O bom filho à casa torna. Com repertório do último álbum, O labirinto e o desmantelo, o cantor arcoverdense Lira encerrou a penúltima noite do festival Rec-Beat, realizado no Cais da Alfândega. Com público moderado, em grande parte pela concorrência dos tambores da Nação Zumbi, que se apresentava no Marco Zero, o cantor mostrou músicas novas e relembrou seu passado no Cordel do Fogo Encantado, com quem se apresentou pela primeira vez justamente no palco do Rec-Beat, em 1999.
Confira a programação completa do carnaval recifense
[SAIBAMAIS] O repertório teve início com Desamar, também primeira música de O labirinto... Performático, Lira não parou quieto, sempre pulando e dançando. No palco, as músicas dos dois discos solo ganham um peso maior. O sistema de som do festival, excelente, ajudou, assim como a competente banda que o acompanha, que conta com o guitarrista Neilton, da Devotos.
O problema de se adaptar um show de Lira para o carnaval é justamente o repertório não-carnavalesco do músico. Composições mais intimistas e psicodélicas como Ah, se não fosse o amor e Ser não funcionam tão bem em um palco daquele tamanho, ao ar livre. A grande maioria da plateia, inclusive, parecia só empolgar de fato quando Lira resgatava músicas do Cordel, como Morte e vida Stanley, A Matadeira e Os Oim do Meu Amor. Aqui vale citar como os novos arranjos funcionam com essas músicas. Se no Cordel, a sonoridade era armorial, com tambores e violões, agora as músicas ganham uma atmosfera eletrônica, indie e pesada. A matadeira, por exemplo, soa quase como um punk rock tocado por androides descontrolados. Ponto para Lira.
Para surpresa dos fãs, Lira encaixou no repertório um cover de Sangue de bairro, lançada em 1996 por Chico Science & Nação Zumbi. Chico, que completaria 50 anos em 2016, é lembrado em todo canto que se olha pelas ruas do Recife Antigo. De camisas referenciando letras da CSNZ até rapazes com chapéu de palha e óculos como 'cosplay' do Mangueboy.
Além de música, o show teve também espaço para a poesia. Quem teve a oportunidade de assistir um show do Cordel do Fogo Encantado (a banda acabou em 2010), sabe que a teatralidade sempre foi parte fundamental do espetáculo. No Rec-Beat, Lira declamou Ai se sesse, e foi acompanhado em uníssono pelo público. Ao final, homenagens a Arcoverde e outras cidades do interior pernambucano. Lira dá um grande passo para frente, evoluindo sua sonoridade e suas letras, mas sem deixar de lado as origens. Romantismo, melancolia, tudo se mistura no intrincado labirinto musical do cantor. Cabe a nós acompanhar esse caminho, nem que seja no desmantelo.
Mais Rec-Beat
O festival chega ao fim nesta terça-feira (9), com shows de DJ Benke Ferraz, Sombra SNJ, Almério, Liniker, Maite Hontelé e Johnny Hooker. As apresentações começam às 19h30, no Cais da Alfândega (Recife Antigo).
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