Arte
Público se revolta contra teatro recifense que proíbe acesso com roupas informais
Entrada à tradicional casa de espetáculos é vedada a pessoas com bermuda, short, camisa sem manga e chinelo desde 1960
Por: Isabelle Barros
Publicado em: 27/01/2016 21:50 Atualizado em: 27/01/2016 23:47
Protesto será realizado na noite desta quinta-feira. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A.Press |
"Não é permitida no teatro a entrada de pessoas trajando bermuda, short, camisa sem manga e chinelo, bem como portando alimentos e bebidas". Esta norma do Teatro de Santa Isabel é vista com antipatia por parte dos espectadores e da classe artística, a ponto de motivar um protesto marcado para esta quinta-feira à noite, durante a cerimônia de entrega do Prêmio Apacepe de Teatro e Dança, dado a quem se destacou no Janeiro de Grandes Espetáculos. Organizada pelas redes sociais, a manifestação angariou pessoas que prometem ir à casa de espetáculos justamente com as peças de roupa vetadas para questionar a validade da medida.
Confira o roteiro de espetáculos no Divirta-se
Os relatos de pessoas barradas na entrada dos espetáculos vêm acompanhados de uma insatisfação crescente com a norma, datada de 1960, justificada pelo fato de a casa de espetáculos ser considerada como um teatro monumento, dotado de valor histórico. Quem está à frente da ação é Júnior Sampaio, ator, encenador, dramaturgo e criador da companhia ENTREtanto TEATRO. No último dia 17, o artista compareceu à apresentação de Elke Maravilha no Janeiro de Grandes Espetáculos de saia longa e sua entrada foi permitida, aproveitando uma brecha no regimento do teatro. A experiência o motivou a convidar cerca de cem pessoas para acompanhá-lo nesta quinta.
De acordo com Júnior, a intenção da manifestação é chamar a atenção para um suposto anacronismo da medida. "Se este é um patrimônio cultural, só faz sentido se as pessoas frequentarem. A moda também se modificou ao longo dos anos e ir de bermuda ou havaiana não denigre o espaço. Nossa ideia é convocar até os indicados ao prêmio para irem de bermuda, por exemplo. Uma pessoa pobre não pode entrar no Santa Isabel? Este é um espaço municipal, do povo, ou o teatro pertence a uma elite?.
Teatro foi inaugurado em 1850 e é tombado desde 1949. Foto: Jaqueline Maia/DP/D.A.Press |
A ideia não é criar confusão, mas alterar o que parece não fazer mais sentido". O ator Edjalma Freitas, integrante da Cia. do Ator Nu, "Uma vez, um amigo foi ver uma peça comigo mas ele estava com uma blusa sem manga. Só conseguimos entrar porque arrumamos um casaco para cobrir o braço dele. Tudo bem proibir a entrada de comida e bebida, porque esses itens podem danificar a estrutura do teatro, mas parulhar a forma com a qual o público se veste não tem sentido. Já temos dificuldade de levar as pessoas ao teatro e o público, ainda por cima, corre o risco de ser barrado. Isso é puro formalismo vazio que vem de uma época na qual as pessoas eram julgadas pelo que vestiam. A arte precisa combater isso".
A Prefeitura do Recife decidiu não se pronunciar sobre a manifestação. Os outros teatros municipais em funcionamento, como o Teatro Luiz Mendonça, Teatro Hermilo Borba Filho e o Teatro Apolo não têm essa restrição.
PELO BRASIL
A norma adotada pelo teatro de Santa Isabel também é adotada pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, aberto desde 1909, que permite apenas o traje esporte fino - camisa, calça e sapato fechado - na entrada dos espetáculos em cartaz. Já no Theatro Municipal de São Paulo, inaugurado em 1911, não há nenhuma restrição de vestimenta.
HISTÓRIA DO TEATRO
O teatro foi inaugurado em 1850, com projeto do arquiteto francês Louis Léger Vauthier. Desde sua abertura, foi o centro social da vida do Recife Imperial, sendo frequentado principalmente pela sua elite. Em seu início, tinha em sua plateia pessoas ilustres como o poeta Castro Alves e Joaquim Nabuco. Ambos aproveitavam o espaço para defender suas posições políticas. Nomes do teatro local como Samuel Campelo e Valdemar de Oliveira, na primeira metade do século 20, trouxeram ainda mais popularidade ao espaço.
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