Pontualidade nos horários dos shows, movimentação tranquila de público e uma das apresentações mais vigorosas dos polos descentralizados do carnaval do Recife até então, a cargo de Karina Buhr, marcaram a segunda noite do Festival Rec-Beat, armado no Cais da Alfândega, Bairro do Recife. A estreia do álbum Selvática, lançado no ano passado pela cantora baiana radicada em Pernambuco, encerrou a programação do domingo no polo, ainda nas primeiras horas da madrugada. Com princípio melódico, a performance de Karina teve início à 0h40 - estava prevista para começar à 0h30, finalizando, assim, sequência de entradas pontuais no palco ao longo de toda a noite - e tornou-se mais intensa com o decorrer do setlist. Músicas como Eu sou um monstro, Conta-gotas, Vela e navalha e Esôfago entraram no repertório, cuja abertura foi embalada pelos versos de Dragão.
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A catarse dos fãs acompanhou o ritmo da artista de figurino libertário, ousado, sensual, cuja relação com o empoderamento feminino era evidenciada pelas letras das canções. As transparências no vestuário remetiam à capa do disco, o terceiro da carreira dela, no qual Karina exibe os seios e segura um punhal - motivo de polêmica na fase de lançamento, quando a imagem foi censurada pelo Facebook devido à nudez. Na ocasião, ela já declarava a inspiração vinda das mulheres selváticas, das guerreiras Daomé e dos animais selvagens.
O termo "selvagem" definiu, inclusive, boa parte dos momentos, os ápices do show da noite passada. O curto "Boa noite, gente" disparado pela artista no início da performance deixou claro que as músicas - aliadas à entrega dela em cena - bastavam para garantir a empatia dos foliões: ao fim do show, elogios à cantora dominavam o Cais da Alfândega, replicados, ainda, nas redes sociais. Ovacionada pela plateia, Karina saiu de cena sob chuva, tendo encontrado eco entre o público do Rec-Beat para a estreia de Selvática em Pernambuco.
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Já o grupo baiano Ifá Afrobeat aproveitou o palco para requerer maior valorização da cultura africana e das raízes musicais emprestadas pelo Velho Continente ao mundo. "Somos Ifá Afrobeat, mas nosso sobrenome é África, o de todos. Somos funk, afrobeat e tudo mais que a Mãe África nos deu", declarou um dos integrantes. Ele mencionou, ainda, encontro com Jorge Du Peixe, vocalista do grupo pernambucano Nação Zumbi, em show na concha acústica de Salvador, para registrar homenagem a Chico Science e ao legado do movimento mangue no Brasil. Uma das faixas, intitulada Axé, havia sido feita nos últimos dias, segundo o grupo.
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Batida embalou a "pista de dança" em que se transformou o Rec-Beat entre as 22h e a meia-noite com faixas populares no continente africano nas décadas de 1960 e 1970 - recorte estudado por ele ao montar repertório. "Meu nome é Pedro, eu não sou famoso, nem gosto de pedir que o público faça barulho", brincou o africano radicado em Portugal. Os recifenses puderam ouvir raridades, como os primeiros vinis prensados na África de 50 anos atrás.
A oferta de táxis ao fim da sequência de shows era razoável, embora muitos tenham partido em direção à Rua Tomazina, também no Bairro do Recife, onde o Profana Pub abriga, desde o sábado, as festas "after Rec-Beat." Nesta segunda, se apresentam no Cais da Alfândega Caravana Tapioca (17h), Sarah Blackbird (19h30), Sofia Freire (20h), Duda Brack (21h), Francisco, el Hombre (22h), Moh! Kouyaté (23h10) e Lira (0h30).
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