Dois filmes que estão em cartaz ao mesmo tempo a partir desta semana são protagonizados por personagens do universo transgênero, que tem conquistado cada vez mais espaço na cultura de massa. Com abordagens completamente diferentes entre si, A garota dinamarquesa e Tangerine contam histórias de pessoas que quebram convenções sociais tradicionais de identidade.
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A garota dinamarquesa é ambientado na Europa da década de 1920, principalmente em Copenhague e Paris. Na época, a transexualidade ainda era um enigma. A artista interpretada pelo ator Eddie Redmayne, que concorre ao Oscar neste ano (e venceu no ano passado com A teoria de tudo), sofre bastante por causa da orientação sexual e chega a procurar médicos e psiquiatras.
Dirigido por Tom Hooper (Os miseráveis, O discurso do rei), o filme divulga uma mensagem positiva sobre o direto de assumir a identidade transexual, apesar de alguns detalhes que podem levar a associações negativas. Uma deficiência de saúde, por exemplo, é apresentada no mesmo momento de um beijo entre a garota dinamarquesa e um homossexual, sem a necessidade da coincidência entre os fatos.
A garota dinamarquesa é baseado na vida real do artista Einar Mogens Wegener, um pintor de paisagens, que aos poucos se transformou na modelo Lili Elbe. Durante o processo de mudança, ela sempre recebeu apoio da esposa, que era uma pintora de retratos, interpretada por Alicia Vikander, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Assim como em Tangerine, a sororidade (expressão usada para definir a fraternidade entre mulheres) e o valor da lealdade entre amigas é um dos temas principais.
Tangerine retrata as personagens com naturalidade no cotidiano da Los Angeles contemporânea, onde elas vivem como querem. São prostitutas e enfrentam algum preconceito em uma ou duas cenas, mas isso não chega a virar o assunto principal da trama. A maioria das pessoas as respeita.
Kitana Kiki Rodriguez e Mya Tailor, que interpretam as protagonistas do filme, não foram indicadas ao Oscar, mas as duas estavam oficialmente inscritas para concorrer respectivamente nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Foi o primeiro caso de candidatura transgênero na história do prêmio. Mereciam indicações. Outro personagem importante é um taxista armênio (vivido Karren Karagulian) que parece estar apaixonado por uma delas, apesar de ser casado com uma mulher que respeita os segredos íntimos do marido.
A garota dinamarquesa é um filme triste e bonito, que também concorre ao Oscar nas categorias de Direção de Arte e Figurino). Tangerine é um filme celebratório, alto astral (com a tristeza apenas em detalhes), divertido e também bonito, com atores principais negros e impressionante direção de fotografia feita com um iPhone. Vistos em conjunto, eles mostram que o mundo ainda tem muito o que melhorar (como mostram recentes ondas de intolerância e conservadorismo), mas já evoluiu bastante.
A GAROTA DINAMARQUESA
Indicado a 4 Oscars
Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino
Televisão
A atriz norte-americana Laverne Cox tornou-se, em 2014, a primeira artista transgênero a ser indicada ao Emmy Awards (considerado o Oscar da televisão norte-americana) por sua atuação na série Orange is the new black. No seriado, ela interpreta a personagem Sophia Burset, presidiária condenada por fraudar cartões de crédito para custear uma operação de troca de sexo. Na cadeia, ela administra um salão de beleza.
Pernambuco
O filme pernambucano Boi neon, que está em cartaz no São Luiz e no Cinema do Museu, também tem uma atriz trans no elenco. É a uruguaia Abigail Pereira, bastante famosa no seu país, principalmente na televisão. Ela participa da sequência do leilão de cavalos e contracena com os atores Juliano Cazarré e Carlos Pessoa. Abigail, que foi ao Festival de Veneza representar o longa-metragem junto com o cineasta recifense Gabriel Mascaro, também é cantora e bailarina e atualmente vive em Miami (os Estados Unidos concederam a ela documentos de mulher).
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