O roteirista pernambucano Nelson Caldas Filho, de 53 anos, nem planejava enveredar no segmento do humor na Globo. Mas não recusou quando os primeiros trabalhos apareceram. Após abandonar o direito e a publicidade, ele trilhou o caminho do entretenimento. O primeiro trabalho foi o Zorra total, em 2004. Na sequência, também escreveu para o Sob nova direção, A grande família e Divã. Paralelo aos trabalhos na emissora, também escreve longas-metragens.
[SAIBAMAIS]
O filme Através das sombras, com Virginia Cavendish e Domingos Montagner, é uma das produções cinematográficas recentes. Foi exibido no Festival do Rio de 2015 e deve estrear em circuito comercial em março. Atualmente, desenvolve outros projetos para o cinema, como Patuá tamarindo, com a carioca Adriana Falcão, e O sem fim, com o diretor Alex Carvalho. Para televisão, desenvolve projeto de seriado. "Acabei de apresentar um projeto de um novo seriado cômico. Envolve humor e economia", disse.
Como foi seu começo como roteirista e o início na Globo?
Fazia faculdade de direito e comunicação ao mesmo tempo, mas não gostava de direito. Comecei em publicidade. Fui para Inglaterra e quis me qualificar. Minha opção foi estudar história do cinema. Quando voltei, fiz um filme com Sérgio Oliveira, em que escrevi e dirigi. Comecei a trabalhar em agências até que virei diretor de criação. Descobri que não queria ser aquilo. Para seguir cinema, eu larguei tudo. Fui para o Rio de Janeiro. João (Falcão) já estava lá há dez anos. Ele me indicou uma oficina na TV Globo.
Qual foi o primeiro trabalho na emissora?
Comecei a fazer um passeio pelos programas. Primeiro foi o Zorra. Era um programa que não gostava, mas os personagens que escrevi eu gostava, como os de Chico Anysio e Maria Clara Gueiros. Achava cafona e antigo, mas os personagens eu gostava de escrever.
Como foi escrever para A grande família?
Foi muito bacana. Fiz duas temporadas. Até que me chamaram para o Sob nova direção. Não gostava porque achava confuso. Não pertencia a núcleo nenhum. Não tinha a estabilidade de A grande família. Tanto que Sob nova direção durou dois anos, ao contrário de A grande família, que durou quase 15. Depois disso, fiquei fazendo cursos. Uma vantagem da Globo é que ela sempre oferece cursos bons. Fiz cursos de religião, de mitologia, que indicam no texto e enriquecem um escritor. Depois disso fui chamado para fazer a série O divã, que foi o que mais gostei.
O que faz atualmente?
Quando a Globo fez 45 anos, eles queriam lançar grandes símbolos da TV em DVD. Me chamaram para adaptar Roque Santeiro (1985). Primeiro eu neguei. O trabalho era estranho, porque era cortar e deixar 20% da novela só. Servia para contar a minha maneira. No fim, aceitei. E foi um sucesso. Em 2010, foi uma coisa que deu muito dinheiro. Uma época boa. Eles já quiseram fazer outros símbolos, como Irmãos coragem e Dancing days. Eu destruo a novela do autor e reconstruo à minha maneira, respeitando o autor e o valor da obra. Valorizo a cultura de época. É um trabalho de resgate e roteiro. Por conta da crise, as pessoas compram menos DVD. Tenho que cada vez cortar mais para deixar o preço mais acessível. Escrevo melhor hoje depois dessa experiência.
Você enxerga uma mudança em escrever para TV nos dias atuais, em tempos de streaming, TV por assinatura e internet?
Eu estou percebendo uma tentativa de mudança de linguagem o tempo inteiro, porque a TV aberta e fechada estão tendo uma concorrência muito séria com a internet. Existe uma concorrência com o Netflix. O futuro, na minha opinião, é que a televisão e internet serão integrados. Não acredito na televisão do jeito que a gente conhece. Acho que vai ter que se transformar. Só a novela que não vai se transformar, porque continua conservadora. É difícil mudá-la.
NÚMEROS
2
Longas-metragens
20
Trabalhos na TV
4
Filmes em pré-produção
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