Moda Moda: entenda a mudança do século e os efeitos que ela provoca Grifes internacionais anunciam nova dinâmica, na qual as peças chegam às lojas imediatamente após os desfiles

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/02/2016 18:26 Atualizado em: 22/02/2016 18:48

As fotos tiradas da primeira fila viralizam na internet e geram desejo imediato de consumo. Fotos: NYFW/Facebook/Reprodução
As fotos tiradas da primeira fila viralizam na internet e geram desejo imediato de consumo. Fotos: NYFW/Facebook/Reprodução

Clássica, popularizada pela francesa Chanel desde na década de 1930, a combinação de preto e branco ganhou as ruas e vitrines de todo o mundo em formato de calça com listras verticais, em 2013. Todos se lembram dessa tendência, alvo de piadas que a comparavam ao personagem Beetlejuice, do filme homônimo dirigido por Tim Burton em 1988. Era verão no Brasil quando as redes de fast fashion difundiram a peça, aposta do inverno 2013, a preços populares.

Enquanto as araras da alta costura colecionavam artigos sem relação com a moda bicolor, presente em todas as esquinas na “vida real.” Três anos mais tarde, a sensação de distanciamento entre as passarelas, as prateleiras e o público está prestes a ser aplacada pelo que especialistas já consideram a revolução do século no consumo da moda. O modelo de negócios “buy now, wear now” (compre agora e vista agora) protagonizou a New York Fashion Week, realizada na semana passada, corroborando formato de apresentação adotado há cerca de dez anos por estilistas pernambucanos.

A estilista Flávia Azevedo é adepta do sistema de consumo imediato desde a criação da marca própria, há oito anos. Foto: Julio Jacobina/DP/DA Press
A estilista Flávia Azevedo é adepta do sistema de consumo imediato desde a criação da marca própria, há oito anos. Foto: Julio Jacobina/DP/DA Press
 Com a mudança, que elimina o intervalo de seis meses entre o desfile das peças e sua chegada às vitrines, as novas coleções estarão nas lojas imediatamente após serem exibidas na catwalk. “Isso impede que as pessoas esqueçam o que viram nas passarelas seis meses antes, algo muito comum. Evita, ainda, que a tendência seja massificada por multimarcas antes mesmo de chegar às prateleiras das próprias grifes”, explica a estilista pernambucana Flávia Azevedo, que aderiu ao formato de consumo imediato há oito anos, ao criar marca própria. Para ela, a chance de adquirir as roupas logo após assistir ao desfile aquece as vendas e possibilita interação imediata entre estilista e consumidor. “Especialmente no Recife, onde sentimos como se houvesse uma única estação, o sistema não fazia sentido. Para me aproximar do público e para reduzir custos, sempre produzi assim, visando o consumo imediato”, endossa a estilista local Eliane Mello.

Durante a New York Fashion Week deste mês, concebida para antecipar a temporada de inverno 2017, a decisão da grife britânica Burberry de aderir ao modelo “buy now, wear now” motivou outros selos a fazerem o mesmo. Michael Kors, Marc Jacobs, Jason Wu, Prabal Gurung, Tom Ford e Joseph Altuzarra também anunciaram mudanças na apresentação das próximas coleções. Gigantes como a francesa Lacoste e a italiana Versus Versace já aderem ao novo formato, paulatinamente, há alguns anos. “Isso afeta diretamente o consumidor brasileiro, recifense, qualquer consumidor. Quem acompanha a moda gosta de novidade, de imediatismo”, opina Ricardo Coller, idealizador do Moda Recife, a semana de moda da capital pernambucana. “Estilistas pernambucanos trabalham nesse formato há cerca de dez anos. O MR, criado há nove, funciona assim desde o princípio. Essa decisão na NYFW atestou que estávamos no caminho certo”, completa.

Agora, o intervalo de seis meses entre os desfiles e as vitrines será subtraído do calendário. Foto: NYFW/Facebook/Reprodução
Agora, o intervalo de seis meses entre os desfiles e as vitrines será subtraído do calendário. Foto: NYFW/Facebook/Reprodução
ESTAÇÕES

Os contornos cada vez mais diluídos entre as estações do ano, divergentes entre os hemisférios do globo, contribuem para a mudança no formato de apresentação das semanas de moda. Tecidos tecnológicos e modelagem polivalente garantem roupas mais versáteis, adequadas a mais de uma estação. “Antes, desfiles de inverno do ano seguinte eram realizados, muitas vezes, no verão. Se perdia o timing, não fazia sentido. Enquanto as modelos suavam, no clima abafado do verão brasileiro, era impossível ver coerência nas peles, nos casacões apresentados nas passarelas”, conta Eduardo Salazar, produtor pernambucano do ramo. Agora, as peças passarão a ser apresentadas em suas temporadas correspondentes.

REDES SOCIAIS

O imediatismo das redes sociais influenciou diretamente as grifes a adaptarem seu calendário. “Essa é a realidade das mídias. A internet e especialmente os blogueiros têm participação nisso. O que é exibido nas passarelas está nas redes sociais imediatamente, e as pessoas querem consumir. A espera não faz mais sentido”, opina o estilista Chico Marinho, que concebeu marca própria, no ano passado, no formato “buy now, wear now.” Para especialistas, o imediatismo da geração das selfies não pode mais ser ignorado. O elenco dos desfiles também muda com isso, a fim de seduzir o público consumidor. Top models são substituídas por celebridades como Kendall Jenner, escalada por Marc Jacobs para a NYFW.

OUTRAS MUDANÇAS

- Coleções sem estações definidas
- Tons neutros, versáteis
- Looks andróginos, que misturam referências masculinas e femininas
- Desfiles montados fora das passarelas, em eventos promovidos pelas grifes ou em formato de invervenção no espaço público

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