cineasta, o eixo da trama está em uma espécie de jogo mortal estabelecido entre um grupo de personagens trancados dentro de um único ambiente fechado. Pequenos erros são fatais e os assassinatos podem ser tão brutalmente violentos quanto surpreendentemente divertidos.

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No lugar de sugerir um direcionamente teatral, a limitação espacial é apenas mais um estímulo para um exercício cinematográfico pleno, bastante multiangular, movimentado, sonoro e musical. Mesmo quando são formados por textos longos, os diálogos fluem com a oralidade dos bons contadores de causos, reforçada por personalidades aprofundadas na medida certa pelo equilíbrio entre a interpretação dos atores e a caracterização visual das figuras. Ao mesmo tempo, as mentiras e as falsas identidades são peças fundamentais para o domínio sobre o espectador, que não pode confiar em tudo o que vê, pois sempre haverá novos pontos de vista a serem revelados (há três pontuais desconstruções da linearidade narrativa).

Os oito odiados confirma que o cinema tarantinesco é genial não por causa das colagens de referências, exageros, catrevagens (ainda bastante presentes) ou explosões gráficas, mas pelo senso anedótico com que conduz as emoções das mais diferentes plateias.

Uma estátua de Jesus é a primeira imagem que aparece no filme, ainda nos créditos iniciais. Cristo é mencionado em diversas cenas pelos pistoleiros, só que o comportamento deles não é nada cristão (muito pelo contrário). Abraham Lincoln, que aboliu a escravidão nos EUA, também é sempre lembrado, mas demonstrações hediondas de racismo são constantes nas falas dos brancos. A Guerra Civil Americana também já acabou na época retratada e eles ainda continuam a alimentar o ódio entre sulistas e yankees. Alguns evocam as leis e a justiça, apesar de estarem sempre dispostos a atirar para matar instintivamente a qualquer momento. A mulher interpretada por Jennifer Jason Leigh, condenada à morte, é espancada e humilhada o tempo inteiro, mesmo que ninguém diga exatamente o que ela fez para merecer um tratamento tão violento. O filme, portanto, reflete a hipocrisia da sociedade. Ambientada no século 19, a situação retratada continua totalmente atual.



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