Indicado a quatro Oscars, O quarto de Jack não é apenas a história de um menino que passou os cinco primeiros anos da vida preso junto com a mãe dentro de um porão, sem contato com o mundo exterior. A premissa do cativeiro é apenas o ponto de partida para uma série de questões que envolvem o significado da família, do sentimento de liberdade e dos valores da sociedade. O filme vai além da denúncia sobre a crueldade do ser humano e consegue alcançar temas mais existenciais e morais.
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Interpretada por Brie Larson, favorita ao Oscar de Melhor Atriz, a mãe do garoto carrega toda uma simbologia do significado da maternidade, tanto do ponto de vista social quanto pelo lado instintivo. Quando Jack nasceu, ela já estava presa há dois anos e passou mais cinco na companhia do filho, enquanto continuava a receber visitas do sequestrador e estuprador que a engravidou. A artista consegue compor a traumatizada personagem com um equilíbrio que os contrasta loucura e delicadeza de forma natural e coerente diante das violências sofridas pela mulher.
O filme emociona e faz pensar sem ser taxativo ou melodramático. Em uma das cenas mais dramáticas, na mesa de jantar, os olhares são tão importantes e devastadores quanto os gestos e falas. Há ainda pontos fundamentais manifestados nas subcamadas, como o papel da paternidade (seja do pai ou do avô), apresentado como uma identidade muito mais afetiva do que biológica.
Apesar de extrema, a situação enfrentada pela mãe com o filho pode provocar ampla identificação sobre o público em geral. Mulheres que vivem sozinhas (ou praticamente sozinhas) com os filhos reconhecerão aquelas noções de apego, responsabilidade e proteção, mesmo que não tenham enfrentado uma violência tão explícita. A descoberta do mundo, após os anos de aprisionamento, também faz os espectadores refletirem sobre o que significa ser livre em um mundo moderno cotidianamente demarcado por divisórias e muros.
O ator mirim Jacob Tremblay (atualmente com 9 anos) tem um desempenho tão marcante e impressionante quanto o de Brie. O personagem gera associações com outros exemplos de filmes sobre a descoberta do mundo após situações de isolamento, como os clássicos Muito além do jardim (1979) e O enigma de Kaspar Hauser (1974), além do documentário russo Svyato (2005), que retrata o primeiro encontro de um menino de dois anos com um espelho ao longo de 45 minutos.
O quarto de Jack tem sido considerado a maior surpresa entre os oito indicados ao Oscar de Melhor Filme, mas a indicação não é tão surpreendente assim. Tem sido comum aparecerem produções mais modestas entre os finalistas, como ocorreu recentemente com Whiplash (2015), Indomável sonhadora (2013) e Inverno da alma (2011), que revelou Jennifer Lawrence. A produção é assinada por Ed Guiney, que já trabalhou com os astros Colin Farrell e Michael Fassbender respectivamente nos bastante premiados Frank e The lobster. Além disso, o diretor de fotografia é Danny Cohen, o mesmo dos rebuscados Os miseráveis, A garota dinamarquesa e O discurso do rei (pelo qual o fotógrafo ganhou uma indicação). O elenco inclui ainda Joan Allen e William H. Macy, dois atores já indicados ao Oscar.
4 INDICAÇÕES AO OSCAR
Melhor Filme
Melhor Diretor (Lenny Abrahamson)
Melhor Atriz (Brie Larson)
Melhor Roteiro Adaptado (Emma Donoghue, baseada no próprio livro).
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